O deputado bolsonarista Luis Miranda (DEM-DF) diz que seu irmão, que é servidor do Ministério da Saúde, continuou a sofrer pressões para liberar a importação da vacina Covaxin mesmo depois de avisar Bolsonaro sobre supostas irregularidades.
Miranda se encontrou com o presidente no sábado, 20 de março, para alertar o mandatário e relata que mesmo após a denúncia, a pressão de membros do Ministério da Saúde teria continuado. Foi então que ele tentou novo contato com um assessor da presidência. "Na segunda-feira pressão, na terça-feira eu mando (mensagem) falando 'o que foi que eu fiz? Errei com o presidente? É algo que eu fiz?' E aí ele responde, 'não deputado, é porque tem muitas demandas, mas nós estamos cuidando'", contou ele.
O parlamentar informa que desde então tentou novos contatos com Bolsonaro e que ele teria recomendado o agendamento com o chefe de gabinete do Planalto, mas que não conseguiu novo encontro.
Ele disse que ainda acredita em Bolsonaro e numa possível investigação ocorrendo sem que ninguém saiba. “Seria uma decepção enorme, não só para mim, mas para milhões de brasileiros caso ele não tenha dado providência a essa denúncia”, afirmou.
O deputado e o irmão vão ser ouvidos nesta sexta-feira pela CPI da Pandemia. Ele disse que há documentos que comprovam as irregularidades.
O contrato foi celebrado em 25 de fevereiro com a Bharat Biotech, com a Precisa Medicamentos como intermediária. O acordo foi feito mesmo sem a aprovação da vacina Covaxin pela Anvisa. A agência aprovou a importação excepcional de 4 milhões de doses no dia 4 de junho, mais de dois meses depois do encontro entre Miranda e Bolsonaro.
A Procuradoria da República do Distrito Federal abre uma investigação preliminar para apurar a compra de doses da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde por um preço 1.000% mais caro do que aquele que o próprio fabricante, o laboratório Bharat Biotech, anunciava seis meses antes.
Seria uma decepção enorme, não só para mim, mas para milhões de brasileiros caso ele não tenha dado providência a essa denúncia
Em agosto de 2020, um telegrama da embaixada brasileira em Nova Délhi dizia que o imunizante produzido pelo laboratório Bharat Biotech custaria US$ 1,34 a dose – R$6,67 convertidos para o valor atual do real.
Em 2021, no entanto, o Ministério da Saúde firmou contrato com o preço de US$ 15 por dose – equivalente a R$ 74,64, a mais cara das seis vacinas compradas até aqui.
A aquisição da Covaxin foi intermediada pela Precisa Medicamentos, que já foi alvo do Ministério Público Federal sob acusação de irregularidade na venda de testes de Covid-19.
No contrato entre a Covaxin e o Ministério da Saúde, havia sido estabelecida a compra de 20 milhões de doses do imunizante pelo preço de R$ 1,6 bilhão.