A PRF (Polícia Rodoviária Federal) confirmou ter encontrado um corpo no deslizamento de terra que interditou um trecho da BR-376. em Guaratuba, no Litoral do Paraná, próximo à divisa com Santa Catarina, na noite de segunda-feira (28). A vítima foi localizada por volta das 22h30, ainda sem identidade divulgada. 

O deslizamento de terra bloqueou os dois sentidos do km 669,5 da rodovia que é a principal ligação do Paraná com os outros Estados do Sul do País. Dez carros e cinco caminhões foram arrastados e soterrados com a enxurrada de terra. O trecho de Serra do Mar tem um morro de um lado e um penhasco de outro. 

As buscas foram interrompidas durante a madrugada por causa da instabilidade do tempo e foram retomadas nesta terça-feira (29) de manhã. 

O coronel Fernando, da Defesa Civil do Paraná, informou no início da tarde desta terça-feira (29), em coletiva de imprensa, que o número de vítimas pode aumentar. "Nós temos alguma projeção que já foi relatada pelo comandante do Corpo de Bombeiros, existe uma informação visual de alguns caminhões e veículos. Obviamente, esse número pode aumentar. Nós temos uma grande massa de terra sobre a pista e não temos condições de precisar quantos veículos ou quantas pessoas estavam nesses veículos", afirmou.

O segundo deslizamento, que foi mais grave, aconteceu por volta das 19 horas de segunda, durante uma forte chuva que atingia a região, de acordo com a concessionária Arteris Litoral Sul, que administra o trecho. 

Ocupante do veículo Virtus preto que foi atingido pelo deslizamento, a moradora de Paranaguá Letícia da Cruz dos Santos estava com os pais, de 71 e 72 anos, respectivamente, e com um filho de 4 anos, quanto teve o carro arrastado na BR-376, no sentido Curitiba. Ela abandonou o veículo perto da área do desmoronamento e conta que todos os ocupantes estão ilesos, apenas com escoriações leves.

“Nosso carro foi um dos últimos a ser pego no deslizamento. Um tronco de árvore que caiu empurrou nosso carro para cima e nós batemos em um caminhão que vinha do outro lado. Só tivemos escoriações. Eu, minha mãe e meu pai, de 71 e 72 anos, e meu filho de quatro anos. A gente conseguiu sair pela porta do motorista, com o carro todo coberto de areia. Um ônibus da Viação Garcia acolheu a gente e o motorista deixou a gente entrar. Estávamos todos molhados, ensopados, mas viemos para Curitiba, para casa de parentes”, contou em entrevista ao Portal da Band.  

"Só vi morro de areia que ficou e dois carros soterrados e um caminhão tombado. Na hora que caiu a gente pegou a borda da estrada, a areia entrou e levantou. Nosso carro foi um dos últimos do deslizamento. Além da terra, caiu árvore e isso foi levantando o carro. Eu vim descalça, sem documento, sem roupas. Vou comprar roupas para os meus pais agora. Chegamos às duas da manhã. Meu celular ficou no carro, junto com todas as nossas coisas, só consegui resgatar o celular do pai”, diz.

O carro da família fazia parte do comboio que, minutos antes, estava parado no bloqueio nas imediações do posto da PRF, e havia sido liberado a seguir, depois das 18h de segunda (28). 

Luzes de celular

Ao longo da madrugada, testemunhas disseram que viram “luzes de celular” no barranco que margeia a rodovia no trecho de Serra do Mar. Pelo menos cinco pessoas foram resgatadas, de acordo com o Corpo de Bombeiros. 

A Polícia Científica do Paraná disponibilizou um telefone para atendimento de familiares de vítimas do deslizamento da BR-376. As famílias poderão entrar em contato pelo (41) 3361-7242, fornecendo informações que possam auxiliar a polícia a identificar as vítimas.

Em entrevista à rádio BandNews FM, o tenente Rocha, do Corpo de Bombeiros do Paraná, confirmou que equipes da concessionária trabalhavam no trecho no momento em que os veículos foram soterrados.

“Foram dois deslizamentos. Inclusive, nesse mais grave, havia uma equipe trabalhando para remoção dos materiais da pista para liberação, quando houve o incidente. O segundo deslizamento atingiu vários veículos, incluindo caminhões, veículos de grande porte, e eles foram lançados para fora da pista. Atingiu tanto a pista no sentido litoral, quanto a pista no sentido Curitiba”, explica.

Por volta das 21 horas, a PRF informou que as equipes providenciaram pontos de retorno para retirar os veículos que já estavam na fila.  

O prefeito de Guaratuba, Roberto Justus, estava na BR-376 no momento em que houve a queda de barreira. Em entrevista ao Primeiro Jornal, da Band, ele disse que estava com o motorista e que por pouco o veículo em que estavam não foi atingido.  

“Estamos vivos por um livramento de Deus. Não nos machucamos, mas muita gente deve ter se machucado porque tinha muita pedra e muita terra que caíram em cima de todos os carros”. 

Segundo a Arteris Litoral Sul, concessionária que administra a rodovia, não há previsão para liberação da via. “A rota alternativa indicada é via BR-116 (Curitiba) e BR-470 (Navegantes) – com 500 km de extensão (a rota normal interrompida tem aproximadamente 70 km de extensão)”, recomenda a concessionária. 

A Arteris Litoral Sul afirma que presta suporte com profissionais de engenharia, obras e resgate – além de equipamentos pesados como máquinas retroescavadeira, possibilitando que os trabalhos de emergência prossigam com segurança no local – sob coordenação do Corpo de Bombeiros.

