Entrevistado por uma das revistas mais importantes do mundo, a TIME, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que os Estados Unidos e a União Europeia poderiam ter impedido a invasão da Rússia à Ucrânia, que ocorre desde fevereiro e já deixou milhares de mortos.
Na publicação, a Time chama Lula de “presidente mais popular do Brasil” e tratou Jair Bolsonaro (PL) como presidente de extrema-direita.
Lula falou sobre a fragilidade da democracia brasileira, sua disputa contra Bolsonaro, o papel do Brasil no mercado de petróleo, além do conflito na Ucrânia, apontando o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como “tão responsável quanto Putin” pela guerra.
Segundo Lula, milhares de vidas poderiam ter sido salvas se os países garantissem ao presidente russo Vladmir Putin que não haveria expansão da Organização das Nações Unidas (Otan) no Leste Europeu.
“Não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, disse o ex-presidente brasileiro.
Lula também disse que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, "quis a guerra".
“Ele quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, disse Lula.
Na visão de Lula, o presidente dos EUA também poderia ter evitado o avanço do conflito. Biden poderia falar: ‘Vamos conversar um pouco mais. Nós não queremos a Ucrânia na OTAN, ponto’. Não é concessão”, disse.
Lula destacou que, caso fosse presidente, não aceitaria um eventual convite para que o Brasil se tornasse parte da Otan. “Deixa eu lhe contar uma coisa: se eu fosse presidente da República e me oferecessem ‘o Brasil pode entrar na Otan’, eu não ia querer”.
Candidatura
Lula disse à Revista Time que não pretendia mais ser presidente da República, quando deixou o cargo em 2010, mas que decidiu voltar ao Palácio do Planalto depois do que viu acontecer após "o golpe na presidenta Dilma Rousseff.
“Quando deixei a Presidência em 2010, efetivamente eu não pensava mais em ser candidato à Presidência da República. Entretanto, o que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre— todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego—, tudo isso foi destruído, desmontado. Porque as pessoas que começaram a ocupar o governo depois que deram o golpe na presidenta Dilma [Rousseff] eram pessoas que tinham o objetivo de destruir todas as conquistas que o povo brasileiro tinha obtido desde 1943”, disse.
Petróleo
Lula defendeu que é inviável o Brasil abrir mão da produção e exploração de petróleo neste momento, indo contra a proposta do candidato à Presidência na Colômbia, Gustavo Petro, que propôs um bloco antipetróleo em que os países deixariam imediatamente de explorar o petróleo.
“Veja, eu acho que o Petro tem o direito de fazer todas as propostas que ele quiser fazer. Mas no caso do Brasil é irreal. No caso do mundo é irreal. Você ainda precisa do petróleo por um tempo, você não consegue”, disse.
O brasileiro destacou que não é possível abrir mão da dependência do petróleo do dia para a noite. “Não dá para imaginar que os Estados Unidos vão parar de utilizar petróleo do dia para a noite, ou qualquer país”, disse.
Charmoso e falando do passado
No Twitter, a jornalista Ciara Nugent, da Time, responsável pela entrevista, resumiu a conversa dizendo que Lula foi “muito charmoso e falava muito do passado”.
“Sentei com @LulaOficial para saber como ele planeja “reconstruir” o Brasil depois de Bolsonaro. Lula era muito charmoso, e falava muito do passado”, disse.
Nugent destacou os pontos altos da entrevista dizendo que Lula “promete colocar os pobres de volta no centro da política econômica – mas não estava interessado em compartilhar detalhes”.
“Ele teve palavras duras para Zelensky da Ucrânia e os EUA/UE: “Esse cara é tão responsável quanto Putin pela guerra. Nós deveríamos ter uma conversa séria. OK, você era um bom comediante. Mas não vamos fazer guerra para você aparecer na TV.”, destacou.
A jornalista também falou sobre a posição de Lula sobre o petróleo. “E ele foi bastante desdenhoso do bloco anti-petróleo proposto por @petrogustavo . "Olha, o Petro tem o direito de propor o que quiser. Mas no caso do Brasil, isso não é real."