A Polícia de São Paulo prendeu Antônio Vinícius Gritzbach, empresário suspeito de ser o mandante da morte de Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, um dos líderes da facção criminosa PCC, e seu comparsa Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, no fim de dezembro de 2021.
Gritzbach foi preso em casa, em um prédio de luxo no bairro de Anália Franco, na zona leste da capital, que fica próximo ao local em que a dupla foi executada. A Justiça determinou a prisão temporária por 30 dias.
Apesar da detenção, o empresário não possui antecedentes criminais. A polícia trata o caso com bastante sigilo e várias hipóteses já foram levantadas para o assassinato, mas uma delas está perto de ser confirmada: a de que Cara Preta foi morto na disputa envolvendo uma dívida de aproximadamente R$ 100 milhões.
Ainda segundo a investigação, a morte do integrante do PCC não deve ter ligação com as brigas internadas da facção.
Em depoimento à polícia, Antônio Vinícius Gritzbach disse que não devia nada ao homem acusado de ser um dos maiores fornecedores de drogas da facção e que enviava cocaína para a Europa.
A morte de Cara Preta, no fim de dezembro de 2021, desencadeou uma série de outros crimes. Semanas após a execução, dois corpos foram encontrados decapitados ao lado de bilhetes que sugeriam um acerto de contas pela morte do chefe do PCC. Apesar disso, a polícia ainda não confirmou se as mortes têm relação com o crime. O DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) suspeita que tudo pode ser uma armação da facção criminosa para esconder o real autor do assassinato.
Em 23 de janeiro, Claudio Marcos de Almeida, de 50 anos, conhecido como “Django” e apontado como um dos maiores traficantes de drogas de São Paulo, foi encontrado morto debaixo de um viaduto, no bairro da Vila Matilde, também na zona leste da cidade.
Vídeo: polícia investiga mortes que estariam ligadas ao PCC
“Cara Preta” estaria envolvido em roubo de aeroporto e tráfico internacional
Investigações sobre o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões.
De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.
Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto.
Vídeo: Chefão do PCC executado teria financiado roubo de ouro em aeroporto
No momento da execução, ele estava em um carro simples, como preferia, justamente pra não chamar a atenção. Mas o motorista do veículo levava nos bolsos e na jaquetas maços com grande quantidade de dinheiro.
Nova onda de mortes de chefões do PCC começou em 2018
As execuções recentes na zona leste podem ser mais um capítulo da guerra de poder dentro do PCC, que passa por uma disputa sangrenta entre criminosos do alto escalão do chamado “partido do crime”.
Santa Fausta se tornou um dos chefões do tráfico na facção depois de execuções de outros líderes na mesma região da capital paulista.
A onda de mortes começou em 2018, depois que “Gegê do Mangue” foi assassinado junto com o sócio “Paca”, na região metropolitana de Fortaleza.
Antes, Eduardo Ferreira foi morto em um carro de luxo com quase 30 tiros. Dias depois, foi a vez de Wagner Ferreira, o “Cabelo Duro”, em outro ponto da zona leste após emboscada diante de um hotel.
Em janeiro, dois homens foram executados, esquartejados e os corpos jogados na zona leste de São Paulo. Com eles, bilhetes indicavam a participação das vítimas nas execuções de Cara Preta e Sem Sangue.