Crise humanitária: milhares de refugiados fogem de conflitos na Etiópia

Refugiados: milhares fogem dos conflitos na Etiópia

Yan Boechat, Jornal da Band

O continente africano vive uma nova crise humanitária. São milhares de pessoas fugindo de conflitos armados na Etiópia em busca de abrigo no Sudão. O repórter Yan Boechat esteve na fronteira entre os dois países e ouviu relatos dramáticos de quem espera por um destino num campo de refugiados. É o que você na primeira reportagem da série especial "Rota de Fuga”, do Jornal da Band (assista acima).

Eles chegaram de repente. Primeiro às centenas. Logo aos milhares. Em poucas semanas, mais de 60 mil etíopes haviam cruzado esse rio de águas claras e rápidas que divide a Etiópia do Sudão. Fugiam da morte. Mulheres, homens, velhos, crianças. 

Do lado de lá da fronteira, eram agricultores, professores, engenheiros, aposentados. Aqui, ganharam uma nova identidade. Genérica, coletiva, que pouco diz sobre o passado e revela muito sobre o futuro: são refugiados. 

“Nós estamos com fome, com muitos problemas. Nós somos tigrinos. Viemos para cá para salvar nossas vidas, mas não estamos conseguindo. Não há nem água limpa aqui”, relata um refugiado. 

A fuga da morte nas terras alta de Tigré, no norte da Etiópia, não significa vida fácil aqui nas savanas do Sudão. A mais nova crise humanitária africana castiga os sobreviventes de uma história que insiste em se repetir como tragédia. 

O diretor de um campo, que deveria ser apenas um campo transitório próximo da fronteira, reconhece que a situação é crítica. 

"O primeiro problema aqui é abrigo, não temos abrigo para todos. Também não há comida suficiente e temos sérias questões de saúde. As pessoas não saem daqui e há novos refugiados chegando. As latrinas estão cheias. Nós tivemos que fechá-las. A organização mundial da saúde agora veio para abrir novas latrinas, mas ainda não é suficiente”, explica Yacoub Mohamed.

Muitas pessoas estão vivendo em abrigos improvisados. A ONU não tem tido a capacidade de fornecer barracas e alojamento pra todas as pessoas. 

Só em um ponto de fronteira, há mais de 20 mil etíopes aguardando transferência. Em outros campos instalados em uma região seca e quente do leste do Sudão, estão espalhados outros 35 mil refugiados. 

Com tantas dificuldades, com tanta escassez, com tanto improviso, vários tipos de doenças encontram terreno fértil para tornar a vida dos refugiados ainda mais dura. 

"Temos um número grande de pacientes, cerca de 200 por dia. Com as chuvas chegando, estamos prevendo um surto de cólera aqui no campo”, explica Milly Uonbugo, médica do Saúde sem Fronteiras. 

Antes da cólera, há o temor de que a covid-19 já esteja se espalhando pelos campos. 

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