A técnica de enfermagem apontada como responsável pela aplicação de vacinas contra a covid-19 para adultos em mais de 40 crianças em Lucena, na Paraíba, disse em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que foi orientada a vacinar todas as pessoas que se apresentassem, “pois a validade das vacinas da Pfizer estava para vencer".
No depoimento, a profissional, que foi afastada da função após o caso, afirmou ainda ter recebido a ordem do setor de Imunização da Secretaria de Saúde do município.
Após o caso, o MPF abriu um procedimento para apurar responsabilidades pela aplicação indevida da vacina em crianças. A técnica, que não teve o nome relevado, prestou depoimento, por meio de videoconferência, para a procuradora federal Janaína Andrade de Sousa e a promotora federal Fabiana Maria Lobo da Silva.
A profissional de Saúde disse que foi contratada pela prefeitura no final de novembro do ano passado para “auxiliar médicos e ser vacinadora de crianças, adolescentes, adultos e gestantes” na aplicação de todas as vacinas de rotina, mas que, depois, em dezembro, passou a aplicar também vacinas contra a covid-19.
De acordo com o depoimento, as aplicações indevidas em crianças ocorreram nos dias 29 de dezembro de 2021 e 07 e 11 de janeiro na Unidade Básica de Saúde (UBS-5), localizada na Estiva do Geraldo, e em um assentamento chamado Outeiro de Miranda, na zona rural da cidade, gerenciado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A profissional contou que estava sozinha na vacinação “sem coordenadora, enfermeira, médica ou dentista, acompanhada somente de um Agente Comunitária de Saúde (ACS).
A técnica não soube pontuar quantas vacinas aplicou e ressaltou que não sabia que havia imunizantes já vencidos e que não recebeu da Secretaria de Saúde informações sobre as diferenças nos volumes para adultos e crianças.
Outros depoimentos
A profissional informou que, durante a vacinação no assentamento, uma ACS foi quem preencheu os dados dos cartões de vacinação, tendo ela apenas assinado e aplicado a vacina. Ainda de acordo com a técnica, a ACS levou a filha de cinco ano para vacinar.
A ACS também prestou depoimento ao MPF e afirmou que preencheu os cartões, devido à técnica de enfermagem estar sozinha. Ela disse que anotava as datas de nascimento das crianças, mas que não sabe informar se alguma criança menor de cinco anos recebeu o imunizante.
A agente também informou não saber que a vacinação de crianças entre cinco e 11 anos ainda não estava liberada e que só soube da indevida aplicação do imunizante após ter visto um vídeo de uma das mães, relatando a situação dos filhos.
A mãe também falou com o MPF e disse ter levado os dois filhos, um de cinco anos e outro de sete anos para vacinar, após ter recebido comunicação da ACS via grupo de WhatsApp. Depois de ter sido vacinada, a criança mais velha apresentou reações adversas como tontura, fraqueza, por dois dias.
Procurada, a prefeitura do município não se pronunciou.