Uma semana após a coalizão que sustentava o seu governo se dissolver, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, confirmou nesta quarta-feira (13/11) que irá abrir o caminho para a realização de eleições antecipadas no país.
Em discurso no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, Scholz estabeleceu as datas para o processo: ele será submetido a um voto de confiança dos parlamentares em 16 de dezembro, o que tornaria viável a convocação de eleições antecipadas para 23 de fevereiro.
Até lá, ele pediu união dos partidos para que os trabalhos não fiquem paralisados. Há cerca de cem projetos de lei em tramitação, que tratam de temas como incentivos fiscais, revisão das faixas de imposto de renda, aumento de benefícios à infância e extensão do passe mensal de transporte público, o Deutschland-Ticket.
O governo do chanceler ficou na mão após a saída do neoliberal Partido Liberal Democrático (FDP), selada com a demissão do ministro das Finanças e líder o partido, Christian Lindner. Agora, os social-democratas do SPD (partido de Scholz) e os integrantes da Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde) não contam mais com maioria parlamentar.
"Devemos usar o tempo que temos agora e aprovar juntos leis muito importantes para os cidadãos, que não toleram atrasos, que são necessárias", disse Scholz, em um apelo direto ao maior grupo de oposição: os democratas cristãos (CDU) e seus parceiros bávaros, a União Social Cristã (CSU). "Para o bem do país, vamos trabalhar juntos até a nova eleição."
Friedrich Merz, líder da CDU, partido que tem uma clara liderança nas pesquisas, rebateu com dureza: "Se você ainda quer concluir certos projetos do seu governo quebrado com nossa ajuda, então dizemos a você: deste ponto em diante, você não tem condições a definir. Não seremos a opção de backup para seu governo quebrado."
"Você está dividindo o país", disse Merz. "Você é o responsável por essas controvérsias e por essa divisão na Alemanha. Você simplesmente não pode governar um país como este", disse o político.
Merz concorrerá como candidato a chanceler da CDU/CSU no ano que vem: "Depois de decidirmos sobre o voto de confiança, não antes, porque não confiamos nas promessas que nos fazem de antemão", provocou.
Durante o debate que se seguiu no Parlamento, os partidos dispararam críticas uns contra os outros, e Scholz pediu "mais harmonia na sociedade", citando os Estados Unidos como um alerta da polarização política.
Como a situação chegou a esse ponto?
A terceira maior economia do mundo vem lutando contra uma desaceleração econômica e está a caminho de encolher pelo segundo ano consecutivo, ainda na esteira da pandemia de covid-19, da guerra na Ucrânia e da competição com a China.
Desentendimentos sobre política econômica e fiscal para reanimar a economia alemã levaram à implosão da heterogênea aliança de três partidos uma semana atrás, no mesmo dia em que Donald Trump garantiu a reeleição para a Casa Branca.
Os social-democratas de centro-esquerda de Scholz, os verdes e os democratas pró-mercado se juntaram em 2021 para formar uma coalizão progressista com o intuito de modernizar o país.
O colapso da aliança ocorreu após semanas de disputas internas sobre como impulsionar a economia alemã. Os democratas liberais rejeitaram aumentos de impostos ou mudanças nos limites autoimpostos da Alemanha para aumentar a dívida e sugeriram corte em programas de assistência social. Enquanto isso, os sociais-democratas e os verdes defendem um investimento estatal maior e rejeitaram as propostas dos liberais democratas.
O que acontece agora?
Scholz disse ao Parlamento que apresentará um pedido de voto de confiança em 11 de dezembro para que o Bundestag possa se manifestar em 16 de dezembro. Até lá, os sociais-democratas e os verdes liderarão a Alemanha em um governo minoritário.
Um chanceler pode solicitar um voto de confiança do Bundestag para confirmar se ainda tem apoio parlamentar suficiente. Espera-se que Scholz perca o voto de confiança e, uma vez sem a maioria, ele pode pedir formalmente ao presidente que dissolva o Bundestag em 21 dias. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, já indicou que o fará.
Após a dissolução do Parlamento, novas eleições devem ser realizadas dentro de 60 dias, o que já tem data prevista: 23 de fevereiro.
As eleições antecipadas são organizadas da mesma forma que as eleições federais normais para a escolha dos representantes do Bundestag. São eles que irão eleger o próximo chanceler.
Esta será a sexta vez na história da Alemanha que um chanceler federal convocará o Bundestag para medir seu apoio. Apenas em dois casos anteriores o chanceler conseguiu permanecer no poder após a votação.
Quem está no páreo
A CDU, partido da ex-chanceler Angela Merkel e principal sigla da oposição no parlamento, lidera as pesquisas de intenção de votos, com cerca de 30%.
Friedrich Merz foi oficialmente nomeado como candidato do partido em setembro, e provavelmente se tornará o próximo chanceler da Alemanha, se os levantamentos se confirmarem.
Ele já está no modo de campanha. "Há uma grande sensação de alívio em nosso país. Há uma semana, a chamada coalizão progressista... é história. E isso continua sendo uma boa notícia para a Alemanha", disse o político no Parlamento depois do discurso de Scholz.
O segundo partido mais cotado para as eleições federais é o de ultradireita Alternativa para Alemanha (AfD), com cerca de 19%. A sigla informou que indicará sua líder, Alice Weidel, como candidata
Os social-democratas de Scholz, atualmente o partido mais forte no governo, estão em terceiro lugar, com cerca de 16%. Scholz disse que quer concorrer a chanceler novamente. No entanto, ele ainda não foi oficialmente nomeado pelo partido, e outro nome também é cotado: o ministro da Defesa, Boris Pistorius, um dos políticos mais populares da Alemanha.
Os verdes, que provavelmente escolherão o ministro da Economia Robert Habeck como seu candidato para chanceler, estão atualmente com 10%.
Quem vencer terá de contar com parceiros para formar um governo de coalizão.
Merz descartou qualquer aliança com o Partido de Esquerda, com a sigla populista de esquerda Sahra Wagenknecht Aliance (BSW) e com a AfD.
Elemento Trump
A vitória eleitoral de Trump lançou dúvidas sobre o nível de apoio futuro dos EUA à Ucrânia, agora em seu terceiro inverno de guerra enquanto luta contra a Rússia.
Scholz – cujo governo tem sido o segundo maior fornecedor de ajuda militar a Kiev depois de Washington sob o presidente Joe Biden – prometeu que o apoio alemão não vai parar.
"Temos a responsabilidade de garantir que (a Ucrânia) não seja deixada sozinha", disse ele, acrescentando que Kiev "pode contar com nosso país e nossa solidariedade".
Merz disse que o que a Alemanha precisa "o mais rápido possível" é de "um governo estável e eficaz".
Defendendo um estilo de política "fundamentalmente diferente", o político conservador também prometeu recuperar "o controle sobre a imigração" ao expulsar migrantes ilegais das fronteiras, em sintonia com o discurso de Trump.
O maior desafio agora é "restaurar a competitividade internacional da nossa economia", disse Merz.
sf/bl (DW, AP, AFP, DPA)