Copom acontece nesta semana; por que a taxa Selic é tão importante?

Decisões da reunião afetam desde o bolso do consumidor até as grandes operações financeiras internacionais; entenda

Por Hanna Rahal

Copom acontece nesta semana; por que a taxa Selic é tão importante?
Banco Central
Marcello Casal/Agência Brasil

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que acontece nesta terça (5) e quarta (6), decide o valor da taxa Selic e tem grande relevância econômica no Brasil. Isso porque ajusta os juros básicos da nossa economia, ou seja, influencia praticamente todos os aspectos do sistema financeiro, incluindo juros bancários, inflação, consumo, investimento e câmbio.

As decisões dessa reunião afetam desde o bolso do consumidor até as grandes operações financeiras internacionais. O Band.com.br conversou com especialistas para entender como tudo isso afeta o cotidiano das pessoas. 

O que é taxa Selic?

A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela é definida pelo Banco Central e serve como referência para todas as outras taxas de juros praticadas no país, como as de empréstimos, financiamentos, e investimentos em renda fixa.

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que é um sistema do Banco Central usado para a negociação de títulos públicos federais. Esses títulos são comprados e vendidos diariamente pelos bancos e outras instituições financeiras, que os usam como forma de emprestar dinheiro uns aos outros. 

A Selic, portanto, representa o custo desses empréstimos entre bancos de curto prazo, sendo expressa em termos percentuais ao ano.

Por que a taxa Selic sobe e desce?

A taxa Selic sobe e desce para controlar a inflação e manter a economia equilibrada. A principal função do Banco Central ao ajustar a Selic é justamente responder a pressões econômicas e garantir que os preços não aumentem demais (inflação alta) nem caiam de forma muito acentuada (deflação), o que pode afetar o crescimento econômico. 

Matheus Dias, economista do FGV Ibre, explica como essa oscilação afeta a economia na prática: “O Banco Central tem como principal instrumento de política monetária a taxa de juros. Então, o principal canal de transmissão que é impactado é o canal de crédito”, diz. 

O especialista explica que, quando há o aumento da taxa de juros, o custo de crédito fica mais caro tanto para a população geral quanto para as empresas que têm o custo de capital. 

Nesses casos, as empresas podem reavaliar os projetos, investimentos ou até os empréstimos para estarem direcionados com os negócios. E tudo isso afeta consequentemente a atividade econômica, causa a desaceleração de consumo e acomete a inflação.

O que a taxa Selic influencia?

Carlos Castro, planejador financeiro e CEO da SuperRico diz que a taxa Selic influencia o cidadão de duas maneiras. 

“Brasileiros tem o nível de dívida elevado. Nesses casos, a taxa de juros acaba afetando o custo desse crédito e o custo dessa dívida. Na medida que a Selic sobe, o crédito fica mais caro, impactando o cheque especial, o cartão de crédito e as demais linhas”, explica. 

E o impacto é grande, tendo em vista que o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial são os produtos mais caros e mais utilizados pelos brasileiros.

Por outro lado, um aumento de juros também aumenta a remuneração de aplicações diretamente ligadas as variações da taxa de juros definidas pelo BC, como os chamados Fundo DI e os títulos públicos chamados de LFT no Tesouro Direto. Nesses dois casos, o aumento da taxa de juros pelo BC são diretamente replicadas em maiores rentabilidades. 

Castro considera que com o aumento dos juros, os retornos para quem é poupador, ou seja, quem investe, acabam aumentando a renda fixa. “É uma tendência as pessoas ficarem mais conservadoras em renda fixa, principalmente no pós-fixado e inflação, que são os títulos/ativos mais afetados positivamente”, diz. 

O CEO da SuperRico considera que para todos os consumidores, o planejamento financeiro é essencial para evitar o endividamento: “É preciso montar um colchão de segurança e poupar para ter uma reserva que faça frente aos ciclos econômicos. Não existe outra forma de lidar com essas variações se não cuidarmos do nosso próprio dinheiro”.

Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, diz que a melhor forma de enfrentar um momento de taxa de juros elevados é aproveitar qualquer brecha no orçamento, como com o recebimento do 13⁠º salário, para quitar as dívidas. Além disso, é preciso evitar o consumo no cartão de crédito.

