O Brasil tem um “Triângulo das Bermudas” para chamar de seu. Sim, um dos maiores cemitérios de navios do mundo está no litoral maranhense, especificamente no Parque Estadual Parcel de Manuel Luís, cerca de 160 km da costa, no município de Cururupu. O nome é uma homenagem ao pescador Manoel Luís, apontado como descobridor da região, no século XIX.
O governo brasileiro calcula cerca de 200 embarcações naufragadas na região, um número que deixa o cemitério maranhense de navios atrás somente do verdadeiro Triângulo das Bermudas, localizado entre a costa dos Estados Unidos e de Porto Rico.
O professor universitário João Luiz Baptista de Carvalho, do curso de oceanografia da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), deu entrevista ao Band.com.br para explicar a formação geográfica e por que tantos navios naufragaram na região. Coordenador Navio de Pesquisa e Ensino Ciências do Mar II, o docente também tem experiência em Oceanografia Física e Engenharia Oceânica.
Maior banco de corais da América do Sul
Devido à dificuldade de acesso, distância da costa, fortes correntes marítimas e, principalmente, por constituir o maior banco de corais da América do Sul, o Parcel de Manuel Luís sempre representou ameaça à navegação.
Para além da formação natural, o professor da Ufma contou que, quando ocorriam muitos naufrágios, as cartas náuticas não eram tão precisas, diferente dos dias atuais. Para Baptista de Carvalho, hoje, o afundamento de uma embarcação, na região, é quase impossível.
Naquela época, a navegação era astronômica. A precisão da navegação só aconteceria nos horários que você conseguisse ver astros e o horizonte, ao mesmo tempo. Isso você só consegue ao pôr do sol ou ao nascer do sol (professor Baptista de Carvalho)
Principais naufrágios
Entre as embarcações naufragadas no Parcel de Manuel Luís, há caravelas e navios com casco metálico. Abaixo, veja alguns:
- o transatlântico “Henny Woerman”, da marinha alemã, que depois de capturado pela Marinha Brasileira, durante a I Guerra Mundial, foi renomeado “Uberaba”;
- o petroleiro “Ana Cristina”, mais recente naufrágio, por isso melhor conservado;
- "Navio do Cobre", cuja carga, depois do naufrágio, foi roubada por saqueadores;
- “Vandyck”, transatlântico inglês que, ainda durante a I Guerra Mundial, em 1914, transportava 200 passageiros que embarcaram em Buenos Aires com destino a Nova York, e foi naufragado por um navio alemão. Todos os passageiros foram salvos.
Abrigo da fauna marinha
Além do conjunto de formações rochosas e inúmeros labirintos submersos, os destroços das embarcações tornaram-se abrigo para diversas espécies marinhas, como cações-lixa, barracudas-prateadas, o raro-nero (maior peixe de fundo da nossa costa), os exóticos peixe-morcego e peixe-papagaio, o sargentino e o peixe-borboleta. O local também é um paraíso para mergulhadores.