Os iranianos acordaram nesta segunda-feira com cantos religiosos na TV e rádios, a bandeira a meio-pau e cinco dias de luto pela morte do presidente Ebrahim Raisi e oito outros passageiros do helicóptero que despencou, sob mau tempo, ao lado da mina de cobre Sungun, entre as cidades de Jolfa e Varzagan, durante um voo da fronteira do Azerbaijão para Tabriz, um trajeto de 100 quilômetros.
A morte do presidente Raisi foi anunciada no santuário xiita mais venerado do Irã, o mausoléu do Imã Reza, em Mashad, cidade em que ele nasceu, em novembro de 1960. “Martírio no cumprimento do dever”, a manchete do jornal Tehran Times, foi repetida em pôsteres e pelos âncoras de noticiários. Um comunicado do governo iraniano o lembra como “o presidente do povo iraniano, trabalhador e incansável, sacrificou a sua vida pela nação”. E acrescenta a “segurança” de que, com ajuda de Alá e do povo, não haverá nenhum tipo de interrupção na administração do país”.
O turbante preto do presidente Raisi significava que ele era um descendente do profeta Maomé. Nasceu em família religiosa e estava cotado para suceder o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.
O governo se reuniu pela manhã, com a cadeira em que ele se sentava vazia. O mais antigo dos 15 vice-presidentes, Mohammad Mokhber, 69 anos, assumiu a presidência iraniana, interinamente, com a obrigação constitucional de convocar eleições no prazo de 50 dias. Três outros passageiros mortos na queda do helicóptero são o chanceler do Irã, Hossein Amir Abdollahim, o governador do Azerbaijão oriental, Malek Rahmati, e o líder das orações de sexta-feira de Tabriz, aiatolá Hojjatoleslam Ali Al-Hashem.
O presidente russo Vladimir Putin foi um dos primeiros a telefonar para Mokhber. Elogiou Raisi, chamando-o de “político notável, verdadeiro amigo da Rússia”. Para o Hezbollah e o Hamas, ele será lembrado como “Protetor dos movimentos de Resistência”. Em seu último discurso, na inauguração da barragem que o levou de helicóptero à fronteira com o Azerbaijão, ele declarou que “a questão da Palestina é a questão mais importante do mundo islâmico”.
Raisi foi um presidente linha dura, ultraconservador, eleito em 2021, depois de décadas no judiciário – função que lhe valeu o apelido de “Carniceiro de Teerã”, por ser de um comitê que decretou a execução de centenas de prisioneiros. Nos últimos meses de seu governo, houve uma escalada de tensão com Israel, que matou sete membros da Guarda Revolucionária iraniana reunidos num prédio ao lado da embaixada do Irã na Síria, em 1º de abril. Raisi prometeu que o ataque “não ficaria sem resposta”. E a resposta foram 350 mísseis e drones disparados diretamente ao território israelense, pela primeira vez. Até então, o Irã usava o Hezbollah, o Hamas, os Houtis iemenitas e milícias no Iraque para atacar Israel.
O presidente Raisi também enfrentou protestos internos, que reprimiu com brutalidade, com mais de 500 mortos, depois que sua polícia da moralidade prendeu uma jovem curda, Mahsa Amini, por não vestir o hijab segundo o padrão estabelecido pelos clérigos. Ela morreu três dias depois, num hospital para onde foi levada já em coma, depois de espancada.