Um tiroteio no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, nesta sexta-feira (8),teve como alvo o empresário Antônio Vinicius Gritzbach, que acabou executado após ser atingido por 10 disparos de fuzil e metralhadora. A ação criminosa, com pelo menos 30 disparos, feriu outras duas pessoas e causou a morte de um motorista de transporte por aplicativo que estava no local. A suspeita do ataque é atribuída a membros do PCC, já que Vinícius está envolvido em um caso ligado à execução de uma liderança da facção: Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”.
Gritzbach desembarcou no local após uma viagem para Maceió (AL). Ele seria uma espécie de “tesoureiro” de ativos do PCC, como criptomoedas e imóveis, para lavar dinheiro do crime organizado. O Ministério Público de SP estima que esse valor poderia chegar a R$ 2 bilhões.
Com informações valiosas e detalhadas sobre as operações do PCC, incluindo a rede de contatos e origem de dinheiro ilícito, Gritzbach tornou-se uma peça importante para a polícia e o Ministério Público em delações. Contudo, a exposição de seu nome como delator aumentou os riscos que ele enfrentava desde as mortes dos membros da facção. Mesmo “jurado de morte" pela facção, Vinícius não quis entrar no programa de proteção de testemunhas oferecido pelo Ministério Público.
Quem era Vinícius Gritzbach
A trama ganhou destaque após a morte de Santa Fausta, tendo como peça central Vinícius Gritzbach, empresário do ramo imobiliário. Ele também era investigado também por lavagem de dinheiro. Entre os supostos clientes estariam Rafael Maeda, o ‘Japa’, e Danilo Lima, o "Tripa’, que agiam como agentes de futebol.
As delações trazem também lavagem de dinheiro com negociação de imóveis de luxo. Um deles, uma cobertura no Tatuapé, comprada por Anselmo Cara Preta por R$ 15 milhões em dinheiro vivo.
Tripa e Japa teriam ligação com três empresas citadas na delação. A investigação recai sobre jogadores revelados na base do Corinthians, que hoje não estão mais no clube. Uma das linhas de investigação do Ministério Público aponta ainda que negociações de atletas com grandes clubes brasileiros podem ter participação direta de integrantes do PCC com o objetivo de lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas.
Desde a morte da importante liderança do PCC, o empresário foi detido algumas vezes. A primeira em um hotel de luxo em Itacaré, no sul da Bahia onde passava férias, em fevereiro de 2022. Ele chegou a ter até um helicóptero apreendido, mas devolvido posteriormente.
Antes de ser morto no aeroporto, Vinicius Gritzbach sofreu um atentado em casa durante o Natal de 2023. O empresário estava na sacada de seu apartamento no Jardim Anália Franco, bairro nobre da zona leste de São Paulo, quando foi alvo de um tiro, que acabou não atingindo ninguém. Segundo a polícia, o disparo foi feito de um prédio em frente, a partir de um apartamento que fica a poucos andares acima do de Gritzbach.
Em entrevista ao Brasil Urgente, a diretora do DHPP, Ivalda Aleixo, afirmou que Vinícius pode ter sido executado porque “sabia muito sobre o PCC”. Segundo a diretora, ele tentava fechar um acordo para uma delação premiada.
“Ele sabia muita coisa do PCC e de lavagem de dinheiro, sabia de informações sobre onde estavam colocando esse dinheiro”, completou.
Gritbach disse que foi sequestrado e torturado por criminosos por duas vezes após as mortes, mas solto posteriormente,
Vinícius ficou quase quatro meses preso e foi solto após decisão do STJ em junho de 2023, com o uso de tornozeleira eletrônica, e respondia ao processo pelas mortes de Cara Preta e Sem Sangue em liberdade. Ele negava ser o mandante da execução.
Mesmo após diversas ameaças e do ataque no Natal, Vinícius se recusava a participar do programa de proteção. Ele contratou uma escolta particular formada por policiais militares da ativa, que foram afastados após seu assassinato. Eles negaram saber que o empresário era ligado ao PCC. A namorada de Vinícius, que o acompanhou na viagem e não foi ferida, também depôs à polícia e teve seu celular apreendido.
A morte de Cara Preta
Vinicius é acusado de mandar matar Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o "Sem Sangue", seu braço direito. Os dois foram executados a tiros de fuzil no bairro do Tatuapé, em dezembro de 2021. Segundo a investigação, David Moreira da Silva, um ex-agente penitenciário, seria o responsável por contratar os matadores.
A morte de Anselmo desencadeou uma série de outros crimes. Semanas após a execução, dois corpos foram encontrados decapitados ao lado de bilhetes que sugeriam um acerto de contas pela morte do chefe do PCC: Noé Schaun e, apontado como o executor dos dois traficantes, além de Carlos Almeida, o Django.
De acordo com o Ministério Público, o traficante morto em 2021 era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP).
A investigação do DHPP apurou que Gritzbach teria mandado matar Cara Preta porque vinha sendo cobrado pela vítima por uma dívida milionária - dinheiro arrecadado com o tráfico internacional de drogas. Cara Preta teria descoberto dias antes que Vinicius teria gastado parte do investimento no envio de cocaína pura para a Europa.