
Na avaliação do cientista político Fernando Abrucio, o ex-presidente Jair Bolsonaro quer seguir o mesmo caminho de presidente Lula em 2018. Na época, o petista foi condenado pelo ex-juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo um tríplex no Guarujá. Um ano depois, ele foi solto e se lançou candidato nas eleições de 2022 e venceu o próprio Jair Bolsonaro.
“O Bolsonaro quer seguir o mesmo caminho do Lula de 2018. Ele está decidido a isso. Precisamos lembrar que as lideranças políticas não se adequam ao que a gente propõe de costumes políticos. O Bolsonaro vai tentar até o final ser o candidato ou definir quem vai ser seu sucessor o mais o próximo possível. O medo do Bolsonaro é que uma liderança da direita o substitua”, explicou em entrevista ao Canal Livre.
Congresso não deve aprovar anistia
Já o cientista político Fernando Schüler afirmou que não há possibilidade de anistia no Congresso em relação à a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas.
Acho que não há nenhuma probabilidade real de anistia no Congresso. Já não tinha antes, acho muito improvável agora. Isso não está na agenda do deputado Hugo Motta, na agenda Senado Federal. Não tem voto para isso no Congresso Nacional”, explicou durante participação no Canal Livre.
Schüler ainda usou o exemplo de uma pessoa presa pelos atos de 8 de janeiro e explicou que as penas para os denunciados pela tentativa de golpe devem ser duras.
“Realisticamente, do ponto de vista político, esse processo está dado. Se uma senhora que pintou com batom a frase 'perdeu, mané' em uma estátua, que foi limpa em 15 minutos, e está dois anos presa e vai ser condenada a 16, 17 anos, obviamente as pessoas que tentaram de fato uma quebra de ordem constitucional ou golpe vão receber penas muito duras. Acho que não há nenhuma possibilidade de reversão disso, nem no Supremo e nem no Congresso Nacional”, afirmou.
Entenda
A PGR (Procuradoria Geral da República) denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 33 pessoas por envolvimento em um plano de golpe de Estado, que teria sido preparado após a eleição de 2022. Veja abaixo, no fim do texto, a lista de todos denunciados e as defesas de Bolsonaro e Braga Netto.
A denúncia, com 270 páginas, diz que Bolsonaro e o candidato a vice-presidente dele, Walter Braga Netto, eram os líderes de uma organização criminosa responsável por “atos lesivos” à democracia. Segundo a PGR, o atentado era contra os 3 poderes e "com forte influência de setores militares".
Portanto a PGR considera que há indícios suficientes para concluir que houve crime. Neste caso a maioria dos denunciados, inclusive Bolsonaro, é acusada por 3: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Quando o plano começou a ser revelado, foi divulgado que a intenção era matar o presidente Lula (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB). De acordo com a PGR, Bolsonaro sabia dessa intenção: "O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu , ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira) se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições", escreveu o procurador-geral.
O inquérito que deu origem à denúncia, feito pela Polícia Federal, concluiu que esse plano golpista não foi colocado em prática porque o Exército não aderiu.
Agora, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidirá se acata a denúncia, o que tornaria o ex-presidente réu e iniciaria uma ação penal contra ele. O relator é Alexandre de Moraes. Entenda os próximos passos após a denúncia da PGR.
Veja a lista de denunciados pela PGR
- Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República
- Walter Souza Braga Netto, ex-candidato a vice-presidente
- Alexandre Rodrigues Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin e deputado federal
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marina
- Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- Ailton Gonçalves Moraes Barros
- Angelo Martins Denicoli
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
- Bernardo Romão Correa Netto
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
- Cleverson Ney Magalhães
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
- Fabrício Moreira de Basto
- Filipe Garcia Martins Pereira
- Fernando de Sousa Oliveira
- Giancarlo Gomes Rodrigues
- Guilherme Marques de Almeida
- Hélio Ferreira Lima
- Marcelo Araújo Ormevet
- Marcelo Costa Câmara
- Márcio Nunes de Resende Júnior
- Mario Fernandes
- Marília Ferreira de Alencar
- Nilton Diniz Rodrigues
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
- Rafael Martins de Oliveira
- Reginaldo Vieira de Abreu
- Rodrigo Bezerra de Azevedo
- Ronald Ferreira de Araujo Junior
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
- Silvinei Vasques
- Wladimir Matos Soares
Os crimes atribuídos a Bolsonaro e aos outros denunciados
- tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito
- golpe de estado
- organização criminosa armada
- dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima
- deterioração de patrimônio tombado
Defesa de Bolsonaro nega acusação e confia na Justiça
A defesa do ex-presidente se manifestou com uma nota à imprensa. Os advogados informaram que a denúncia foi recebida com indignação, negaram toda a acusação e concluíram que confiam na Justiça.