Antonio Vinícius Lopes Gritzbach era um jovem promissor do Tatuapé, bairro valorizado da zona leste de São Paulo. Ele se formou em engenharia, mas foi trabalhar como corretor de imóveis.
O empresário vendia apartamentos de luxo e ganhava comissões altas. Era o menino de ouro da construtora localizada no mesmo bairro. Aos clientes interessados, alterava os valores nas notas fiscais e contratos de compra e venda.
Em 2014, Gritzbach foi apresentado por um dentista famoso a Anselmo Bechelli Santa Fausta, um homem com muito dinheiro para investir. Nesse momento, começava a trajetória de dinheiro e riqueza ostentando o dinheiro do tráfico internacional de drogas.
Nesse caso, o dinheiro chegava “sujo” na mão do corretor e voltava “limpo” aos traficantes. Daí para frente, uma vida com viagens, um helicóptero próprio, lanchas e iates faziam parte da rotina de Vinícius.
Com facilidade de negociar imóveis de luxo e alterar dados, Vinícius se tornou o “queridinho” de empresários ligados ao PCC que atuavam na lavagem de dinheiro. Anselmo Cara Preta, Rafael Maeda e Claudio Almeida, eram alguns dos clientes.
O próximo passo foi investimento em criptomoedas. Vinícius foi apresentado pelo mesmo dentista a um investidor, um hacker apontado pela Polícia Federal por golpes de R$ 400 milhões. Os valores movimentados se movimentaram: R$ 100 milhões, R$ 200 milhões, até a casa dos bilhões de reais.
Morte de Cara Preta e Sem Sangue
No segundo semestre de 2021, as bitcoins sofreram uma queda significativa, deixando um prejuízo de centenas de milhões de reais. Cara Preta, então, exisge ser ressarcido e ameaça Vinícius e sua família.
De acordo com a polícia, Gritzbach teria contratado um segurança do hacker, o agente penitenciário David Moreira, para encontrar um matador e eliminar o Cara Preta. O escolhido foi Noé Shaun.
Cara Preta e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, foram assassinados dentro de um carro no Tatuapé pouco tempo depois.
Vinícius e o hacker foram presos temporariamente e ficaram juntos na cadeia. O hacker foi libertado por falta de provas e foi mantido no inquérito policial como testemunha.
O Brasil Urgente teve acesso ao depoimento dele, em que afirma que Gritzbach teria movimentado, junto com Cara Preta, cerca de R$ 200 milhões.
Em seguida, o empresário também ganhou o direito de responder pelo crime em liberdade. Diferente de Noé Shaun, que acreditava ter matado um agiota, mas atirou contra um dos maiores negociantes de drogas e que prestava serviços para o PCC. Ele teve a cabeça decepada e jogada na mesma praça onde Cara Preta e Sem Sangue foram mortos.
Sequestro de Vinícius Gritzbach
Vinícius Gritzbach foi sequestrado, torturado e ameaçado por integrantes do crime organizado. Ao ser libertado pelos criminosos, foi preso pela polícia e então nunca mais saiu do noticiário.
Em 22 de junho de 2023, toda a polícia de São Paulo se mobilizou quando o delator do PCC foi sequestrado na porta de sua casa, em um condomínio de luxo, no Tatuapé. Foram pouco mais de duas horas até que ele tenha sido ‘devolvido’.
No DHPP, ele chegou a dizer que foi avaliar o imóvel de um policial civil na zona leste de São Paulo, mas depois contou outra história.
Vinícius disse que foi levado a um Imóvel na zona leste e, por chamada de vídeo, conversou com um chefão do PCC na cadeia, que ele não sabia quem era. Gritzbach acreditava ter convencido a facção de que não era responsável pela morte de Anselmo cara preta e que não tinha desviado nenhum dinheiro.
Os dois policiais civis foram identificados e denunciados à Corregedoria, mas o caso foi arquivado. Depois, Vinícius entregou à polícia uma gravação.
“No dia em que eles estavam aqui na minha casa, um advogado, "Ahmed Hassan Saleh", teria oferecido três milhões de reais (R$ 3.000.000,00), para eles me entregarem para essas pessoas”, disse Gritzbach em entrevista ao Brasil Urgente.
O advogado é citado em investigações contra o crime organizado, entre elas, a máfia dos ônibus do transporte público de São Paulo. Nos áudios, são citados outros dois nomes: Danilo Lima, o Tripa, empresário de jogadores de futebol e Robson Granger, conhecido como “mole”, dono de restaurantes e lanchonetes na zona leste de São Paulo.
Vinícius Gritzbach já havia sido sequestrado antes, em janeiro de 2022. Os sequestradores, Rafael Maeda e Cláudio Almeida, o Django, Tripa e Mole, eram empresários: dois deles acabaram mortos nos meses seguintes.
Eles exigiam que Vinícius entregasse uma chave de criptomoedas que daria acesso a R$ 26 milhões em bitcoins.
Gritzbach chegou a ser denunciado pelo Ministério Público como mandante da morte de Cara Preta e Sem Sangue. Ele iria a júri popular, junto com o agente penitenciário David Moreira. Os dois sempre negaram o crime, mas Vinícius foi julgado antes pelos bandidos quando foi assassinado no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em novembro deste ano.
Delação premiada
A defesa de Vinícius protocolou um documento de 167 páginas apontando falhas na investigação e corrupção policial, inclusive, a retirada de 9 celulares de Cara Preta que estavam na cena do crime. Em dezembro de 2023, uma delação premiada começou a ser negociada.
Foram três propostas até chegar a um acordo, entre os pedidos negados, visto permanente nos Estados Unidos e devolução de mais de 100 títulos de crédito bancário.
Entre os termos que permaneceram no acordo, redução de até um terço da possível condenação por lavagem de dinheiro, devolução de bens comprados antes do envolvimento com o crime e uma multa de R$ 15 milhões.
Vinícius entregou documentos que comprovam um grande esquema de lavagem de dinheiro do PCC e denunciou ao menos 18 policiais civis por extorsão.
A Secretaria de Segurança divulgou o afastamento dos agentes públicos investigados. Os policiais militares que faziam a segurança do empresário também foram afastados.
Uma força tarefa foi montada para investigar o caso, encabeça pelo secretário adjunto da segurança pública, Osvaldo Nico Gonçalves, com a participação da Polícia Federal.
Mesmo com a morte de Vinícius, as provas entregues por ele na delação premiada seguem fazendo parte do processo e podem colocar acusados de lavagem de dinheiro e agentes públicos, envolvidos em corrupção ou extorsão, na cadeia.
O assassinato
A polícia investiga se os PMs que faziam a segurança de Gritzbach falharam de propósito para deixar o empresário sozinho e ser executado. Eles pararam em uma loja de conveniência ao lado do Aeroporto de Guarulhos.
Os agentes estavam com dois carros e um deles apresentou defeito na ignição. Três seguranças ficaram com o veículo e apenas um foi com o filho e o sobrinho de Vinícius até o aeroporto. Ele chegava de Maceió, junto com a namorada, trazendo R$ 1 milhão em joias.