O Consórcio Nordeste divulgou, neste domingo (6), uma nota em que condena a entrevista do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em que sugeriu maior protagonismo político do Sul e Sudeste frente à região Nordeste. A declaração dada ao Estadão foi alvo de críticas.
Na entrevista exclusiva ao Estadão, Zema chegou a usar a comparação “vaquinhas que produzem pouco” e as que “produzem muito” ao analisar a suposta falta de protagonismo político do Sul e Sudeste.
A nota do Consórcio Nordeste foi assinada pelo presidente do grupo, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB). Na prática, ele representa os outros gestores da região. O texto destaca que a união dos estados nordestinos não representa uma guerra contra os demais entes federativos e que Zema sugere manter as desigualdades de um país de proporções continentais.
“Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades”
Quem também criticou Zema foi o governador Renato Casagrande (PSB), aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrante do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud). Nas redes sociais, o capixaba disse que a entrevista do gestor mineiro é uma opinião pessoal e que a entidade serve para colaborar com as demais regiões.
“Sobre a entrevista do Governador Zema (MG) para o jornal Estado de SP, é importante deixar claro que é sua opinião pessoal. O ES participa do Cosud para que ele seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões”, escreveu Casagrande.
A entrevista de Zema também destaca a organização do Cosud como frente à força política do Norte e Nordeste. O governador mineiro explicou que o grupo existe desde 2019, mas que só foi formalizado neste ano. Segundo ele, o Sul e Sudeste nunca tiveram protagonismo político no cenário nacional.
Leia a íntegra da nota do Consórcio Nordeste
O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.
O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.
Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de "O Brasil que cresce unido. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.
É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.
Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.
A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.
Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.
Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.