Como uma única pesquisa deixou Trump em pânico e pode indicar vitória de Kamala

Sondagem mostra Democrata à frente no Iowa, estado considerado uma fortaleza Republicana

Por Guilherme Machado

Kamala incisiva pressiona Trump no 1º debate da campanha nos EUA
Reuters\Reprodução

As pesquisas da eleição norte-americana demonstram uma disputa extremamente acirrada entre Donald Trump e Kamala Harris. Na maioria delas, os dois aparecem empatados tecnicamente, o que torna o cenário imprevisível. Entretanto, uma sondagem divulgada neste fim de semana parece ter mudado significativamente o cenário, colocando pânico na campanha do Republico e fazendo a Democrata subir nas bolsas de aposta.

Trata-se de uma pesquisa do jornal Des Moines Register, do estado de Iowa, que coloca Kamala Harris 3 pontos à frente de Donald Trump – 47% para ela e 44% para ele. O resultado foi visto como um choque, uma vez que Trump venceu o estado do meio-oeste por duas vezes com larga vantagem.

Mas por que uma única pesquisa carrega tanto peso? Ela foi conduzida pelo instituto de J. Ann Selzer, considerado o padrão ouro dos Estados Unidos. Na eleição de 2020, por exemplo, enquanto a maioria das pesquisas mostravam Joe Biden com folga em diversos estados, inclusive no Iowa, Ann Selzer divulgou uma sondagem final que mostrava Trump com uma vantagem de 7 pontos percentuais no estado. No final, Trump venceu por 8 pontos. 

Selzer tem um longo histórico de pesquisas que se aproximam do resultado finais e de mostrar padrões do eleitorado americano que não são captados por outros institutos de pesquisa americanos. Em entrevista ao jornal “The Bulwark”, ela revelou que costuma ser chamada de “outlier queen”, ou seja, “a rainha fora do padrão”, por prever coisas que normalmente estão fora do radar. 

Em 2020 mesmo, muitos duvidaram da pesquisa de Selzer, que acabou se mostrando correta. Agora, observa-se um movimento parecido. Membros da campanha de Trump minimizaram os resultados e o próprio ex-presidente usou as redes sociais para reclamar. 

“Nenhum presidente nunca fez mais para fazendeiros e o grande estado de Iowa do que Donald J. Trump. Na verdade, não chega nem perto. Todas as pesquisas, exceto uma totalmente manipulada para os Democratas, me mostram vencendo por muito”, destacou.

Por que o Iowa importa tanto?

Como os Estados Unidos usa um sistema de colégio eleitoral, cada estado tem um peso diferente na eleição norte-americana. Portanto, caso vença mesmo o Iowa, Kamala Harris poderia não vencer as eleições americanas. Entretanto, analistas reforçam que mais importante do que o resultado da pesquisa, são tendências que ela mostra.

Em primeiro lugar, pois o Iowa é um estado menos diverso do que outros estados norte-americanos – cerca de 82% de sua população é branca. Historicamente, a população negra, por exemplo, tende a favorecer o partido Democrata – algo que tem sido refletido nas pesquisas de opinião. Portanto, em um estado de maioria branca como Iowa, uma vitória de Kamala Harris poderia indicar uma tendência favorável em outros estados do meio-oeste americano, como a Pensilvânia e Wisconsin, considerados fundamentais para quem deseja vencer a eleição.

Quando se olha para os detalhes da pesquisa, o resultado é ainda mais surpreendente e pode indicar algo maior: um voto silencioso das mulheres pró-Kamala.

Na pesquisa em questão, eleitores independentes – que não são filiados nem ao partido Democrata ou ao Republicano – favorecem a Democrata, um resultado que é propulsionado por uma vantagem expressiva que Kamala tem entre mulheres independentes: Kama lidera com 28 pontos de vantagem neste grupo. 

Ainda mais impressionante é o fato de que mais do que o dobro das mulheres acima de 65 anos apoiam Kamala sobre Trump: 63% a 28%.

O que explica a vantagem de Kamala sobre as mulheres?

Para J. Ann Selzer, o resultado pode estar diretamente relacionado a uma nova lei que bane o aborto no estado de Iowa após seis meses de gestação.

“Iowa é um estado muito republicano. Tem só uma pessoa eleita que é um democrata. Então, ter a candidata presencial liderar por uma margem substancial é chocante. Uma das razões pelas quais ela está liderando é por sua força com mulheres em geral (56% a 36%). Nosso consenso é que a lei que bane o aborto após 6 semanas entrou em vigor neste verão. Acho que conforme a população viu as consequências disso, deixou as pessoas interessadas em votar. Trump não perdeu musculatura, mas o tamanho das pessoas que disseram que vão votar aumentou e a maioria desses eleitores foi para Kamala”, frisou ela em entrevista à rede americana MSNBC.

A especialista também destacou que este foi um movimento orgânico, uma vez que nenhum dos candidatos visitou o estado durante o ciclo eleitoral. Ela também diz que, ao contrário de outros institutos, ela tenta olhar qual será a cara do eleitorado no atual ciclo, ao invés de tentar observar como os eleitores se comportaram no passado.

“É o mesmo método que usou desde que comecei a fazer pesquisas. Temos um bom índice de acerto, estamos confortáveis com o que fazemos. Permitimos que os dados demonstrem para nós o que acontecendo com o eleitorado do futuro. Somos capazes de descobrir as mudanças que estão acontecendo no solo”, destacou.

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