O empresário Rafael Maeda, de 31 anos, foi encontrado morto em um prédio de luxo na região do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Ele estava dentro de um carro no estacionamento do local.
Investigação da polícia não descarta a possibilidade de suicídio, mas um detalhe chama a atenção dos peritos e dos investigadores. Rafael morreu com um tiro do lado esquerda da cabeça, mas a arma usada foi encontrada perto da mão direita dele. Uma cena que pode ter sido montada apenas para parecer que ele se matou.
Rafael Maeda, conhecido como Japa, prestaria depoimento nesta sexta-feira (5) ao DHPP sobre a morte do amigo e sócio, o mega traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta.
Os dois são apontados como integrante do PCC, e usariam empresas na zona leste de São Paulo para lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas.
Anselmo Cara Preta foi assassinado no Tatuapé em dezembro de 2021 junto com o motorista Antônio Corona, o sem sangue.
Dias depois, Rafael e outros dois empresários sequestraram o suspeito do crime, o empresário do ramo imobiliário Antonio Vinicius Gritzbach, apontado como mandante do assassinato do traficante.
O trio queria uma chave de criptomoedas de R$ 30 milhões para recuperar o dinheiro de um investimento mal sucedido. Os outros eram Danilo Lima, conhecido empresário de jogadores de futebol, e Robson Granger, o Moly.
Eles se preparavam para matar Vinícius, quando um outro integrante do PCC chegou. Era Cláudio de Almeida, o Django. Ele impediu a morte da vítima, porque não queria perder o dinheiro também aplicado em criptomoedas. Django foi morto no dia seguinte e jogado embaixo de um viaduto.
O matador contratado para executar Cara Preta também foi assassinado. Noé Shaun teve a cabeça arrancada e jogada na mesma praça onde havia matado o traficante.
Para a polícia, a morte de Rafael Maeda pode ser queima de arquivo. O dinheiro aplicado em criptomoedas pelos empresários ligados ao PCC pode superar R$ 100 milhões. A polícia ainda não conseguiu acessar o montante.
Outros suspeitos de envolvimento no caso “Cara Preta”
Dos cinco suspeitos com prisão decretada pela Justiça, três também são investidores do mercado financeiro, empresários de vários ramos, envolvidos com lavagem de dinheiro do PCC e de outros criminosos, alguns usando inclusive criptomoedas, segundo a investigação. São eles Robinson Moura, Rafael Maeda, o “Japa”, e Danilo Lima, além do agente penitenciário David Oliveira, que teria contratado o executor da dupla e recebido R$ 100 mil pelo serviço. Todos seguem foragidos.
David é amigo de infância de Vinícius e Pablo - ambos negam estarem envolvidos nas mortes.
Os outros três empresários envolvidos na trama chegaram depois da morte de Cara Preta, eram amigos e tinham negócios com o traficante. Eles teriam ligação com a morte do atirador e de outro empresário, Claudio Marcos de Almeida, de 50 anos, conhecido como “Django”.
O empresário de futebol Danilo Lima, conhecido como “Tripa”, é um dos empresários foragidos. Segundo as investigações, ele tinha negócios com Anselmo Santa Fausta e também com Pablo.
A morte de Cara Preta, no fim de dezembro de 2021, desencadeou uma série de outros crimes. Semanas após a execução, dois corpos foram encontrados decapitados ao lado de bilhetes que sugeriam um acerto de contas pela morte do chefe do PCC. O suposto executor teria sido morto pelo próprio crime organizado. Identificado como Noé Alves Schaun, ele foi decapitado, e sua cabeça foi deixada em uma praça do bairro do Tatuapé. De acordo com as investigações, ele teria sido contratado para “matar um agiota” e executou a dupla sem saber que, na verdade, estava atirando em um dos maiores traficantes do país.
“Django”, apontado como um dos maiores traficantes de drogas de São Paulo, foi encontrado morto debaixo de um viaduto, no bairro da Vila Matilde, também na zona leste da cidade, poucos dias depois.
“Cara Preta” estaria envolvido em roubo de aeroporto e tráfico internacional
Investigações sobre o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões.
De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.
Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto.