Criança resgatada dos braços do pai em escombros morre após três dias na Síria

Grupo que fez o resgate após terremotos em 6 de fevereiro explicou contexto da tragédia

Narley Resende

O grupo Capacetes Brancos, coletivo de socorristas voluntários que se tornaram conhecidos por resgates nas zonas controladas pelos rebeldes no Norte da Síria, confirmou nesta segunda-feira (27) à reportagem da Band a origem de um vídeo que viralizou entre brasileiros na internet nesse fim de semana. As imagens mostram o resgate de vítimas dos terremotos que devastaram região em 6 de fevereiro. No vídeo, o corpo de um homem protege uma criança que é retirada ainda viva dos escombros.  

As imagens rodaram o mundo com uma mensagem dizendo que um pai usou seu corpo para proteger seu filho na Turquia. “Ao cavar, encontraram o corpo de um pai em posição curvada, os escavadores ficaram chocados quando se depararam com o fato de que sob o corpo apareceu uma criança que ainda estava viva. Graças a ser protegido dos escombros pelo corpo do pai. Pai de verdade”, diz o texto.

Os Capacetes Brancos confirmaram se tratar de um resgate de uma família após os terremotos, mas esclareceram que foi na Síria, país também afetado pelos abalos. De acordo com o grupo, o vídeo foi gravado em Idlib, na cidade de Harem, em 6 de fevereiro, mesmo dia do pior terremoto. 

“Allahu Akbar”, gritavam os voluntários. A expressão em árabe significa “Alá é Grande” ou "Deus é grande". A criança foi resgatada com vida, sob intensa comemoração dos socorristas diante da cena chocante. Infelizmente o menino não resistiu e morreu três dias depois. 

“Nossas equipes resgataram a criança no interior de Idlib, na cidade de Harem, no dia 6 de fevereiro. A criança foi a única sobrevivente da família. Sua família inteira foi morta. Infelizmente, o bebê morreu três dias antes da ‘Síndrome de Esmagamento’”, disse o Capacetes Brancos em resposta à Band

Terremotos

As Nações Unidas estimam que na Síria 8,8 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelos terremotos das últimas semanas. As entidades que atuam no país reportaram 5,9 mil mortes até agora. Na Síria, os trabalhos de busca e remoção de destroços continuam nas províncias de Idlib, Aleppo, Hama, Latakia e Tartus. 

Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países.

A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes.

Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto.

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Equipes de resgate procuram sobreviventes sob os escombros após um terremoto em Idlib, controlada pelos rebeldes, Síria, 6 de fevereiro de 2023. White Helmets/via REUTERS

Guerra na Síria

A Guerra Civil Síria começou como uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para uma violenta revolta armada em 15 de março de 2011, influenciados por outros protestos simultâneos no mundo árabe.

Enquanto a oposição alega estar lutando para destituir o presidente Bashar al-Assad do poder e posteriormente instalar uma nova liderança mais democrática no país, o governo sírio diz estar combatendo terroristas armados que visam desestabilizar a nação.

Com o passar do tempo, a guerra deixou de ser uma simples "luta por poder" e passou também a abranger aspectos de natureza sectária e religiosa, com diversas facções que formam a oposição combatendo tanto o governo quanto umas às outras. 

Assim, o conflito acabou espalhando-se para a região, atingindo também países como Iraque e o Líbano, atiçando, especialmente, a rivalidade entre xiitas e sunitas.

Gráfico sobre quem controla os territórios da Síria

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