Mitre: José Saramago no discurso do Papa Francisco

No primeiro dos oito discursos da agenda do Papa em Portugal, que entrou nas raízes da cultura e literatura portuguesas, lá está, bem lembrado e bem citado, o genial e ateu José Saramago entre Camões, Fernando Pessoa e outros. 

Prêmio Nobel, Saramago faz uma crítica aguda à Igreja e à religião em vários livros, inclusive numa peça que, por coincidência, eu estava relendo, agora em férias em Portugal, quando o Papa chegou a Lisboa. 

É "A Segunda Vida de Francisco de Assis". Nesta peça em dois atos, aquele Francisco volta a este mundo e encontra a sua Ordem Franciscana transformada numa esperta empresa capitalista ganhando dinheiro na Bolsa. Vendendo e deformando, claro, a mensagem original do irmãozinho pobre, seu fundador, que tenta reagir, inutilmente. 

Na peça, Francisco, o santo, é derrotado pelos ex-companheiros. Na Igreja de hoje, Francisco, o papa, por sua vez, guardadas as proporções, tem enfrentado críticas poderosas por forças que temem e resistem a mudanças, que estão sendo feitas. Inclusive mexendo com a poderosa Cúria Romana. É mais um duelo na Igreja.