Brics critica "sanções ilegais" e convida 13 países para a aliança

Cuba, Bolívia, Turquia e Belarus estão entre os 'Estados parceiros' cortejados pela aliança; entrada da Venezuela no bloco foi barrada pelo Brasil

Por Deutsche Welle

Brics critica "sanções ilegais" e convida 13 países para a aliança
Cúpula do Brics em Kazan, na Rússia
Reuters

O grupo do Brics, que reúne as principais economias emergentes do mundo, emitiu uma declaração conjunta nesta quarta-feira (23) em que condena os conflitos "no Oriente Médio e no Norte da África", além de se dizer preocupado com a influência de "sanções ilegais" à economia global — parte delas impostas a membros da aliança como Rússia e Irã.

A aliança, cuja cúpula se reúne em Kazan, sob presidência da Rússia, também defendeu que o chamado Sul Global tenha um papel mais importante em instâncias de governança internacional.

"Pedimos uma participação mais ativa e significativa dos países com economias emergentes, dos países em desenvolvimento e dos menos desenvolvidos, especialmente da África, da América Latina e do Caribe, nos processos e estruturas globais de tomada de decisões", disse a aliança em declaração conjunta emitida na cúpula.

O bloco ainda formalizou o convite a 13 países para aderirem sob uma nova categoria, a de Estados parceiros. Eles terão menos influência que os membros, mas podem participar mais ativamente das discussões da cúpula. São eles: Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Indonésia, Malásia, Turquia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda. A Venezuela foi barrada pelo Brasil. Os países ainda precisam aceitar o convite para entrar no grupo.

Críticas a Israel

Sobre o conflito no Oriente Médio, os representantes do Brics pediram que Israel pare de atacar funcionários da ONU, citando relatos de incidentes em que tropas israelenses dispararam e invadiram instalações da Força Interina das Nações Unidas localizada no Sul do Líbano (Unifil).

"Condenamos veementemente os ataques aos funcionários da ONU e as ameaças à sua segurança e pedimos a Israel que cesse imediatamente tais ações", disse o grupo.

Os líderes também enfatizaram que a "integridade territorial" do Líbano deve ser "preservada".

O grupo que assina a declaração tem entre seus membros o Irã, país financiador do grupo extremista Hezbollah, considerado uma organização terrorista por diversos países, e que tem trocado agressões com Israel. Também são Estados-membros do Brics: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita foi formalmente convidada mas ainda não completou seu processo de adesão.

Os países ainda prometeram aumentar a cooperação para diminuir a emissão de gases do efeito estufa, e condenaram medidas "unilaterais" impostas por nações desenvolvidas "sob o pretexto de combater as mudanças climáticas". Recentemente, o Brasil foi um dos países que criticou a lei antidesmatamento aprovada pela União Europeia.

Lula respalda agenda russa de cooperação financeira

Em seu discurso no evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a cobrar os países ricos a cumprir metas de financiamento climático e pedir negociações de paz nos conflitos em curso.

Ele ainda pautou propostas para diminuir a disparidade econômica entre os países, sugerindo que a discussão sobre uma alternativa multipolar ao atual sistema financeiro internacional "não pode mais ser adiada".

Lula participou do evento por videoconferência após um acidente doméstico o impedir de viajar à Rússia, que sedia o encontro.

Sobre a presidência do Brics, que o Brasil assume a partir de janeiro de 2025, Lula prometeu reafirmar a "vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países".

"O Brics foi responsável por parcela significativa do crescimento econômico mundial nas últimas décadas". disse.

"Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido", afirmou.

A proposta vai ao encontro da aspiração da Rússia de impulsionar a aliança das potências emergentes como uma "concorrente" do aparato financeiro dos países ricos, ideia rechaçada pelos Estados Unidos.

Lula também respaldou o interesse do presidente russo Vladimir Putin de encontrar alternativas ao dólar como moeda internacional, por meio da criação de um "Mecanismo de Cooperação Interbancária".

"Nossos bancos nacionais de desenvolvimento vão estabelecer linhas de crédito em moedas locais", disse.

Marcos multilaterais

"Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional", completou.

Uma das propostas que correm nos Brics é a criação de um sistema de transações financeiras paralelo ao Swift, usado pelas grandes potências para sancionar a Rússia.

Lula ainda agradeceu o "apoio" que recebeu dos membros para o Brasil assumir a presidência do G20, o que abriu espaço para o país pautar uma matriz de taxação dos super-ricos. A proposta será discutida na cúpula do bloco que acontece em novembro, no Rio de Janeiro.

Ainda na discussão sobre um sistema onde mais países tenham poder de decisão nas pautas globais, o presidente demandou a adoção de marcos multilaterais em temas como acesso a vacinas e medicamentos, e o desenvolvimento da Inteligência Artificial, para evitar o que ele chamou de "apartheid" no acesso à tecnologia.

Lula diz que conflitos são "insensatez"

O presidente brasileiro falou que o conflito em Gaza transformou o enclave palestino no "maior cemitério de crianças e mulheres do mundo".

"Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano", disse.

Sobre a guerra travada pela Rússia na Ucrânia, Lula sugeriu apenas "evitar uma escalada e iniciar negociações de paz".

Cooperação climática

O chefe do Executivo brasileiro defendeu que "a maior responsabilidade" sobre as mudanças climáticas "recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje".

Lula cobrou o cumprimento da meta de investimento climático de 100 bilhões anuais prometida pelos países ricos em 2009 — promessa que "provavelmente" teria sido cumprida em 2022, segundo um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) divulgado no final do ano passado.

O presidente, porém, também pontuou a responsabilidade dos países emergentes de "fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio" acima dos níveis pré-industriais.

gq/ra (afp, reuters, ots)

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