Carrefour prepara retratação ao governo brasileiro

Embaixada francesa costura pedido de desculpas após CEO global da empresa anunciar boicote à carne sul-americana. Pressão do grupo contra acordo Mercosul-UE gerou reação de frigoríficos brasileiros.

Por Deutsche Welle

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou nesta segunda-feira (25/11) que a embaixada francesa no Brasil está em diálogo com a pasta para apresentar uma retratação do Grupo Carrefour ao governo brasileiro diante da crise aberta pelo CEO da companhia, Alexandre Bompard, ao boicotar a compra de carnes de países do Mercosul.

"O embaixador francês se ofereceu, falando com o nosso secretário de relações internacionais, para ser um intermediador de uma proposta para apaziguar este assunto. Estão intermediando com o Carrefour uma fala de retratação por parte da companhia francesa. O timing não é nosso, é da companhia. É importante ressaltar que nós temos uma boa relação diplomática com a França, não é um assunto governamental", disse o ministro em entrevista à Rede Globo.

O embaixador francês no Brasil, Emmanuel Lenain, já apresentou um rascunho do pedido de desculpas em uma primeira rodada de negociações com representantes do ministério na segunda-feira. Segundo o jornal Valor Econômico, o texto ainda deve ser revisado para incluir reivindicações do ministro. A pasta exige que a retratação inclua um reconhecimento de erro e reforce a qualidade sanitária do produto brasileiro. Também quer que a retratação venha do próprio Bompard, e não de um representante brasileiro.

Veto à carne sul-americana

A pressão política e econômica contra a sede francesa do Carrefour se abriu na segunda-feira, após Bompard publicar uma carta em que proíbe as lojas francesas da rede de comprarem carne de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Na ocasião, agricultores franceses entravam no terceiro dia de protestos massivos contra o acordo costurado entre Mercosul e União Europeia para formar o maior bloco de livre-comérciodo mundo. O executivo disse ter ouvido o "desânimo e a raiva dos agricultores" e afirmou que a proteína animal desses países não atende às exigências e normas do mercado francês.

O anúncio acontece como tentativa de pressionar os dois blocos a interromperem as tratativas para formalizar o acordo, cujo texto original foi assinado em 2019. Sua implementação, porém, nunca saiu do papel. Discutido há mais de duas décadas, o acordo voltou a ganhar força em 2023, quando o lado europeu apresentou um protocolo adicional para adaptar o texto às novas exigências ambientais da União Europeia, o que reabriu negociações do lado sul-americano por mais incentivos às indústrias nacionais.

Reação dos frigoríficos

O veto à carne sul-americana, restrito ao mercado francês, causou reação imediata de frigoríficos brasileiros como JBS, Marfrig e Masterboi, que decidiram boicotar o fornecimento de proteína bovina também às lojas brasileiras do Grupo Carrefour, que incluem Atacadão e Sam's Club.

A reação foi endossada pela Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm), que disse não aceitar "ataques injustificados" e sugeriu uma reação "firme" contra o grupo. O movimento de forçar o desabastecimento da rede também foi apoiado por Fávaro.

"Eu estou feliz com a atitude dos nossos fornecedores, se para o povo francês, o Carrefour não serve para comprar carne brasileira, o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas lojas aqui no Brasil", disse em entrevista à Globo News. "Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, que é inadmissível falar", completou.

Representantes da pasta têm reforçado que o impacto do boicote francês à balança comercial brasileira é menor do que o risco sofrido pelo Carrefour de desabastecer suas lojas brasileiras.

Em nota enviada na segunda-feira, a operação brasileira do Carrefour afirmou que as operações da empresa no país não seriam impactadas pela decisão de Bompard. Com a reação dos fornecedores, porém, o grupo diz que a "decisão [dos frigoríficos] pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes".

gq/as (DW, ots)

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