A governista Claudia Sheinbaum, de 61 anos, foi eleita a primeira mulher presidente do México por uma vitória esmagadora neste domingo (02/06), fazendo história num país marcado pela violência de gênero e a de grupos criminosos. Segundo contagens preliminares da autoridade eleitoral do México, a cientista climática e ex-prefeita da Cidade do México conquistou entre 58,3% e 60,7% dos votos, derrotando a principal candidata da oposição, a ex-senadora de centro-direita Bertha Xóchitl Gálvez, que obteve entre 26,6% e 28,6%.
Após o anúncio do resultado, multidões de apoiadores de Sheinbaum agitaram bandeiras, cantaram e dançaram ao som de mariachis na praça principal da Cidade do México, celebrando a vitória da candidata do partido no poder.
"Quero agradecer a milhões de mulheres e homens mexicanos que decidiram nos dar o seu voto neste dia histórico", disse Sheinbaum num discurso de vitória perante a multidão. "Não os decepcionarei", prometeu. As projeções apontam para a maior percentagem de votos na história democrática do México.
Nesta segunda-feira, a oposicionista Xóchitl Galvez admitiu a derrota. "Há poucos minutos entrei em contato com a Dra. Claudia Sheinbaum para reconhecer os resultados da eleição", disse Gálvez a apoiadores num hotel na Cidade do México.
Além de escolherem a nova presidente, os mexicanos puderam votar em membros do Congresso, em vários governadores e em uma miríade de autoridades locais, totalizando mais de 20 mil cargos.
Campanha marcada pela violência
Os eleitores não se deixaram intimidar pelos altos índices de violência no país e afluíram em peso aos locais de votação. Quase 100 milhões de pessoas estavam aptas a votar.
Para garantir um pleito pacífico, foram mobilizados 3 mil soldados para acompanhar o processo eleitoral de perto. O objetivo foi evitar mais incidentes violentos, após uma campanha que contabilizou 34 candidatos ou pré-candidatos assassinados entre setembro e maio.
Mesmo assim, os cartéis da droga fizeram de tudo para garantir que os seus candidatos preferidos vencessem. Horas antes da abertura das urnas, um candidato local foi assassinado no oeste do país, disseram as autoridades.
No estado central mexicano de Puebla, duas pessoas morreram depois que desconhecidos atacaram locais de votação para roubar papéis, disse à AFP uma fonte de segurança do governo local. Devido à violência, a votação teve que ser suspensa em dois municípios do estado de Chiapas, no sul do país.
Sheinbaum prometeu dar continuidade à controversa estratégia de Lopez Obrador de "abraços no lugar de tiros" para combater o crime pela raiz.
Legado de López Obrador
Sheinbaum herda o projeto de seu mentor e atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, cuja popularidade entre os pobres ajudou a impulsionar a candidata por ele apoiada. Eleito com uma plataforma populista de esquerda, que prometia ampliar os benefícios sociais e combater a corrupção e a violência, ele encerra seu mandato com alta aprovação (66% em abril).
Já no combate ao crime organizado, o cenário é o inverso. Apenas 23% consideram que seu governo fez um bom trabalho na área. Durante a campanha, o presidente ressaltou a queda de 5% nos homicídios em 2023 em comparação com o ano anterior – mas cerca de 30 mil pessoas ainda são assassinadas por ano no México, e mais pessoas foram mortas durante seu mandato do que em qualquer outra administração na história moderna do México.
Na economia, López Obrador entrega o governo numa trajetória favorável, com PIB per capita em crescimento, inflação em queda e balança comercial positiva. As exportações mexicanas bateram seu recorde histórico em 2023, e o país vem se beneficiando de uma crescente integração econômica com os Estados Unidos e dos investimentos de empresas ocidentais que gradualmente tentam reduzir a dependência de fábricas na China.
ip/as (afp, ap)