Em uma das mais bizarras provocações dos últimos tempos contra o país vizinho, a Coreia do Norte enviou à Coreia do Sul balões contendo lixo e excrementos – ou "presentes de sinceridade", como foram cunhados por Pyongyang. A chegada do material foi confirmada por Seul nesta quarta-feira (29/05), que classificou o ato como "baixo e perigoso".
As imagens divulgadas pelos militares sul-coreanos mostram balões inflados, com sacolas plásticas amarradas ao redor deles. Outras fotos parecem mostrar lixo espalhado em volta de balões já caídos e uma das sacolas com a inscrição "excrementos".
Até a tarde de quarta-feira, horário local, mais de 260 balões foram detectados por Seul em diversas partes do país. A maioria atingiu o solo, trazendo fezes de animais e detritos.
Segundo Pyongyang, os balões são uma retaliação aos balões enviados regularmente por desertores norte-coreanos e ativistas da Coreia do Sul ao território rival, contendo panfletos críticos ao regime do ditador Kim Jong-un, alimentos, medicamentos, dinheiro e pen drives com videoclipes de artistas k-pop e novelas – "coisas sujas" e uma "provocação perigosa", nas palavras do vice-ministro de Defesa da Coreia do Norte, Kim Kang Il. No domingo ele advertiu que a resposta viria em "montes de lixo e imundície".
A ação da Coreia do Norte foi defendida por Kim Yo Jong, irmã do ditador norte-coreano e alta funcionária do partido governista, que acusou a Coreia do Sul de ser "vergonhosa" e "descarada" por criticar os balões, "presentes de sinceridade" aos sul-coreanos que "choram por liberdade de expressão".
Guerra psicológica
A unidade de desativação de explosivos do Exército sul-coreano e a equipe de resposta a guerra química e biológica foram mobilizadas para inspecionar e recolher os objetos. Moradores foram alertados a se manter afastados e informar as autoridades caso avistem um balão.
Além dos balões, a Coreia do Norte também teria tentado nesta quarta-feira, segundo a imprensa local, bloquear sinais de GPS do país vizinho.
À agência de notícias Reuters, um funcionário do governo em Seul disse que a ação parece ser um teste de "como nosso povo reagiria" e qual efeito a "guerra psicológica e ameaças complexas de pequena escala" teriam.
"Esses tipos de táticas de zona cinzenta são mais difíceis de conter e apresentam menos risco de uma escalada militar incontrolável, mesmo que sejam horríveis para os civis que são os alvos finais", analisa o pesquisador Peter Ward, do Instituto Sejong, em entrevista à Reuters.
Prática que ocorre há anos
No passado, Seul já tentou impedir o envio de balões à Coreia do Norte por cidadãos, principalmente depois de um incidente em 2014 quando Pyongyang, ao tentar derrubá-los, acabou assustando moradores próximos à fronteira.
Em 2021, o governo sul-coreano proibiu o lançamento de balões, mas a medida acabou sendo declarada inconstitucional por ser considerada uma violação à liberdade de expressão.
A tensão entre os dois países tem crescido nos últimos anos, à medida que a Coreia do Norte vem subindo o tom de suas ameaças ao país vizinho. Enquanto Pyongyang organiza testes bélicos, Seul vem intensificando desde 2022 seus exercícios militares junto com os Estados Unidos e o Japão.
ra/md (Reuters, AP)