O câncer de mama é o principal tipo que acomete mulheres pelo mundo e o que mais mata brasileiras, segundo o Instituto Nacional do Câncer. Só em 2022, foram mais de 73 mil casos da doença, segundo o Ministério da Saúde. Mas, além da mamografia, do autoexame e do acompanhamento médico regular, há um exame que pode prever se uma mulher tem mais chances ou não de câncer de mama, mesmo sem sintomas: o teste de BRCA 1 e 2.
O exame, que avalia se há mutação nos dois genes, ficou mais popular nos últimos anos, auxiliando mulheres a entender se há maior chances de desenvolver a doença. É o caso da atriz Angelina Jolie, que retirou as mamas, os ovários e as tubas uterinas aos 37 anos após ter um resultado positivo do exame sem ter nenhum sintoma do câncer. No caso, a artista fez o teste genético após a mãe e a tia morrerem em decorrência do câncer de mama.
Por situações como a de Angelina Jolie, que teve casos na família, o exame é recomendado principalmente para mulheres com casos na família ou que já têm o câncer, para determinar qual o tratamento mais eficaz ou até formas de prevenir a doença. Mas, além da genética, a má alimentação, sobrepeso e consumo de bebida alcoólica podem aumentar as chances de ter o câncer de mama.
O BRCA 1 e 2, sendo uma abreviatura da tradução de Gene do Câncer de Mama, são genes que todos os humanos têm no DNA. O problema acontece quando eles não funcionam corretamente, como explica a oncologista Luciana Zapata, da Beneficência Portuguesa de São Paulo. “Eles não causam câncer e até previnem quando funcionam corretamente. Quando o gene é anormal, é aí que o risco aumenta. Mutações patogênicas no BRCA1 ou BRCA2 colocam mulheres em risco de desenvolver o câncer de mama”, afirma.
Zapata explica que os riscos de uma mulher desenvolver o câncer de mama é normalmente de 12,5% durante a vida, mas que as chances podem aumentar para mais de 60% caso os genes estejam alterados. “Conhecer a mutação pode auxiliar na escolha do tratamento e até permitir testes em outros membros da família, apoiados com informação adequada e intervenções de redução de risco para o câncer”, pontua.
Para o oncologista clínico e especialista na Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica Luis Eduardo Werneck, o exame é um guia para médicos lidarem com os casos de forma mais particular. “Analisamos como devemos acompanhar as pacientes, é algo pessoal. Então passo a acompanhar a mulher a cada seis meses, avalio se é preciso fazer uma cirurgia, por exemplo”, diz.
Quem deve fazer o exame?
A oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo lista que é importante conversar com um médico para realizar o teste caso o histórico de saúde pessoal ou familiar incluir câncer de mama antes dos 50 anos, em ambas as mamas, em homens ou de outros tipos, como:
- Câncer de mama triplo negativo em qualquer idade;
- Câncer de ovários, trompas de Falópio ou peritônio, o tecido que cobre órgãos abdominais;
- Câncer de próstata;
- Câncer de pâncreas;
- Ascendência judaica Asquenazes, com mutação mais comum neste grupo em comparação com a população geral.
Como o exame é feito?
Luciana Zapata explica que o exame pode ser realizado com uma coleta simples de sangue ou saliva, mas que tudo deve ser feito com acompanhamento médico. “É muito importante que antes de realizar o teste, o paciente passe por um aconselhamento genético que envolverá a discussão dos potenciais riscos, limitações e benefícios de realizá-lo não só para o paciente mas também para familiares”, pontua.
Mutação pode apontar risco de outros cânceres
O exame não é restrito apenas às mulheres. Segundo a oncologista, os homens também podem se beneficiar ao saber da condição genética. “As mutações patogênicas em BRCA podem aumentar o risco de câncer de próstata e de outros tipos de câncer como mama e pâncreas. Os homens com mutações identificadas podem ser monitorizados de perto quanto a sinais precoces da doença”, explica.
Zapata aponta que homens portadores da mutação podem transmiti-la para filhas e filhos. Luis Eduardo Werneck avalia que o exame mostra possibilidade de “câncer principalmente ligado ao sistema reprodutor masculino e feminino”. Em geral, a oncologista afirma que o exame também pode apontar risco para câncer de ovários.
O exame não é disponível pelo SUS, mas há alternativas
Apesar de ser importante para determinar as chances de um câncer de mama, o exame BRCA 1 e 2 não está disponível no sistema público de saúde. Atualmente, o preço médio do teste varia entre R$ 1 mil e R$ 2 mil.
A oncologista Luciana Zapata relembra que existe um Projeto de Lei que discute a cobertura da realização do teste para mulheres com histórico de câncer de mama. “Ter acesso ao aconselhamento e à realização do exame gratuitamente pelo SUS terá impacto na prevenção do câncer não só de mama, mas também de ovário”, diz.
A medida pode abrir uma importante discussão sobre a importância de ter acesso a tratamentos mais modernos, como medicamento alvo específico para pacientes portadores de mutação em BRCA, analisa.
Apesar do teste genético não ser disponível pelo SUS, o sistema público oferece exames clínicos, de investigação diagnóstica, como mamografia e ultrassonografia, além de exame de sangue para identificar o câncer de mama. O Ministério da Saúde também incentiva que as mulheres façam o autoexame, para poder acessar o mais rápido possível os exames clínicos e diagnosticar a doença nas fases iniciais.
Na matéria ‘Quando o SUS leva cura a mulheres condenadas pelo diagnóstico do câncer de mama’, você pode conhecer histórias de mulheres que se trataram em hospitais públicos. Para o tratamento, o SUS oferece cirurgias de mastectomia, conservadoras e até reconstrução mamária. Além disso, o sistema oferece tratamentos de radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia