"Vou arrancar esse chapéuzinho da sua cabeça", ouve um homem em Göttingen. "Some daqui, sua judia imunda", recebe outra como resposta ao pedir à vizinha que estacione o carro em outro lugar na rua. Uma terceira tem a vaga em uma república estudantil em Colônia negada por não ter rechaçado a ação de Israel na Faixa de Gaza.
Esses são três dos 4.782 casos de antissemitismo registrados em 2023 pela associação Rias – um aumento de 83% em relação ao ano anterior, sendo que 2.787 episódios ocorreram após o atentado de 7 de outubro do Hamas contra Israel.
"Nunca desde a fundação da Alemanha [no pós-guerra] a vida judia esteve tão ameaçada aqui", afirmou nesta terça-feira (25/06) o encarregado do governo federal para combate ao antissemitismo, Felix Klein, ao comentar o relatório.
Klein defendeu a criação de novas leis para punir o antissemitismo. O atual arcabouço legal criminaliza a queima de bandeiras de outros países. Segundo ele, esse entendimento precisa valer também para quem incita à destruição de outras nações, bem como contra quem agita contra estrangeiros e usa códigos de linguagem antissemitas.
Relatório contabiliza não só crimes, mas também atos considerados discriminatórios
Os casos registrados abrangem não só ataques e ameaças, mas também hostilidades que não são enquadradas como crime – e que, portanto, não aparecem nas estatísticas criminais.
Dos mais de 4,7 mil casos, sete eram de violência extrema, sendo que cinco ocorreram após o atentado do Hamas contra Israel em 7 de outubro. Um desses episódios foi a tentativa de incêndio criminoso contra uma sinagoga em Berlim e a casa de uma família na região do rio Reno.
Dentre os casos mais graves estão também 121 ataques, 329 danos patrimoniais e 183 ameaças. Dois terços desses episódios aconteceram após o 7 de outubro.
A maioria dos registros, 4.060, foram ofensas. Essa categoria inclui 833 reuniões públicas com slogans, cartazes ou discursos antissemitas. Boa parte dos episódios de antissemitismo estava associada à rejeição do Estado de Israel, e aconteceram majoritariamente em ambientes públicos.
Esse quadro, segundo a associação representativa dos judeus na Alemanha (Zentralrat der Juden), estaria provocando em muitos a sensação de isolamento e insegurança. O temor é que a hostilidade em relação aos judeus permaneça mesmo com o fim da guerra no Oriente Médio.
"Muitos se questionam se poderão ter um futuro livre e seguro na Alemanha", afirma o diretor da associação judaica, Daniel Botmann. "Para judias e judeus, o espaço público é cada vez mais inseguro. Eles têm medo de se identificar como judeus."
Conflito também respinga na comunidade muçulmana vivendo na Alemanha
Na segunda, a organização Claim, que atua contra a islamofobia e a discriminação a muçulmanos, informou que crimes com essas motivações mais do que dobraram na Alemanha no ano passado, com um total de 1.926 casos.
"O racismo anti-muçulmano não é aceitável. Os números também aumentaram. O pior que poderia acontecer é jogar a luta contra a discriminação de um contra a luta contra a discriminação de outro. Precisamos formar alianças, e estou muito feliz que isso esteja acontecendo com sucesso dentro do governo", comentou Felix.
ra (dpa, kna, epd)