Com a vitória de Trump, a Europa está agora por si só?

Os países da UE e da Otan não ficaram chocados com o retorno de Trump à Casa Branca, mas se preparam para turbulências na parceria transatlântica. Isso dará impulso para fortalecer a soberania do bloco europeu?

Por Deutsche Welle

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A mensagem de Mark Rutte para o presidente eleito dos EUA foi bastante direta. O novo secretário-geral da Otan foi um dos primeiros líderes a parabenizar Donald Trump por sua vitória. "Estou ansioso para trabalhar com ele novamente para promover a paz por meio da força através da Otan", disse Rutte em um comunicado.

Em seguida, ele rapidamente enfatizou que "por meio da Otan, os EUA têm 31 amigos e aliados que ajudam a promover os interesses dos EUA, multiplicar o poder americano e manter os americanos seguros". Uma sugestão fácil de interpretar sobre o que Washington ganha ao se manter comprometida com a aliança e sua cláusula de defesa mútua.

Rutte é considerado um "encantador de Trump" – alguém que sabe como lidar com ele, como bajular seu ego. Como primeiro-ministro holandês, Rutte conseguiu evitar que Trump bloqueasse uma cúpula da Otan em meados de 2018, elogiando a conduta do então presidente dos EUA em pressionar os aliados a gastar mais em defesa.

Atualmente, dois terços dos membros da Otan gastam pelo menos 2% de seu PIB em defesa, e os gastos com defesa estão em uma trajetória ascendente em toda a aliança, salientou Rutte em sua declaração.

Uma abordagem transacional para a Otan

Mas é incerto se isso é suficiente para Donald Trump ou se a estratégia de Rutte dará certo desta vez. Trump já deixou claro várias vezes que não acredita no valor da aliança em si. Sua abordagem sobre a Otan é mais transacional.

Na campanha eleitoral, Trump indicou que permaneceria na aliança desde que os países europeus "jogassem limpo" e parassem de tirar "vantagem" dos gastos em defesa dos EUA.

Parece improvável que Trump retire os EUA da Otan, mas há muitas outras maneiras de prejudicar a aliança. Trump poderia, por exemplo, retirar os EUA do comando militar – foi o que a França fez em 1966.

Um governo Trump "poderia tornar a vida na Otan bastante difícil, já que é uma organização que faz tudo por consenso", disse Ian Lesser, do German Marshall Fund, um think tank transatlântico, à DW.

Trump vai abalar a Otan?

Para Lesser, se o maior membro contribuinte da Otan "não concordar ou tiver opiniões excêntricas, isso tornará a gestão das relações da aliança muito, muito difícil". Esse é um grande problema, especialmente agora, com uma guerra em andamento na Europa.

Trump prometeu acabar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia em 24 horas. Muitos na Europa temem que ele possa fazer um acordo com o líder russo, Vladimir Putin, às custas da Ucrânia ou, pelo menos, que ele possa reduzir o apoio dos EUA a Kiev.

Por exemplo, Trump poderia reduzir o fornecimento de armas à Ucrânia ou "instruir os serviços militares e de inteligência americanos a interromper o compartilhamento de informações com a Ucrânia", avalia Jacob Kirkegaard, membro do think tank Bruegel, à DW. Isso poderia ter implicações de longo alcance para a guerra da Ucrânia.

A ajuda dos EUA à Ucrânia tem sido crucial, lembra Steven Blockmans à DW. E o pesquisador sênior do Centro de Estudos de Política Europeia, em Bruxelas, avalia que os europeus não poderiam substituir esse apoio.

"Apesar de toda a conversa na Europa sobre a criação de mais autonomia estratégica", disse Blockmans, "na verdade, a dependência dos EUA cresceu – tanto em termos de segurança quanto de comércio". Uma possível guerra comercial com os EUA é certamente outra fonte de preocupação para os europeus, já que Trump, durante a campanha, ameaçou impor tarifas sobre todos os produtos importados do exterior.

Pedidos por mais soberania europeia

E será que o resultado das eleições nos EUA poderia acelerar a busca por mais autonomia e unidade na União Europeia (UE)? O presidente francês, Emanuel Macron, parece acreditar que sim. Após a eleição nos EUA, Macron disse que ele e o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, queriam "trabalhar em prol de uma Europa mais unida, mais forte e mais soberana nesse novo contexto".

Muitos no Parlamento Europeu parecem concordar. "Temos que investir de fato na competitividade e na soberania industrial e tecnológica da Europa", disse à DW Sven Mikser, ex-ministro do Exterior da Estônia e atual eurodeputado. "Nós realmente temos que ser sérios."

Populistas europeus encorajados por Trump

Os especialistas, no entanto, estão céticos. "Uma coisa é falar sobre autonomia estratégica em um sentido aspiracional", disse Ian Lesser, do German Marshall Fund. "Outra coisa é operacionalizar. Isso envolve a reconstrução da capacidade de defesa europeia de uma maneira que pode levar muitos anos."

O debate sobre fortalecer a soberania europeia acontece enquanto o continente já enfrenta volatilidade econômica, declínio da competitividade e – além de tudo isso – a ascensão da extrema direita.

Não é de surpreender que os partidos nacionalistas e populistas do continente, revigorados pelas recentes eleições europeias e nacionais, não vejam a necessidade de mais autonomia.

A vitória de Trump pode não ter chocado a Europa. Mas, como Steven Blockmans apontou, isso não significa que "não será um período caótico".

Autor: Alexandra von Nahmen

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