A lista de autoridades espionadas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é muito maior do que o revelado inicialmente. A nova lista do esquema conhecido como Abin paralela foi divulgada nesta sexta-feira (2), com apuração exclusiva do repórter da Band em Brasília Túlio Amâncio.
Além de adversários políticos, fontes da Polícia Federal apontaram que a espionagem se estendia para aliados políticos do então presidente Jair Bolsonaro, como os ministros Abraham Weintraub, da Educação, e Anderson Torres, da Justiça (conheça a lista completa abaixo).
Os agentes da PF tiveram acesso aos números dos telefones rastreados e não aos nomes dos espionados. Por isso, o levantamento é demorado: foram mais de 60 mil acessos pelo programa First Mile, que permite a consulta de até 10 mil aparelhos de celular a cada 12 meses.
Quem foi monitorado?
Ministros do governo Bolsonaro
- Abraham Weintraub, da Educação;
- Anderson Torres, da Justiça;
- Flavia Arruda, da Secretaria de Governo;
- Carlos Alberto dos Santos Cruz; antecessor de Flavia na Secretaria de Governo.
Deputados federais
- Alexandre Frota;
- Joice Hasselmann;
- Kim Kataguiri.
Senadores integrantes da CPI da covid-19
- Otto Alencar;
- Rogério Carvalho;
- Omar Aziz;
- Humberto Costa;
- Alessandro Vieira;
- Renan Calheiros;
- Simone Tebet;
- Soraya Thronicke;
- Randolfe Rodrigues.
Outros espionados, segundo a investigação da PF
- O então governador de São Paulo João Dória, eleito com o apoio de Bolsonaro;
- Camilo Santana, do PT, que governou o Ceará;
- Os ministro do STF Luis Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes;
- O então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia;
- O ex-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia;
- O advogado Roberto Bertholdo.
O que é a Abin paralela?
Criada em 1995, a Abin tem como objetivo fornecer ao presidente da República e ministros informações estratégicas para o processo de decisão. Entretanto, a Operação Vigilância Aproximada da PF investiga uma "organização criminosa que se instalou na agência"
O órgão suspeita que a Abin foi usada durante o governo de Bolsonaro para monitorar ilegalmente várias autoridades. As investigações apontam que foram usadas ferramentas de geolocalização de celulares sem autorização judicial.
Segundo fontes da PF, o filho do ex-presidente Carlos Bolsonaro seria o idealizador da "Abin paralela", que teria entrado em vigor quando o órgão era chefiado por Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Diretor-geral do órgão entre julho de 2019 e março de 2022 e atualmente deputado federal, Ramagem foi um dos alvos da fase anterior da operação, que ocorreu em 25 de janeiro.
Carlos teria designado missões ao diretor - como, por exemplo, provar uma suposta ligação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes Alexandre Moraes com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Como a Abin monitorava autoridades paralelamente?
Segundo a PF, o monitoramento era feito usando ferramentas da agência para ações ilícitas, “produzindo informações para uso político e midiático. O objetivo seria a ”obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal".
Uma das ferramentas usadas era o software FirstMile, que permite a consulta de até 10 mil aparelhos de celular a cada 12 meses.
Em outubro, a PF afirmou que o sistema havia sido usado mais de 30 mil vezes, incluindo 2,2 mil usos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo Bolsonaro.