“O deslizamento ocorreu na encosta na margem da pista sul – e se estendeu para a pista norte – atingindo veículos que transitavam pelo local. Agora, equipes de emergência dos dois estados, incluindo Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Rodoviária Federal atuam no trecho atingido”.

Governadores

Por meio do Twitter, o governador de Santa Catarina Carlos Moisés (Republicanos) informou que equipes de bombeiros do Estado foram mobilizadas para dar apoio à ocorrência, que fica perto da divisa com o Paraná. O governador eleito do Estado, Jorginho Mello (PL), também se manifestou na noite de segunda. 

Último a se manifestar, o governador do Paraná, Estado onde ocorreu o deslizamento, Ratinho Junior (PSD) publicou no Twitter no início da manhã desta terça-feira (29) que equipes dos bombeiros, Defesa Civil e policiais foram enviadas para os trabalhos de resgate. 

Alerta

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia, segue com alerta de acumulado de chuva para esta terça-feira (29), que pode chegar aos 100 milímetros na região metropolitana de Curitiba e no Litoral do Paraná e Santa Catarina.

Segundo a Defesa Civil Nacional, a região metropolitana de Curitiba, o Vale do Itajaí, a Grande Florianópolis, o sudeste paranaense, norte e sul catarinense e a Região Serrana e o nordeste do Rio Grande do Sul estão entre as áreas com maior possibilidade de desastres.

Diante dessa previsão, o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad) opera com equipes de plantão para acompanhar o registro de qualquer ocorrência significativa e já comunicou as defesas civis estaduais do risco.

O coordenador-geral de Gerenciamento de Desastres da Defesa Civil Nacional, Tiago Molina Schnorr, pede para que a população fique atenta às informações oficiais e aos locais onde serão divulgados os alertas, além de adotar medidas de autoproteção.

“É fundamental que a população adote algumas medidas de prevenção, como desligar aparelhos elétricos e quadro geral de energia. Em caso de enxurrada, colocar documentos e objetos de valor em sacos plásticos. Já em situação de grande perigo confirmada, é importante procurar abrigo e evitar permanecer ao ar livre”, alertou.

Sequência de deslizamentos

Além dos bloqueios na BR-376, quedas de barreira causam interdição de outras quatro rodovias no Paraná. As interdições afetam a BR-116, na saída para São Paulo; a BR-277, entre Curitiba e Paranaguá; a Estrada da Graciosa, que liga a capital a Antonina (PR); e as ligações entre Paraná e Santa Cataria pelas BRs-376 e 101.

As ocorrências afetam também o movimento na rodoferroviária de Curitiba. Viagens para o litoral do Paraná e para Santa Catarina estão suspensas.

Com o fechamento da BR-376, o acesso de Santa Catarina ao Paraná por via terrestre fica comprometido, já que uma das alternativas, a BR-277, entre Matinhos (PR) e Curitiba, também está parcialmente interditada há um mês, com risco de novos deslizamentos. Uma pedra ocupa parte da via no km 42 e ainda não foi retirada porque o trecho está sem concessionária e o governo não conseguiu realizar a remoção. 

A PRF pediu que a população aguarde antes de decidir por caminhos alternativos. “Caminhos alternativos para Santa Catarina devem ser evitados na noite de hoje. Inclusive pela 277, com a utilização do Ferryboat, devido ao ponto onde já tivemos o deslizamento no quilômetro 42, no mês passado. O grande volume de chuvas pode causar deslizamentos em regiões de serra”. 

A PRF informou às 9h25 desta terça (29) que em São José dos Pinhais (PR), na BR 277, no km 60, ocorreu interdição, no sentido litoral (decrescente), devido a outra queda de barreira no km 41, a um quilômetro de onde a pedra interdita parcialmente a rodovia. O fluxo sentido Curitiba flui em apenas uma faixa.

Ás 10h20, a PRF informou que no km 40, na BR-277 em Morretes (PR), um trecho foi totalmente interditado, por causa de um novo deslizamento. Uma equipe DER (Departamento de Estradas e Rodagem) fechou o retorno do km 41 para evitar circulação de veículos em área de risco. 

Entre Curitiba e São Paulo

Em Campina Grande do Sul (PR), o km 58 da BR 116, que liga São Paulo ao Paraná, teve interdição total, em virtude de desmoronamento de terra no sentido Curitiba, com liberação de uma faixa às 10 horas. No km 51, sentido São Paulo, também tem interdição parcial. 

Riscos

O deslizamento mais grave é em Guaratuba (PR), na BR 376, km 669, onde o bloqueio é total, em ambos os sentidos, sem previsão de liberação, e onde ocorre o resgate de possíveis vítimas arrastadas.

Os primeiros de deslizamentos de terra sobre a pista da BR-376 em Guaratuba foram registrados antes das 16 horas de segunda-feira, quando foi feita uma interdição total da rodovia, no sentido Santa Catarina. Por volta de 18 horas, uma faixa foi liberada. 

Questionada, a PRF ainda não confirmou se houve avaliação técnica de algum especialista nesse tipo de desastre natural, para que a liberação do fluxo de veículos fosse executada. 

Vídeos e imagens compartilhados nas redes sociais mostram a dimensão do deslizamento. Um motorista afirma em um deles que, por pouco, não foi atingido e que havia carretas embaixo da terra. Outro descreve a situação como "cena de guerra". 

Várias forças de segurança e de resgate do Paraná Santa Catarina estão atuando na ocorrência. 

Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar, afirmou que várias equipes estão se deslocando ao local e que no "há possibilidade de vítimas em veículos de portes diferentes soterrados". 

Atualização em tempo real da PRF-PR