Chegou o dia em que o pequeno Maxwel Ferreira completou dois anos. A mãe dele, Maria Lucineide Ferreira, de 27, não tinha dinheiro para uma comemoração convencional, com bolo, doces, salgados e balões. Presentes? Nem pensar, até porque a quantia que recebe mensalmente do Bolsa Família dá mal para a alimentação básica para si e os três filhos que cuida sozinha na cidade de Barras (PI), a 120 km da capital Teresina.
Por outro lado, uma festa de aniversário, das quais estamos habituados, tem um ingrediente a mais e não menos importante, os convidados. Naquela manhã de 12 de janeiro, Maxwel poderia não ter um bolo, doces, salgados e balões, mas tinha amiguinhos, autoconvidados, que não queriam que a data passasse em branco.
Uma dessas pessoas é a Dariely, uma menina de 12 anos apontada como “segunda mãe” de Maxwel, dado o carinho que ela tem pelo pequeno. Por saber que a amiga Lucineide não tinha condições, bradou: “Eu vou fazer a festinha”, segundo narrou a mãe do aniversariante em entrevista à Band.
Dito e feito! Os amiguinhos chegavam ao quintal, enquanto o bolo de terra se encaminhava para o centro da mesa. Na verdade, a mesa era uma gambiarra feita com um balde ao contrário. Uma parede sem reboco serviu como painel, onde a carcaça de uma sombrinha azul aberta requintava a decoração.
Tijolos soltos foram usados como suporte para os docinhos, todos à base de... terra. As guloseimas estavam saborosas? De jeito nenhum, mas teve criança que se atreveu a levar um pedaço de bolo à boca, contou Lucineide.
A repercussão
Toda aquela simplicidade, pasmem, ganhou o país. Retratos foram tirados para que aquela recordação ficasse guardada. A intenção primeira de Lucineide nem era que a cerimônia viralizasse, contudo, a mãe de um dos convidados publicou o registro no status do WhatsApp, ferramenta mais intimista e, praticamente, incapaz de furar bolhas.
Acontece que a história do aniversário do Maxwel não parou naquele quintal. Alguém printou a publicação do WhatsApp para postá-la no Instagram. Comentários, curtidas e compartilhamentos começam a se multiplicar. Uma ONG piauiense, intitulada “Mundo Colorido”, entrou em cena e potencializou o alcance daquela singela festa com bolo de terra.
A imprensa nacional, a exemplo da Band, começa a repercutir. A família recebeu doações. Um empresário que trabalha com festas doou um bolo de verdade e a decoração para uma festa de aniversário tão incrível quanto a daquele quintal de terra batida e parede sem reboco.
Quem foi à primeira festa foi à segunda, obviamente. Todos comemoraram e comeram bolos, doces e salgados reais, tais como estamos acostumados.
Corrente de ajuda
As doações continuaram. Lucineide recebeu comida, dinheiro e até um armário de alguém de São Paulo para guardar as roupas do Maxwel. A gratidão se amplificou ao relembrar-se, durante a entrevista, da reação do filho quando voltou a tomar, depois de muito tempo, leite de vaca industrializado.
“Essa corrente de ajuda foi muito boa porque, para ele [Maxwel], mandaram um guarda-roupa, de São Paulo. Mandaram comida, leite para ele. Hoje, tem comida para os meus filhos. Ele não tomava leite porque eu não tinha condição de comprar. Não dava para comprar merenda, leite. Ou compro leite, ou compro comida normal”, pontuou Lucineide.
Além do Maxwel, Lucineide tem mais duas filhas, a Alexa Yanka, de quatro anos, e a Aghata Nicoly, de um ano e 15 dias. A família mora numa casa cujos cômodos são divididos por lonas, numa área de invasão, em Barras.