Bicentenário da Independência do Brasil é chance de ampliar olhar sobre a data

Avaliação é de Lilia Schwarz e Heloisa M. Starling, entrevistadas do Canal Livre deste domingo

Da Redação

Às vésperas do bicentenário da Independência do Brasil, o país tem a chance de rever a movimentação de 1822 e dar valor mais amplo às diversas revoltas que levaram ao ápice do processo histórico.

A avaliação é das historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa M. Starling, em entrevista ao Canal Livre deste domingo (26), que debate os quase 200 anos de independência, com seus personagens e seus reflexos na sociedade. Segundo Lilia, a imagem que se criou da separação entre Brasil e Portugal é, ainda hoje, “muito colonial, muito europeia, muito masculina e muito voltada para a experiência da região Sudeste”.

“A gente tem uma responsabilidade grande em 2022, porque acho que é hora de a gente perguntar qual independência a gente quer comemorar. Acho que nós temos a lenda de uma independência passiva, calma, e contamos apenas a história de São Paulo e do Rio de Janeiro. O que nós não sabemos, por exemplo, é que a Bahia comemora a data da independência em outro local, que o Piauí teve uma independência com muitos mortos na Batalha do Jenipapo (1823), que São Luís do Maranhão igualmente teve uma história muito diferente”, listou.

A historiadora ainda lembrou a participação de mulheres como a imperatriz Maria Leopoldina, a militar Maria Quitéria e a escrava liberta Maria Felipa de Oliveira. “Dentre as pessoas que influenciaram Pedro I, estava Maria Leopoldina. Por que a gente trata das mulheres sempre como ‘mulher de’, ‘esposa de’, ‘filha de’, não trata como protagonistas?”, questionou.

A pesquisadora é uma das autoras do livro Brasil: Uma Biografia (2015), escrito a quatro mãos com Heloisa M. Starling. Para Heloisa, um esboço do Brasil independente começou a ser formado a partir de conjurações em diversas regiões, debatendo temas como a abolição da escravatura.

“Se a gente olhar para o conjunto, nós temos um pensamento e uma visão de Brasil se formando, e as ideias circulando. E isso é muito interessante para a gente entender como as coisas se movimentam – senão a gente fica pensando em um momento só”, explicou a antropóloga.

As pesquisadoras se dividem a respeito das características do imperador Pedro I, como uma figura autoritária e sedutora.

“Eu acho que Dom Pedro é um personagem interessante. Repara que ele seduz”, argumentou Heloísa. “Nós estamos lidando com um sujeito que foi educado para ser um príncipe do antigo regime. Querer de Dom Pedro determinadas coisas não vai ter. A cabeça de Dom Pedro é a cabeça do antigo regime”, acrescentou.

O Canal Livre deste domingo vai ao ar às 20h na BandNews TV, e será exibido na Band à 0h30, depois da Sessão Especial.

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