As quatro crianças encontradas pelo Exército da Colômbia após passarem 40 dias perdidas na mata da Floresta Amazônica pertencem à etnia uitoto-murui. Elas viajavam com a mãe e outros dois adultos. O acidente aconteceu no dia 1º de maio. O voo faria o trajeto entre Caquetá e San José del Guaviare, uma das principais cidades da Amazônia colombiana.
A família indígena morava na região de Aracuára, próxima ao Rio Caquetá. As crianças encontradas com vida são Lesly Mucutuy, de 13 anos; Soleiny Mucutuy, de 9 anos; Tien Mucutuy, de 4 anos e Cristin Mucutuy, de 1 ano. A mãe, Magdalena Mucutuy, o piloto e outro adulto que estavam na aeronave morreram no acidente. Eles foram levados a um hospital militar em Bogotá.
As autoridades colombianas acreditam que as crianças sobreviveram porque estavam no fundo da aeronave, que bateu com o bico no chão.
Segundo dados da Organização Nacional Indígena da Colômbia (Onic), os uitotos não passam de pouco mais de 6,4 mil indígenas espalhados pela região amazônica.
‘Filhos do tabaco’
Conhecidos como “filhos do tabaco, da coca e da mandioca doce”, os uitotos também são chamados de Muina Murui. Witotos, Huitotos, Murui (povo do oeste), Muinane (povo do leste), Mi-ka, e Mi-pode e os idiomas nativos são bue, mika, mipode e minika.
Eles vivem nos departamentos (estados) colombianos de Amazonas, Pucamayo e Caquetá. No estado do Amazonas vivem nos rios Caquetá, Putumayo, Igará-Paraná e Cará-Paraná. No departamento de Putumayo estão localizados no curso médio do rio Putumayo, a oeste da Reserva Predio Putumayo. Há também uma população de uitotos no Peru e menos de 84 indígenas no Brasil segundo levantamento de 2014.
Os uitotos inicialmente habitavam uma grande área do Trapézio Amazônico, que corresponde ao extremo sul do departamento colombiano do Amazonas. Tem o formato de uma península encravada entre o Peru e o Brasil. Atualmente eles estão localizados em um território menor, principalmente na Amazônia colombiana.
Um censo realizado em 2005 registrou 6.444 pessoas como pertencentes ao povo Uitoto, o que corresponde a 0,5% da população indígena da Colômbia.
Dispersão
Até o início do século XX os uitotos eram considerados um povo invisível, sem contato com o homem branco. Com o início da exploração da borracha e da cinchona (usada para fabricação de remédios contra a malária), as terras foram invadidas por seringueiros e o povo uitoto começou a se dispersar e ir para regiões mais afastadas de sua origem.
A exploração da madeira a partir da década de 1940 também afetou a população dos uitotos. Somente a partir da segunda metade do século a etnia começou a se recuperar.
Os uitotos realizam atividades como agricultura, caça, pesca e coleta de frutas silvestres. Também é comum eles se reunirem para uma tarefa coletiva, como derrubada de árvores da floresta. “Os homens se encarregam das tarefas que exigem maior esforço físico, como pesca e caça, as mulheres se encarregam dos afazeres domésticos, cuidados com os filhos e na comunidade com avós e jovens se encarregam da manutenção da fazenda”, explica a Onic.
Os Uitoto realizam ritos de coleta de amendoim, plantio e caça. Suas comemorações são a ressurreição, o dia de seu padroeiro São Rafael, 20 de julho, e o Natal.