A retomada às aulas presenciais em um cenário pós-pandemia do novo coronavírus no Brasil deverá mostrar uma escola diferente, atestando a função social da educação.
A avaliação é de alguns dos maiores especialistas do Brasil no assunto. Em entrevista ao Canal Livre deste domingo, Claudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial, destacou o papel da escola não apenas no ensino, mas também na socialização de crianças e adolescentes.
“Evidentemente, a educação precisa ser olhada com prioridade, mas também com segurança. Nós temos que evitar de fechar escolas – educação precisa acontecer, não só por conta da transmissão de conhecimento, mas também porque é na escola que ocorre a introdução da criança e do adolescente a uma sociedade mais ampla que a sua família. A criança, o jovem, precisa disso”, disse.
“Além disso, a escola funciona como um sistema de proteção à infância. Especialmente na escola pública, é importante identificar se há casos de trabalho infantil, violência doméstica, exploração sexual de crianças e adolescentes. A escola cumpre um importante papel. Fechar escola deveria ser um recurso necessário para os momentos mais graves da pandemia, mas não adianta manter a vida e destruir a possibilidade de futuro dessas crianças e jovens”, acrescentou.
Para Costin, com a presença da Covid-19 no Brasil há mais de um ano e escolas ainda sem a atuação plena, o professor ganhou maior reconhecimento por parte das famílias.
A opinião é semelhante à de Alexandre Schneider, pesquisador da Universidade de Columbia e ex-secretário de educação de São Paulo.
“Acho que a gente aprendeu, fundamentalmente, que a escola importa, e que o professor importa”, disse Schneider. “Acho que, para os pais, por exemplo, ficou evidente que esse é um oficio para um profissional.”
Para Schneider, que também preside o Instituto Singularidades, a educação terá alguns desafios a partir da pandemia do novo coronavírus. Entre eles, formar professores preparados para o impacto causado pela Covid-19 e organizar aulas que sejam capazes de sanar os danos provocados pelo período durante o qual alunos e professores ficaram afastados das salas de aula.
“É lógico que é duro. É dramático, a gente tem que estar preocupado, mas a gente tem que trabalhar para que eles possam voltar - em algum tempo, dois, três anos - ao ‘trilho’ que a gente imaginava que eles iriam estar. Isso vai ser com trabalho”, aponta.
Segundo Claudia Costin, a doença precisará inclusive fazer parte do cenário da educação nos próximos anos, deixando claro que o eventual luto não é um tabu.
“A pior coisa que a gente poderia fazer na volta às aulas é fingir que nada aconteceu”, diz Costin, que dirige o Centro de Excelência e Inovação em políticas Educacionais da FGV. “Essas crianças estão vivendo um fato histórico. Elas perderam entes queridos, seus pais perderam fonte de renda, houve adoecimento, todos nós conhecemos gente que adoeceu de Covid. Por que não trazer esses fatos para a escola? Eles podem e devem ser conversados na escola.”
O programa vai ao ar às 20h na BandNews TV, e será exibido na Band à 0h. A apresentação é de Rodolfo Schneider. Participam da bancada os jornalistas Fernando Mitre e Veruska Boechat.