Dos direitos LGBTQ+ ao aborto: como a eleição de Trump afetará a vida dos americanos

Do direito ao aborto ao futuro da próxima geração, escolha do magnata para presidente promete impactar população feminina e LGBTQ+ dos Estados Unidos

Por Deutsche Welle

Presidente eleito, Donald Trump será o 47º mandatário dos Estados Unidos
REUTERS/Brian Snyder

Mia e Molly não poderiam ser mais diferentes: a primeira é uma estudante engajada no movimento antiaborto da Flórida; a outra é uma mãe da Califórnia que, três dias após as recentes eleições nos EUA, atravessou o país com o filho até Washington, para protestar. O que une ambas e muitas americanas são as fortes emoções que a vitória de Donald Trump nas presidenciais e o que ela representará para os seus direitos como mulheres despertam.

"Estou feliz mesmo que Trump tenha ganhado, e ainda mais por Harris e Walz terem perdido", comenta Mia Akins ao telefone. A candidata democrata, Kamala Harris, e seu vice, Tim Walz, tinham se manifestado pelo direito ao aborto em âmbito nacional. E durante seu primeiro mandato, Trump nomeou três dos juízes da Suprema Corte que em 2022 derrubaram a lei nesse sentido.

Mia cursa o terceiro ano na Florida International University de Miami e é cofundadora do grupo da Students for Life of America (SFLA), uma organização nacional reunindo universitários que se opõem radicalmente ao aborto. O republicano não é "o candidato perfeito", reconhece a ativista, pois ele prefere deixar o assunto para os estados, em vez de apoiar a proibição geral. Mas ela está otimista: um governo trumpista "é algo com que a gente pode trabalhar".

Direitos LGBTQ+ em risco

Pelo menos nesse ponto, Molly e o/a filha/o, Sammy, concordam com ela: Trump não é um candidato ideal. Numa iniciativa espontânea, ambos voaram da costa oeste para a leste, e no sábado seguinte ao pleito estavam sob o céu ensolarado de Washington portando cartazes de protesto improvisados.

Molly diz temer o que o futuro governo trará, também para os direitos de quem faz parte da comunidade LGBTQ+: "Estou preocupada que Trump vá tirar os direitos da comunidade LGBTQ, que vá restringir quem eles podem amar ou como podem ser." Seu/sua filho/a, Sammy, é não binário/a, não se considera homem nem mulher, tendo optado pelo pronome "they".

Sua família já sente efeitos reais: em 2025 Sammy está indo para a universidade, e aquelas situadas em estados de maioria eleitoral republicana estão descartadas. "Temo que os meus amigos que também são LGBTQ não vão poder entrar para a universidade dos seus sonhos, por medo de sofrerem ataques", revela Sammy. "Eu olho com bastante cuidado onde ficam as universidades para que me candidatei, como foi o resultado daquela zona eleitoral."

Receios pela saúde da população feminina

Em 5 de novembro, o Partido Republicano não só conquistou a presidência, mas também a maioria no Senado, e tudo indica que a partir de 20 de janeiro haverá também maioria republicana na Câmara dos Representantes. Isso significa que a sigla conseguirá aprovar muitos de seus projetos com relativa facilidade.

"Normalmente dizemos que os mecanismos de controle do sistema impedem poder exagerado", explica a politóloga Laura Merrifield Wilson, da Universidade de Indianápolis. "Mas nós certamente veríamos no segundo mandato de Trump mais decisões conservadoras e restrições mais rigorosas no setor de saúde, sobretudo para as mulheres [se os republicanos também tiverem o controle da Câmara]. Aí o partido dominaria no nível federal, e na ala de esquerda [liberal], há receio de que a política do 'Project 2025' vire realidade."

Wilson se refere a um plano ultraconservador para o futuro dos Estados Unidos, traçado pelo think tank Heritage Foundation. As medidas previstas incluem a proibição de pílulas abortivas e a substituição de funcionários federais por trumpistas fiéis. O próprio presidente eleito não esteve envolvido nessa listagem, mas diversos adeptos seus, sim.

Por isso, no sábado após o pleito, Molly, Sammy e outros manifestantes se reuniram diante do prédio da Heritage Foundation. Continua ativa a iniciativa Women's March, que em 2017, no dia seguinte à posse de Trump, organizou uma marcha de protesto em Washington, reunindo quase meio milhão de participantes.

Anos dourados para os opositores do aborto?

Agora, porém, havia só umas poucas centenas de manifestantes, a maioria mulheres, protestando com música alta e bandanas verdes, onde se lia "Bans off our bodies" – proibições para longe dos nossos corpos. Segundo Tamika Middleton, uma das líderes da Women's March, o lema do grupo é "resistência feminista contra o fascismo".

"Estamos furiosas", comenta Erica, de 27 anos, que participa do protesto juntamente com a mãe, Mandy, e a filha Elani, de cinco anos. "Mas estamos aqui para mostrar à Elani que não se deve ficar sentada em casa, sentindo rava." A avó Mandy está apreensiva com o país em que a menina vai crescer: "Ela deveria ter os mesmos direitos ao aborto que nós tivemos."

Contudo, outras mulheres antecipam o futuro governo Trump com grande esperança, também pela geração futura. "Estou incrivelmente grata que Kamala Harris não tenha sido eleita para o cargo, com o extremismo do aborto dela", comenta Reagan Barklage, coordenadora nacional da Students for Life of America. "Espero que Trump consiga colaborar com o Congresso para proteger a vida das crianças."

Ela desejaria que ele regulamente mais rigidamente a prescrição de pílulas de aborto, e que "tome decisões sábias" ao nomear os juízes federais, que depois devem ser confirmados pelo Senado. Como os republicanos têm maioria nessa casa do Congresso, é bem provável que Trump consiga nomear um grande número de magistrados dispostos a restringir os direitos de aborto.

Autor: Carla Bleiker

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