Casos de antissemitismo na Alemanha dobram em 2024

Governo alemão relaciona aumento de crimes ao conflito no Oriente Médio e vê risco de violência no próximo dia 7 de outubro, aniversário de um ano da ofensiva terrorista do Hamas contra Israel.

Por Deutsche Welle

Os casos de antissemitismo registrados pelas autoridades alemãs entre janeiro e outubro de 2024 dobraram em comparação com o mesmo período do ano passado. A polícia investigou 3,2 mil crimes de antissemitismo neste ano, em comparação com os 1,6 mil no ano passado.

Os dados foram divulgados pelo Ministério do Interior da Alemanha nesta sexta-feira (04/10) com o objetivo de fazer um balanço de um ano do ataque realizado pelo grupo extremista palestino Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023. Foram quase 14 registros de crimes contra judeus por dia.

Se considerados apenas os crimes relacionados aos conflitos que acontecem no Oriente Médio, a polícia alemã registrou 8,5 mil crimes com motivação política desde o atentado terrorista de outubro de 2023. Destes, 3,4 mil casos foram tomados como antissemitismo. Os principais crimes registrados foram de danos à propriedade e incitação ao ódio contra judeus.

"O número de casos de antissemitismo relacionados ao conflito no Oriente Médio é alarmantemente alto. Vários grupos extremistas estão usando a situação no Oriente Médio como uma oportunidade para incitar o ódio e a violência contra os judeus ou o Estado de Israel e/ou para negar seu direito de existir”, escreveu a pasta.

O Ministério afirma que, desde 7 de outubro, grupos sunitas não-palestinos que não vinculavam sua agenda política ao conflito no Oriente Médio no passado, agora passaram a explorá-lo, o que motivou parte dos crimes registrados.

O governo elenca manifestações que ocorreram em novembro, na cidade de Essen, e em abril e maio, em Hamburgo, como exemplo de mobilização de grupos que questionam o direito de Israel de existir.

"O aumento quantitativo de eventos antissemitas mostra que uma escalada do conflito no Oriente Médio pode levar a uma considerável emotividade da população muçulmana também na Alemanha, até mesmo ao ponto de ataques violentos”, diz o relatório.

Alemanha vê risco de violência em 7 de outubro

Segundo o governo alemão, a escalada de violência no Oriente Médio, como resultado dos ataques com pagerse donúmero alto de mortes no Líbano, pode gerar reações na Alemanha. "Não se pode descartar que ações violentas de indivíduos ou pequenos grupos ocorram como parte de uma manifestação ou separadamente contra alvos israelenses e judeus", diz o relatório.

O chefe de inteligência interna da Alemanha, Thomas Haldenwang, também alertou que o aniversário do ataque de 7 de outubro do Hamas contra Israel pode ser um "evento desencadeador” de tumultos.

Para o chefe do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), o antissemitismo e a hostilidade contra Israel são um "elemento de ligação” entre "islamistas, extremistas pró-palestinos e outros grupos radicais de extrema direita e extrema esquerda”.

"O aniversário pode ser um evento desencadeador para grande parte do espectro de protestos”, afirmou, alertando para um "grande potencial de emocionalização, polarização e radicalização".

As autoridades policiais também veem possível ocorrência de "ataques jihadistas” no país. "Estamos encarando os próximos dias com grande preocupação”, disse o porta-voz da polícia Benjamin Jedro.

Em 7 de outubro do ano passado, horas depois do ataque do Hamas a Israel, Berlim havia sido palco de uma "celebração" que reuniu um grupo de dezenas de pessoas que se concentraram no distrito de Neukölln. Exibindo bandeiras palestinas, membros do grupo entoaram cantos contra Israel e distribuíram doces para os participantes, reunidos na via Sonnenallee, que fica numa área da capital alemã que conta com uma comunidade muçulmana significativa. Na ocasião, a celebração da chacina de israelenses provocou indignação no meio político alemão, levando as autoridades a reprimirem outras concentrações do tipo.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 deixou 1.205 pessoas mortas em Israel, a maioria civis, de acordo com números oficiais israelenses que incluem reféns mortos em cativeiro.

Já a ofensiva retaliatória de Israel em Gaza matou pelo menos 41.788 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas.

Como a DW mostrou, os casos de islamofobia e discriminação contra muçulmanos também crescem na Alemanha. Foram 1.926 registros até junho deste ano.

gq (AFP, Bundesamt für Verfassungsschutz, tagesschau)

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