Neste caso, poupar significa que o consumidor deve gastar menos do que ganha para evitar o crédito, e esse valor poupado precisa ser investido nos ativos financeiros, fazendo com que o patrimônio cresça em cima da inflação. 

Qual é a relação entre Selic e inflação?

A taxa Selic é um instrumento de política monetária para controlar a inflação. Entretanto, existe uma meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional, e o Banco Central persegue esta meta a fim de controlar a inflação. 

Então, o aumento é uma forma de trabalhar uma política de contração para esfriar a economia, porque o crédito ficando mais caro diminui o consumo e o nível de desemprego também acaba sendo impactado. 

“Há uma expectativa que os preços comecem a convergir de maneira que a inflação chegue ao centro da meta. Hoje o teto da meta é 4,50%. O centro é 3,0% ao ano, mas as expectativas de inflação já estão acima do teto", avalia Carlos Castro. 

“No mundo ideal, a inflação estaria na meta de 3,0% e, com isso, a taxa de juros no Brasil provavelmente estaria ao redor de 6,0%”, diz Luís Otávio Leal.

Ou seja, o objetivo da Selic subir ou descer é manter a inflação sob controle. “Deflação não é uma coisa boa e obviamente uma inflação acima da meta também não é. O referencial do que é bom de inflação é o que está determinado na meta. O Banco Central usa como instrumento o aumento e a redução para fazer com que a inflação fique na meta”, complementa Castro.

Como a taxa Selic é calculada?

A taxa Selic não é exatamente "calculada" com base em uma fórmula matemática fixa. Ela é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que decide o valor após avaliar uma série de fatores econômicos. Em cada reunião, o Copom analisa a situação da economia e estabelece a meta para a taxa Selic, considerando diversos dados e cenários econômicos.

O que é o Copom e por que ele é importante?

O Copom é um órgão do Banco Central do Brasil responsável por definir a taxa Selic. Criado em 1996, o comitê tem o papel principal de controlar a inflação e garantir a estabilidade econômica do país, ajustando a taxa Selic como uma das principais ferramentas de política monetária.

Formado pelos diretores do Banco Central, incluindo o presidente, o comitê se reúne a cada 45 dias. São duas sessões. 

Na primeira, se discute toda a parte de cenário econômico, doméstico e internacional. No segundo dia, se toma a decisão sobre o ajuste ou não da taxa Selic, sempre com base na avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados.

O Comitê de Política Monetária age exatamente para atender, como obrigação, o controle monetário através da Selic e a definição da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.

Qual é a expectativa para a taxa Selic na próxima reunião de quarta-feira (6)?

Instituições financeiras consultadas pelo Banco Central esperam pelo aumento da taxa básica de juros, a Selic, para 11,25% ao ano. Tanto o CEO da Super Rico, quanto o economista do FGV Ibre e o economista-chefe da G5 Partners, concordam com essa projeção. 

“A expectativa que a gente tem dado todo esse cenário de mercado de trabalho aquecido, de inflação de serviços e o câmbio pressionado é bastante resiliente. Tudo isso faz com que a gente espere que nessa próxima reunião haja um aumento de meio ponto percentual da inflação, fazendo com que a taxa Selic vá para, 11,25% ao ano”, considera Dias.

Quais foram as últimas taxas do Banco Central?

A previsão está no Boletim Focus de segunda-feira (4), pesquisa divulgada semanalmente pelo BC com a expectativa para os principais indicadores econômicos. Os analistas de mercado também elevaram a estimativa para a taxa básica para os próximos anos.

Na reunião de setembro, o Copom elevou a Selic pela primeira vez em mais de dois anos, para 10,75% ao ano, diante da alta recente do dólar e das incertezas em torno da inflação.

A última alta dos juros ocorreu em agosto de 2022, quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Após passar um ano nesse nível, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano.

Para o mercado financeiro, a Selic deve encerrar 2024 em 11,75% ao ano. Depois do encontro desta semana, o Copom vai se reunir mais uma vez este ano, em 10 e 11 de dezembro.

Para o fim de 2025, a estimativa para a taxa básica subiu de 11,25% ao ano para 11,5% ao ano. Para 2026 e 2027, o mercado prevê que a taxa seja reduzida, mas elevou o seu nível em 0,25 ponto percentual para os dois anos, para 9,75% ao ano e 9,25% ao ano, respectivamente.

*Com Agência Brasil

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