Desmatamento é ruim para o agronegócio, diz ex-ministro Roberto Rodrigues

Entrevistado no Canal Livre, o coordenador do FGV Agro defendeu o combate a ilegalidades

Da Redação, com Canal Livre

Ex-ministro Roberto Rodrigues em entrevista ao Canal Livre da Band
Canal Livre

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do FGV Agro, defendeu em entrevista ao Canal Livre da Band deste domingo (12), o fim do desmatamento e garimpo ilegais, grilagem e outros crimes como forma de melhorar a capacidade comercial do Brasil na exportação de alimentos. 

Segundo ele, a ausência de títulos de posse a produtores que migraram para o Interior há décadas incentiva o desmatamento. 

O ex-ministro destacou que não é necessário desmatar para ampliar a produção brasileira. Um levantamento da UFG (Universidade Federal de Goiás) mostra que o País tem de 80 a 100 milhões de áreas de pasto degradadas. Se 30 milhões desses espaços fossem recuperados com manejo adequado, segundo o estudo, a produção brasileira de alimentos poderia dobrar. 

“Sem desmatar nada”, pontua. 

Em conversa com os jornalistas Rodolfo Schneider, Fernando Mitre e Marcio Campos, reiterou que o agronegócio brasileiro não depende de desmatamento para avançar e que hoje apenas 7,6% do território nacional é ocupado pela agricultura.

Segundo ele, há diversas alternativas e abundância de recursos. Parte da solução que evita o desmatamento, aponta, é a elaboração de políticas públicas de crédito para a recuperação. 

“A recuperação é um processo tecnológico. Implica em acabar com a erosão, acabar com aquelas ‘valetas’. Tem um custo de mecanização. Tem que recuperar o terreno com calagem. As terras brasileiras no cerrado são ácidas. Aqui tem uma tragédia histórica: uma das maiores mentiras do Brasil, perpetrada por Pero Vaz Caminha. Ele chegou no Sul da Bahia, naquela terra fértil, chovendo sempre, e disse ‘nessa terra em se plantando tudo dá’. Ele não sabia o que era cerrado. Mas, basicamente, o cerrado precisa de correção, adubação, curva de nível, combater a erosão do solo, a perda do solo, a erosão do solo. Isso tem custo alto, de modo que precisa de crédito para isso”. pontua.

Por outro lado, pondera o ex-ministro, a evolução só é possível com a iniciativa do produtor. “A tecnologia é a alavanca do progresso. Mas se não tiver empreendedorismo, coragem, decisão do produtor rural, não fazia nada”, destaca.

Rodrigues destaca, no entanto, que o desmatamento ilegal, o garimpo ilegal, incêndios criminosos e invasões de terra são uma realidade e que prejudicam a imagem do País para exportação. 

“Nós podemos chegar a ser campeão mundial em segurança alimentar. Podemos aumentar a produção, seja recuperando área degradada, seja com desmatamento legal que foi feito e foi abandonado porque a terra é fraca na Amazônia. O que falta?”, questiona.

Segurança alimentar

O coordenador do FGV Agro lista cinco carências que impedem o Brasil de ser o “campeão mundial em segurança alimentar: Infraestrutura / logística; longevidade comercial; política de renda no campo; tecnologia; e combate a ilegalidades. 

“Primeiro, infraestrutura logística. A agricultura brasileira até os anos 1970 era costeira. A ciência domou o cerrado que foi conquistado, por gaúcho, catarinense, paranaense, paulista, mineiro. Foram lá plantar o Maracanã onde vai ser disputada a final da segurança alimentar. Foi gente, tecnologia e ciência. Só que a estrada não foi, a ferrovia não foi, o porto não foi. O segundo ponto: comercial. Nós precisamos ter acordos comerciais que garantam o mercado mais à frente”, sugere.

Ele cita necessidade de política de renda no campo e avanço das tecnologias, mas dá destaque especial ao combate às ilegalidades. “Têm que ser combatidas. Tem que acabar com desmatamento ilegal. Não tem cabimento. O agricultor não quer saber disso. Quem desmata ilegalmente não é agricultor. É madeireiro, aventureiro. Incêndio criminoso, idem. Garimpo ilegal. Grilagem de terra. Não pode admitir um negócio desse”, pontua. 

O ex-ministro afirma que a falta de regularização fundiária ao invés de combater acaba incentivando o desmatamento. “Tem famílias levadas à Amazônia, pelo governo, que até hoje não tem o título de posse da propriedade. Sem título, não tem crédito rural, que é oferecido como garantia. O que ele faz: desmata, para sobreviver. Tem que resolver essas ilegalidades todas, para que a imagem nossa, que é de uma agricultura sustentável de fato, triunfe perante essa minoria que atrapalha”, afirma. 

Preços dos alimentos

A crise na distribuição de fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas e insumos em geral, segundo Roberto Rodrigues, começou antes do impacto da guerra da Rússia na Ucrânia. 

“Com a pandemia, várias cadeias de produção foram rompidas. Ficou faltando nutrientes para fertilizantes, peças para máquinas agrícolas, chips para computadores. Houve um desmanche para a cadeia produtiva, no processo global. A matriz costumava pegar uma peça na Alemanha, outra na Índia, outra na Rússia, e assim por diante. Esse processo passou por um colapso. Houve falta de navio, de caminhão, contêiner”, lembra. 

Roberto Rodrigues explica que os governos começaram a mudar seus padrões de produção e consumo. “Vários países que não tinham produção própria suficiente para alimentação correram ao mercado em busca de segurança alimentar. E essa é a única garantia de estabilidade política e social de uma nação. A Primavera Árabe está perto para a gente lembrar. Costumo brincar: um homem com fome é bravo. Mas uma mãe com os filhos com fome derruba governo”, ironiza. 

O coordenador do FGV Agro conclui que os preços subiram por uma soma de fatores, que foram agravados pela guerra. “A demanda explodiu. A oferta não acompanhou e os preços subiram, em dólar. Soja, milho, carne, açúcar dobraram de preço, em 2020, 2021 e 2022. Governos e produtores rurais no mundo inteiro resolveram plantar mais, para abastecer o mundo. Plantar mais pede mais adubo, mais defensivo, mais semente, mais máquina. Com as cadeias de produção rompidas, os insumos também subiram de preço. Aí veio a guerra”, explica. 

Guerra

O conflito na Europa trouxe, entre outras gerais, duas consequências para o setor de alimentos. “A Ucrânia é um grande fornecedor de trigo e milho para a Europa e para várias partes do mundo. E a Rússia também, mais trigo do que milho. A Ucrânia é campeã de milho para a Europa. E a Rússia nos fornece alguns fertilizantes, basicamente potássio e nitrogênio, que já estavam caros porque a Belarus estava impactada pela União Europeia e não pode exportar nada. Então, os preços subiram muito, houve inflação de alimentos e insegurança alimentar em várias países, sobretudo”, ressalta.  

O Brasil importa 85% dos fertilizantes utilizados no País. Noventa e cinco por cento do potássio vem de fora. 

A ministra Teresa Cristina, da Agricultura, segundo o ex-ministro, se antecipou e buscou pelo mundo compensar a perda. “Conseguiram abastecer quase tudo que nós precisávamos. Vai ter uma falta entre 5% e 8% de fertilizantes”, pondera. 

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