Você sabia? Ao contrário do que diz o hino, Botafogo não é campeão desde 1910

Clube teve o título de 1907 reconhecido somente em 1996 após polêmica com o Fluminense

Paulo Guilherme Guri

A música considerada o hino do Botafogo foi composta por Lamartine Babo em 1942. Naquela época, o compositor quis colocar na letra do hino as glórias do clube e citou o que seria, em teoria, o primeiro título do Botafogo, o de campeão carioca em 1910. 

Mas o Botafogo tinha uma conquista anterior pendente. O campeonato estadual de 1907 ficou por quase 90 anos sem uma definição. Fluminense e Botafogo terminaram empatados no número de pontos ganhos naquele ano. O Fluminense finalizou com um maior saldo de gols que o seu rival e se autoproclamou campeão. 

O Botafogo não aceitou e alegou que deveria ser disputado um jogo extra entre as duas equipes para decidir o campeão. Não houve jogo nem decisão final. E aquele título foi para o limbo.

Foram décadas de muita briga na Justiça e muita discussão. Até que, em 1996, o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), Eduardo Viana, colocou um fim nesta história proclamando oficialmente os dois clubes campeões de 1907.

O resultado disso é que o Fluminense pode comemorar finalmente seu primeiro e único tetracampeonato ((1906, 1907, 1908 e 1909), e o Botafogo ganhou mais um título para a sua galeria. 

O hino atualmente é cantado por muitos como “Botafogo, Botafogo, campeão desde 1907”, mas não soa tão bem quando a letra original de Lamartine Babo, já consagrada no imaginário popular. Além disso, o som de 1907 ("sete") não combina com o regrão seguinte “Por isso que tu és”.. Já o “dez”, de 1910, cai como uma luva!

Assim como o Fluminense, o Botafogo também tem um tetracampeonato, conquistado com os títulos de 1932, 1933, 1934 e 1935.

Por que Glorioso?

Além de ser conhecido como “Estrela Solitária”, o desenho do seu escudo, o Botafogo tem o apelido de “Glorioso”, também cantado no hino de Lamartine, por causa justamente do título de 1910, quando o time fez uma campanha arrasadora, vencendo nove dos dez jogos, marcando 66 gols e sofrendo apenas 9. 

Naquele time jogava o jogador Dinorah, irmão de Dilermando de Assis, o famoso cadete que era amante de Anna, mulher do escritor Euclides da Cunha. O triângulo amoroso terminou de forma trágica: em 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha entra na casa de Dilermando com uma arma em punho. Dinorah tenta evitar o confronto e é baleado. Dilermando entra em luta corporal com Euclides e mata com um tiro no peito o escritor.

Dinorah, mesmo com uma bala alojada no corpo, seguiu jogando pelo Botafogo e, meses após a morte de Euclides da Cunha, foi campeão carioca no histórico título de 1910.

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