Luiz Dominguetti, que acusou o Ministério da Saúde de pedir propina de 1 dólar por dose em uma negociação de 400 milhões de vacinas da AstraZeneca, diz que o deputado Luis Miranda tentou intermediar compra de imunizantes, mas não deu detalhes de quem seria o comprador.
O depoente apresentou uma gravação do parlamentar na CPI da Pandemia. "Você sabe que eu tenho comprador com potencial de pagamento instantâneo, que ele compra todo o tempo lá, em quantidades menores, obviamente. Se o seu produto estiver no chão e fizer um vídeo em meu nome, Luis Miranda, o meu comprador entende que é fato e encaminha toda a documentação necessária", diz Miranda no áudio.
Segundo ele, o áudio teria sido enviado pelo representante da Davati - a empresa a qual ele teria representado na negociação das vacinas-, Cristiano Alberto Carvalho, no dia 24 de junho depois que Miranda fez denúncias contra o Ministério da Saúde. Miranda depôs à CPI no dia 25 de junho, uma sexta-feira, mas deu várias entrevistas durante a semana contando sobre pressões e irregularidade na importação de um lote da vacina Covaxin, inclusive para o Grupo Bandeirantes.
Dominguetti afirma que outros membros do Ministério da Saúde e assessores de parlamentares tentaram contato para a compra de vacinas, mas não deu mais nomes. "Muita gente me ligava dizendo "eu posso isso, eu posso aquilo (...) Já tinha tido um processo doloroso no ministério, eu particularmente, e nem a Davati, queria vivenciar isso novamente", disse ele.
Ele diz que ofereceu imunizantes ao Ministério da Saúde por três vezes, mas não conseguiu fechar negócio. Durante uma reunião em um restaurante de Brasília, ele teria feito a proposta de 400 milhões de doses por 3,50 dólares cada e o secretário Roberto Ferreira Dias pediu uma oferta melhor. Quando ele disse que não poderia dar descontos, Dias afirmou que o preço precisaria ser maior e falou sobre a propina de 1 dólar por dose.
Luis Miranda diz que áudio foi tirado de contexto para prejudicá-lo
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que conversou com Luis Miranda e o deputado negou que tenha feito a negociação. Segundo ele, trata-se de um áudio antigo e que não se fala em vacina.
"Eu fui conversar com o deputado Luis Miranda, chamei outros membros da CPI, o senador Fernando Bezerra estava junto, Marcos do Val, e fiz questão que tivessem testemunhas da minha conversa com ele para que não pairasse dúvida de que eu tinha induzido ele. O que ele disse é que esse áudio é de 2020, que é uma negociação nos Estados Unidos, que não tem nada a ver com o Brasil. É um áudio que nem se falava em vacinas ainda e que está editado aqui para prejudicá-lo", contou o presidente da CPI.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) disse que o depoimento teria sido plantado para prejudicar Luis Miranda. Quem pediu a convocação foram os senadores de oposição.