Chefe do serviço de segurança interna de Israel assume falha em impedir ataque

Ronen Bar fez mea-culpa em carta aos subordinados e reconheceu responsabilidade em 1400 mortes no país

Por Moises Rabinovici

Chefe do serviço de segurança interna de Israel assume falha em impedir ataque
Israel segue em guerra
REUTERS/Corinna Kern/File Photo

O chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel, Ronen Bar, fez um mea culpa hoje sobre o massacre do Hamas:  "Apesar de uma série de ações que empreendemos, lamentavelmente, no sábado, não conseguimos fornecer um aviso suficiente que nos permitisse impedir o ataque.

Como chefe da organização, a responsabilidade por isso recai sobre mim". Antes dele, vários comandantes da FDI (Forças de Defesa de Israel) e o chefe do Conselho de Segurança Nacional reconheceram suas responsabilidades que resultou em 1400 mortes em Israel e em guerra que ameaça se tornar regional.

Não assumiram nenhuma culpa ainda o primeiro-ministro Benjamin Netanyaqhu e o ministro da defesa Yoav Gallant. O chefe do Shin Bet escreveu mais em sua carta a seus subordinados:  

"Perdemos dez de nossos melhores funcionários, muitos de nós ficaram feridos e nossos membros do serviço perderam seus entes queridos. Inúmeras histórias de bravura". De acordo com ele, “desde o primeiro dia do conflito, estabelecemos um sistema especial, em cooperação com a FDI, para localizar, identificar e concentrar esforços para trazer de volta os reféns e as pessoas desaparecidas”. 

Fronteira de Rafah ainda não foi aberta

A porta de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, não foi aberta hoje, como estava previsto ontem. Por ela passariam cidadãos binacionais que foram surpreendidos com a guerra iniciada pelo Hamas. Há brasileiros na fila. Os reféns, não. Seriam agora 199, por uma nova contagem feita por Israel, e devem estar espalhados pela rede de túneis em Gaza, conhecida por "metrô". 

As Forças de Defesa de Israel (FDI), prontas para atacar o Hamas por terra, esperam há dias a ordem de "avançar". A demora tem a ver com o perigo que representará para a vida dos reféns, e também com a pressão diplomática para que seja adiada, exercida sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por vários países ocidentais. 

Os israelenses, sondados por uma pesquisa, querem retaliação pelo maior número de mortos e humilhação que sofreram num só dia, 7 de outubro, desde o holocausto nazista. Mas o tempo passando, Israel vê sua legitimidade de resposta, unânime ante as cenas brutais dos ataques, nos primeiros dias, sendo substituida por fotos e vídeos dos mortos e feridos dos bombardeios a Gaza —  um "túmulo aberto". 

Israel estabeleceu um perímetro na sua fronteira norte, desligou os GPSs na região e está retirando para locais mais seguros os habitantes de 28 comunidades que estão a dois quilômetros do alcance dos morteiros do Hezbollah, cria iraniana poderosa e bem armada. 

Os EUA pediram ao Irã que fique distante do conflito e o reforçaram com a presença de dois porta-aviões no Mediterrâneo. Há pouco, uma barragem de mísseis mirou Jerusalém. A reunião no Parlamento foi suspensa. Os deputados correram para os abrigos antiaéreos.

Jornais do Oriente Médio repercutem guerra

Nos jornais do Oriente Médio desta segunda-feira:

  • HAARETZ israelense, mancheta com a tensão no Norte, fronteira com o Líbano, onde ocorreram duelo de misseis e artilharia entre o Hezbollah e Israel, com mortos de ambos os lados.
  • JERUSALEM POST, israelense, também dá manchete com a tensão com o Hezbollah.
  • THE PENINSULA, do Qatar, destaca a importância da abertura de um corredor humanitário em Gaza.
  • MUSCAT DAILY, Oman: Organização Mundial da Saúde diz que a ordem de evacuação dos palestinos do Norte para o Sul é uma sentença de morte para doentes e feridos.
  • KUWAIT TIMES: Invasão de Gaza pode resultar em genocídio.
  • GULF NEWS, Dubai: EUA temem escalada da guerra e a perspectiva de que o Irã assuma um papel na diminuição da tensão.
  • THE NATIONAL, Abu Dhabi: Egito condena Israel pela punição coletiva a que submete Gaza.

Criador da série Fauda analisa guerra em Israel

O criador da série Fauda, Avi Issacharoff, ficou chocado com a invasão do Hamas a Israel no sábado passado: "Supera qualquer coisa que a imaginação possa inventar", ele disse numa longa entrevista ao jornal israelense Yedioth Aharonoth.

"Vou lhe contar um segredo", Issacharof acrescentou: "Na quinta temporada, Lior (Raz), eu e Noah Stollman, o roteirista principal, pensamos em um enredo semelhante ao que está acontecendo agora. Nós a descartamos depois de exatamente cinco minutos. Você conclui: Isso simplesmente não vai acontecer".

Issacharoff serviu em tropa de elite israelense até ser ferido por um tiro na perna. Ele ficou muito tempo em Gaza e a conhece muito bem. "Passei horas com a liderança do Hamas". Desde 2009 Israel apoiava o Hamas em detrimento da Autoridade Palestina. Era preciso enfraquecê-la para impedir negociações de paz. Para o Hamas seguiam dinheiro, eletricidade, água, caminhões com mantimentos e muitos vistos de trabalho para palestinos entrarem em Israel para trabalhar. "Criamos um monstro".

Para Issacharoff, o planejamento para o ataque retrocedeu à Idade da Pedra: sem telefones, sem computadores, sem cartões de crédito, só mensagens escritas ou orais. Assim a catástrofe se desenrolou. Quando perguntado o que ops reféns deveriam estar sofrendo, ele respondeu: "Prefiro não responder neste momento".

Sobre o que Israel deve fazer agora, ele diz: "A única coisa com a qual o país deve se preocupar no momento é como erradicar o Hamas. Podemos falar sobre acordos na próxima etapa. Precisamos fazer com que o Hamas se arrependa do momento em que começou essa aventura militar. Se não fizermos com que eles se arrependam desse momento, teremos algo semelhante no ano que vem."

Sobre o fracasso dos serviços de inteligência e o monitoramento de Gaza, Issacharoff comentou:

"Poderíamos dizer que tudo desmoronou como um dominó. Quais são as chances de os pontos de observação da IDF (Forças de Defesa de Israel) não detectarem nada, porque com as antenas destruidas não viam nada? Quais são as chances de não haver Força Aérea? Onde ela estava? A fronteira estava sendo invadida por horas com balões e drones. Você se pergunta como isso é possível? Nos momentos mais urgentes, não há resposta da Força Aérea. Tudo funcionou contra nós e a favor do Hamas".

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