Bruno Covas, ex-prefeito de São Paulo falecido neste domingo, dia 16, em decorrência de um câncer no sistema digestivo, escreveu uma carta a correligionários dois dias antes de morrer. Nela, Covas citou as consequências catastróficas da Covid-19 no País e criticou atitudes do governo federal no combate à pandemia.
Carta foi lida na última sexta-feira, 14, no evento de filiação do vice-governador do estado de São Paulo ao PSDB, Rodrigo Garcia.
Leia a carta na íntegra abaixo:
"São Paulo, 14 de maio de 2021
Minhas companheiras e meus companheiros,
Espero que estejam bem e protegidos.
Gostaria de em primeiro lugar agradecer a todo carinho, a todas as orações e energia positiva que vocês têm me enviado. Lamento não conseguir responder a tantas mensagens, sintam-se todos abraçados. O apoio e o suporte de vocês têm sido decisivos no meu tratamento. Venho seguindo à risca as orientações da minha equipe médica e, de cabeça erguida, enfrentado os desafios que a vida me impõe. A luta é dura e árdua, mas não esmoreço e sigo em frente.
Esses últimos meses têm sido muito desafiadores para todos nós. A pandemia da Covid-19 tem cobrado um preço caro dos brasileiros e vamos caminhando para contabilizar 430 mil mortos. Uma tragédia sem precedentes que já deixa e vai deixar muitas marcas na nossa história. As consequências são catastróficas: vidas interrompidas, famílias em sofrimento, negócios em dificuldade, desemprego, pobreza e, lamentavelmente, a fome. Faço esse preambulo pois é exatamente sobre o que se trata o dia de hoje: política. A solução para nossos problemas só será enfrentada pela via da política, pela via democrática, pela seriedade com que os governos trabalham e realizam políticas públicas.
Tucanas e tucanos podem se orgulhar de todo o esforço que nossos governos, no estado de São Paulo e nos municípios, incluindo a nossa Capital, têm feito para enfrentar a pandemia. Das vacinas em produção e desenvolvimento pelo Instituto Butantan, à expansão vertiginosa da infraestrutura hospitalar, o fortalecimento do SUS em nosso estado é uma realidade.
Em contraposição ao governo federal, que vem desdenhando da vida e da saúde dos brasileiros ao longo da pandemia, o PSDB de São Paulo e seus aliados vêm demonstrando na prática aquilo que é sua vocação: responsabilidade pública, colocar a população, sobretudo a mais pobre, em primeiro lugar, cuidar de gente, fazer um trabalho técnico e baseado em evidências e na ciência, tomar atitudes difíceis e enfrentar as adversidades sempre com respeito, dignidade e defendendo a democracia.
Somos um partido forte, sólido, com muitos serviços prestados ao nosso país e ao nosso estado. Somos um partido de quadros competentes e que colocam o compromisso público em primeiro lugar.
É nesse contexto que quero ressaltar a importância dessa cerimônia de hoje. O momento do Brasil demanda de todos nós espírito público, unidade, agregação, somar e não dividir, não deixar nenhum interesse pessoal sobrepujar o interesse coletivo. Receber em nossos quadros o vice-governador Rodrigo Garcia sinaliza exatamente isso. Ele tem sido incansável na defesa do interesse público. Tenho por ele muito apreço e consideração. Foi decisivo na nossa vitória na eleição passada aqui na Capital e tem sido aliado histórico dos tucanos. Foi aliado do meu avô, foi aliado de Geraldo Alckmin, foi aliado de Serra, ê meu parceiro e aliado, é aliado do Governador Joao Doria, sempre esteve do nosso lado, nada mais natural do que se juntar a nós nessa caminhada.
Vejo nesse ato um resgate da história do nosso partido, inclusive para além das razoes que já mencionei, vejo um resgate do nosso manifesto de fundação.
No sonho de nossos fundadores, o Partido da Social-Democracia Brasileira, seria o partido capaz de juntar as forças democráticas ponderadas da república na luta pelo bem comum. Rodrigo é um liberal progressista, um parlamentarista, está afinado com nossos valores e ideais. Sua trajetória e sua experiência político administrativa vem contribuir em muito para que nosso partido possa se fortalecer ainda mais e continue a promover as mudanças que a população precisa no estado de São Paulo.
Seja bem-vindo Rodrigo Garcia, seja bem-vindo ao ninho tucano, seja bem-vindo a Social-Democracia Brasileira.
Muito obrigado,
Bruno Covas"
A trajetória de Bruno Covas
Nascido em Santos no dia 7 de abril de 1980, Bruno Covas era neto do ex-governador Mário Covas. Formou-se em Direito pela USP e em Economia pela PUC.
Filiado ao PSDB desde 1998, foi eleito deputado estadual em 2006 e reeleito em 2010. No entanto, licenciou-se do segundo mandato em 2011 para assumir a Secretaria Estadual do Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin.
Posteriormente, em 2014, elegeu-se deputado federal, cargo que exerceu até janeiro de 2017. Na eleição à Prefeitura de São Paulo em 2016, entrou como vice na chapa encabeçada por João Doria, que foi eleito.
O início do trabalho no Executivo marcou também uma mudança de visual e de hábitos. Bruno Covas pesava mais de 100 kg e dizia que morria de medo de ter um infarto. Isso fez com que aderisse a uma rígida dieta e emagrecesse 16 kg.
Em 2018, Bruno Covas assumiu como prefeito de São Paulo, diante da renúncia de Doria ao cargo para concorrer ao Governo de São Paulo. Em 2020, foi reeleito prefeito em uma disputa contra Guilherme Boulos (PSOL), quando já passava pelo tratamento contra os tumores – foram oito ciclos de quimioterapia.