Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (15), a delegada da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa do Paraná Camila Cecconello disse que não há provas de que a motivação para o assassinato do líder petista Marcelo Arruda pelo agente penal federal bolsonarista Jorge Guaranho tenha sido "crime de ódio" ou “crime político”.
Guaranho será indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe e perigo comum. Depois de ter sido baleado em reação ao ataque, ele está internado em uma unidade de terapia intensiva, em estado grave, porém estável, sob custódia da polícia.
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), José Guaranho matou o guarda municipal e tesoureiro municipal do PT Marcelo Arruda, em sua festa de aniversário de 50 anos, cujo tema era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores. O crime aconteceu no dia 10 de julho, em Foz do Iguaçu, Oeste do Paraná.
"Para enquadrar em crime político, tem alguns requisitos, como impedir uma pessoa de exercer seus direitos políticos. É complicado dizer que foi motivado, ou que a causa foi, que esse crime ocorreu porque esse autor queria impedir o exercício dos direitos políticos daquela vítima. A gente analisa que, quando ele chegou ao local, ele não tinha a intenção de efetuar os disparos, mas que ele tinha intenção de provocar", disse.
A delegada também descartou enquadrar o caso como crime de ódio, motivado pelo preconceito, selecionado em função de esta pertencer a um certo grupo. “Difícil nós falarmos de crime de ódio”, afirmou.
“Impulso”
De acordo com a investigação, não há provas de que o crime tenha sido premeditado. "É complicado dizer que ele premeditou, porque a primeira vez que ele vai ao local, ele vai para provocar a vítima. Quando ele retorna, parece que é algo mais movido pelo impulso do que algo que ele premeditou", disse.
De acordo com a delegada, Guaranho deixa claro que o alvo é Marcelo. "Ele diz ‘sai da frente, sai da frente’, meu problema é com ele [Marcelo]", relata.
Reconstituição
Cecconello explica que uma terceira câmera que tem no Clube Social Aresf (Associação Recreativa e Esportiva da Segurança Física) "foi colocada após os fatos, até por conta do que havia ocorrido" e que não há outras imagens da ocorrência.
Segundo a investigação, Guaranho estava em um churrasco fora da associação, em um churrasco de futebol, e viu imagens da festa por meio do celular de uma pessoa que estava na mesma confraternização.
A delega afirma que a pessoa que tinha acesso às imagens no celular costumava checar periodicamente os registros.
"O agente penal estava em um churrasco do futebol, comemorando e ingerindo bebidas alcoólicas. Lá ele tomou conhecimento que estava havendo uma festa temática do partido dos trabalhadores, em uma associação, em um clube, ali próximo. Ele tomou conhecimento disso através de uma outra testemunha que estava no churrasco. Essa testemunha tinha acesso às câmeras de segurança desse clube onde a vítima estava fazendo sua festa", disse.
"No momento em que ele acessa as imagens, o autor dos fatos está ali próximo e vê essas imagens da festa temática. Segundo essas testemunhas, o autor não comenta nada e continua nesse churrasco", conta a delegada.
Jorge Guaranho, então, “sai acompanhado de uma mulher e uma criança pequena e se dirige até a associação aresf onde estava ocorrendo a festa”.
Depois de Guaranho provocar os integrantes da festa com gritos e músicas exaltando Bolsonaro, segundo a delegada, Marcelo Arruda joga um punhado de terra no carro do agressor. "A vítima pega um punhado de terra na entrada da associação e joga. Após isso, o agente penal saca a arma e mostra", diz.
"A esposa do agente penal relata que neste momento fica muito nervosa, que foi atingida pela terra e que o bebê também foi. Está chorando, nervosa e pede para ele ir embora, e o agente penal, o autor, vai embora, sai do local e vai para sua casa", relata a delegada.
Depois, Guaranho teria dito que se sentiu humilhado e decidiu retornar. "Segundo as investigações, o agente penal teria dito para a esposa 'isso não vai ficar assim', 'ele nos provocou, nos humilhou, eu vou retornar'. A esposa pede encarecidamente que ele não retorne, para essa associação, para a Aresp, porém, o agente penitenciário resolve retornar. Segundo os relatos, nesse momento, as pessoas presentes ali na festa ficaram assustadas, viram que o autor estava armado, não sabiam que se tratava de um policial penal. Então, a vítima vai até o carro e pega sua arma", diz.
O policial penal teria ameaçado o porteiro da associação. “Outras pessoas sobem até a portaria da Aresp e pedem para que o porteiro feche o portão, com medo que o autor retorne. O autor retorna logo depois, o portão está fechado, porém, segundo as declarações das testemunhas, tenta ele mesmo abrir o portão. Ele mesmo abre o portão, é interpelado pelo porteiro, o caseiro do clube, e o autor acaba falando: 'sai da frente, o problema não é com você, eu vou entrar, e acaba entrando dentro da associação”, diz a delegada.
As agressões ao assassino do tesoureiro do PT também serão apuradas, segundo a delegada. Os golpes sofridos por Guaranho depois de ser baleado, segundo a delegada, serão investigados em uma nova etapa. A testemunha disse que “chutou a arma para tirar a arma do autor, mas isso nós vamos detalhar depois”, disse.