Canal Livre: por que a Independência do Brasil foi um processo até 1831?

No Canal Livre, o historiador José Murilo de Carvalho destacou a importância da permanência de Dom Pedro I no Brasil quando o pai voltou para Portugal

Da redação

O Canal Livre deste domingo (4) entrevista o historiador e cientista político José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de obras marcantes, como “A Formação das Almas”, “Os Bestializados” e “O Pecado Original da República”. A participação faz parte do projeto especial da Band sobre os 200 anos da Independência do Brasil.

O Canal Livre vai ao ar a partir das 20h, no BandNews TV. Depois da série Breaking Bad, às 23h30, o programa será transmitido na tela da Band. A apresentação é de Rodolfo Schneider. Como entrevistadores, participam os jornalistas Fernando Mitre e Lana Canepa.

Na percepção do historiador, o que hoje conhecemos como Brasil começou a se configurar com a chegada da Corte portuguesa à então colônia, em 1808. Diga-se de passagem, após questionamento de Fernando Mitre, José Murilo de Carvalho destaca que, no entendimento dele, o processo de independência do Brasil se deu daquele ano até 1831, quando Dom Pedro I abdicou do trono imperial para retornar a Portugal e deixá-lo nas mãos do filho brasileiro D. Pedro II.

“O Brasil é Brasil porque a Corte veio para cá. E, sobretudo, porque D. Pedro I ficou. Sem isso, não haveria Brasil. Nisso aqui, haveria uns quatro, cinco países, como nas colônias espanholas”, explicou o especialista.

Independência além do 7 de Setembro

Para José Murilo de Carvalho, o 7 de Setembro marcado pelo grito de D. Pedro I, nas margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, a princípio, não foi uma data tão importante, dada a extensão territorial do Brasil.

Somente províncias próximas, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de São Paulo, que já tinham em si sentimentos pró-separação de Portugal, abraçaram a ideia, a priori. Por outro lado, o restante do país, sobretudo o que se tinha como Norte, mantinha-se fiel a Portugal.

“Inclusive, poucas províncias tinham aderido ao 7 de Setembro. Na realidade, essa trindade Rio, São Paulo e Minas. Depois é que foi chegando a notícia. No Mato Groso, deve ter chegado uns dois, três meses depois a notícia. O Sul tinha as brigas deles lá. O Norte estava muito mais voltado para Portugal, Maranhão, Pará, Piauí”, continuou o historiador.

Protagonismo de Maria Leopoldina

José Murilo de Carvalho, inclusive, exalta o protagonismo e formação política de Maria Leopoldina, esposa de D. Pedro I, na assinatura da Independência. Quando o marido deixou a capital, legalmente, tornou-se a chefe de Estado. Cinco dias após assinar o documento, o imperador, ao tomar conhecimento, deu o famoso grito: “Independência ou Morte”.

Crítica ao coração de D. Pedro I no Brasil

Num contexto mais atual, no ano em que o país celebra os 200 anos da Independência, José Murilo de Carvalho criticou a operação de translado do coração de D. Pedro ao Brasil pelo governo federal. Segundo o historiador, a ação é um “jogo político” que favorece o Executivo brasileiro.

“Em primeiro lugar, é uma jogada política [vinda do coração do D. Pedro I ao Brasil]. Os militares fizeram isso com o corpo de D. Pedro I. Trouxeram para cá. É um jogo político nesse sentido de reforçar a ideia de proclamador da República. Isso favorece o governo. Obviamente, é o governo que está fazendo isso”, analisou José Murilo de Carvalho.

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