A primeira vez que vi o Pelé, e esse foi o título da reportagem que escrevi, ele não fez grande coisa em campo. Foi um Santos x Bangu no estádio do Pacaembu. Ele fez um gol de pênalti, com a famosa paradinha, e não foi muito além disso. Mas eu senti uma emoção intensa durante 90 minutos.
Depois, revendo aquele texto, vi que tinha escrito não apenas sobre futebol, mas sobre a emoção humana. Descobri naquele jogo que assistir e vivenciar o espetáculo de Pelé em campo não dependia propriamente de seu desempenho. As possibilidades infinitas do que ele podia fazer, mesmo que ele não fizesse, já era um espetáculo em si.
Ver Pelé jogar era viver a expectativa do grande lance, do lance genial, do milagre. Emoção inevitável.
No domingo seguinte, vi Pelé jogar de novo. Foi num Santos e Corinthians. Pobre de nós corintianos. Vi quando um espírito santo, ou alguma outra divindade, desceu sobre Pelé e aí eu fui um dos abençoados que assistiram aquele gol genialíssimo, na entrada da área, ele começa a encobrir zagueiro e vai chegando, até estufar as redes. Era o milagre que sempre esperado onde Pelé estivesse.