Burnout: quando o trabalho leva ao esgotamento

Síndrome ganha destaque entre os transtornos mentais com nova classificação da OMS e o home office. Mulheres também são maioria dos casos de exaustão

Metro Jornal

Mulheres dedicam quase o dobro de horas que homens com cuidados com pessoas e afazeres dom
Priscila Belavenute/Metro

Dois anos de pandemia nos fizeram incluir no vocabulário palavras como quarentena, lockdown, home oficce e, mais recentemente, o burnout. A busca pela palavra bateu recorde de interesse no ano passado no Google. Levantamento realizado pelo buscador a pedido do Metro mostra crescimento de 50% em pesquisas sobre o tema nos últimos 12 meses. 

A síndrome ganhou destaque em 2022 com sua inclusão na lista de doenças ocupacionais da OMS (Organização Mundial da Saúde), o que garante aos trabalhadores direito ao afastamento e demais benefícios. O termo em inglês, que significa algo como “queimar por completo”, é conhecido no Brasil também como Síndrome do Esgotamento Profissional. Classificado por um médico alemão em 1974, o burnout ganhou força após mudanças nas relações profissionais trazidas pela pandemia. E, apesar de a síndrome ser relacionada exclusivamente à relação com o trabalho, são novamente as mulheres com dupla jornada quem lideram os afastamentos. 

Dados obtidos pelo Metro Jornal via Lei de Acesso à Informação mostram que, até o ano passado, sem a inclusão do transtorno na lista da OMS, o burnout era enquadrado como “Problemas Relacionados com a Organização ao Modo de Vida”. Entre 2017 e abril de 2020, base mais recente do Ministério do Trabalho e da 

Previdência, o diagnóstico afastou 83% mais mulheres (959 casos) que homens 

(523). Uma pesquisa internacional realizada no ano passado pela consultoria  Mckinsey&Company indica ainda que o problema no mundo corporativo cresce mais entre elas. A exaustão que atingia 32% das executivas em 2020 passou a 42% no ano passado.

Consultora de carreiras e professora de psicologia pela PUC no Paraná e no Rio 

Grande do Sul, Mariana Holanda foi a primeira diretora de Saúde Mental e Diversidade do mercado, tendo exercido o cargo durante a pandemia na Ambev logo após passar ela mesma pelo burnout.

A psicóloga diz acreditar que a pandemia ampliou o foco das coisas por conta das famílias confinadas. “Nós estamos há dois anos só trabalhando, trancados em casa. O burnout vai estourar. Chegamos ao limite. A discussão foi elevada de nível e mostrou as desigualdades de gênero. Estamos em um momento de crise, de desconforto. Mas acredito que seja também um convite para a transformação.” 

Para ela, trabalhar o autoconhecimento de homens e mulheres nas empresas é importante quando se discute o tema. “As mulheres se tornaram provedoras e cuidadoras da casa e homens continuam apenas provedores. Isso não faz mais sentido. Por isso discutimos muito no mundo corporativo a necessidade de convergir. Porque não dá para ficar apontando o dedo um para o outro. As mulheres precisam ter consciência de sua história de luta para conseguirem se comunicar melhor e ganhar esse equilíbrio de relação assim como homens precisam abrir a sua cabeça para a aprendizagem.”

A psicóloga Márcia Barone, fundadora da startup de prevenção e promoção à saúde mental  no trabalho Falla, diz acreditar que o aumento de casos de burnout tenha ligação com o excesso de horas trabalhadas na pandemia. “Houve uma confusão entre o ambiente de casa e o do trabalho com o home office, que aumentou a carga para todos. Para as mulheres, há o agravante da maternidade e tarefas domésticas.”

Para ela, as empresas combatem os sintomas, mas ainda têm dificuldade para entender as causas do problema. “Uma ferramenta bacana é o mapeamento da saúde emocional dos funcionários. Ele é sigiloso, voluntário e auxilia a revelar adoecimentos.”

Mariana Holanda lembra que as empresas precisam individualizar suas propostas. “Soluções prontas não vão funcionar. As ações precisam ser integralizadas. Se não, vira só palestra. Quem não está fazendo o movimento com a consistência certa vai sofrer consequência de valor no mercado.” 

As psicólogas afirmam que a figura da liderança é muito importante para esse movimento. “Elas precisam ser figuras mais humanizadas para reconhecer sinais na equipe”, diz Márcia.

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