Os períodos de maior incidência da dengue são no começo e fim do ano, quando chove mais. Ainda assim, as consequências da doença podem ser sentidas por mais tempo. Um estudo feito por um grupo de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) apontou que quem já teve dengue tem o dobro de chances de apresentar sintomas em caso de contaminação por covid-19. A pesquisa foi feita com pouco mais de 1.200 moradores de Mâncio Lima, no Acre.
“Uma possibilidade, por exemplo, é que ter tido dengue altera o modo como nosso sistema imune responde a infecções. Uma segunda possibilidade é que esses indivíduos que já tiveram dengue, por algum motivo, são indivíduos expostos a maiores cargas virais de Sars-Cov-2. A gente ainda não tem dados que permitam distinguir claramente entre uma e outra hipótese. E isso é o que a gente está fazendo agora”, explica Marcelo Ferreira, professor e pesquisador da USP.
O estudo também indica que o risco de apresentar sintomas aparece inclusive em quem teve dengue há algum tempo.
Até o mês passado, o estado de São Paulo registrava mais de 60 mil casos de dengue confirmados.
Em setembro do ano passado foi divulgado um estudo de outro grupo sugerindo que as áreas que registravam muitos casos de dengue eram relativamente pouco afetadas pela covid-19. Partiu daí o estudo, mas o que se viu parece apontar no sentido oposto.
“Como nós tínhamos amostras de sangue da população de Mâncio Lima coletadas antes e após a primeira onda da pandemia, decidimos usar o material para testar a hipótese de que a infecção prévia pelo vírus da dengue conferia algum tipo de proteção contra o SarS-cov-2. Mas o que vimos foi exatamente o oposto", relatou Ferreira à Agência Fapesp.