Como o corte de gastos pode afetar no preço do dólar? Economista explica

Economista Gilberto Braga afirmou que medidas são “perigosas” e podem provocar a alta do dólar no Brasil

Emanuele Braga

Dólar
Valter Campanato/Agência Brasil

O anúncio do corte de gastos do governo federal gerou repercussão no mercado financeiro e entre economistas brasileiros. A isenção do imposto de renda para pessoas com remuneração até R$ 5 mil e cobrança adicional para quem recebe mais de R$ 50 mil, segundo o economista Gilberto Braga, é ‘perigosa’ e pode provocar a alta do dólar no Brasil. 

Ao Band.com.br, o economista afirmou, após o anúncio feito pelo ministro Fernando Haddad, nesta quarta-feira (27), que a mudança na tabela do imposto “precisa ser melhor compreendida”. 

“É difícil saber se essa conta fecha, se cobrando 10% de quem ganha mais de R$ 50 mil é o suficiente para cobrir a isenção de quem vai deixar de pagar Imposto de Renda. O que se sabe é que o custo disso dessa isenção é algo até R$ 35 bi”, afirmou. 

Braga explica que, embora o objetivo do governo seja evidenciar que as contas públicas não serão afetadas, a medida é “perigosa”, podendo influenciar no preço do dólar e na transferência de renda para o exterior, já que as pessoas que recebem mais de R$ 50 mil “podem ter outras formas de receber esses recursos de maneira que o governo não consiga tributá-los”. 

“Uma dessas maneiras é levando os recursos para o exterior investindo em outros países, em que a tributação sobre a pessoa física seja menor. Esse efeito de trocar uma tributação mais cara por uma mais barata é muito comum, porque com a internacionalização do sistema financeiro é possível ter conta em diversas moedas”, completou. 

O especialista afirma que o mercado olhou de maneira positiva para o corte de gastos, mas entende que as medidas são tímidas, uma vez que “vieram medidas lentas, progressivas, com implantação de corte paulatinos que demoraram anos para surtir efeitos”.

“Isso mantém o câmbio pressionado, o dólar se valorizando a medida em que o governo não demonstrou convencimento. A percepção das empresas é de que o governo vai ter dificuldade para cumprir as suas metas de equilíbrio fiscal e esse desequilíbrio se reflete no câmbio”, completou. 

Isenção no Imposto de Renda

Ainda que anunciada pelo governo federal nesta quarta (27), a mudança na tabela do Imposto de Renda entrará em vigor apenas em 2026. As alterações também passarão por uma discussão no Congresso Nacional, podendo sofrer alterações na Câmara e no Senado. 

Basicamente, segundo a explicação de Gilberto, a proposta do governo é isentar pessoas com remuneração de até R$ 5 mil e, como forma de compensação, quem recebe acima de R$ 50 mil contribuirá com 10%, representando uma maneira de “financiar” a isenção. 

O professor finaliza a explicação afirmando que as medidas “tem, de um lado, aumento da arrecadação e avançam, de maneira tímida, no corte de despesas” 

“O fato de aliviar o imposto de renda para quem ganha menos, embora possa ter um efeito social e político importante, vai ser pago com o aumento de carga tributária sobre outras parcelas da população. Embora isso possa promover justiça fiscal, isso não aumenta a eficiência do governo e nem mostra que o Governo está se esforçando em cortar gastos”, completou. 

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