A Polícia descobriu novas informações sobre os corpos esquartejados e decapitados que foram espalhados pela capital de São Paulo desde domingo (16). Bilhetes apontaram que eles seriam de pessoas que teriam matado um líder do PCC e um parceiro dele. Mas o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) suspeita que tudo pode ser uma armação da facção criminosa para esconder o real autor do assassinato.
A polícia conseguiu um vídeo que mostra um homem deixando a cabeça de uma pessoa em uma praça no bairro Tatuapé, na zona leste. Era a cabeça Noé Alves Schaun, um ex-presidiário, que saiu da cadeia em julho.
Havia um bilhete que ligava Noé às mortes de Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como "Cara Preta”, importante líder ligado à facção criminosa assassinado em uma emboscada na zona leste junto com o comparsa Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, no último dia 26 de dezembro - ambos foram executados no mesmo bairro.
A família de Noé chegou a fazer um Boletim de Ocorrência do desaparecimento dele. Mas mesmo no cativeiro, sendo torturado, ele ligou pra esposa e disse que estava em poder de bandidos armados e não sabia se voltaria pra casa.
Ele não explicou pra ela como tudo aconteceu. A Polícia acredita que ele foi atraído para uma emboscada por integrantes do crime organizado.
O delegado Fábio Pinheiro Lopes não acredita que Noé tenha matado o líder do PCC.
“A gente achou que está muito fácil, com um bilhete muito bem escrito, com uma letra de mulher. Tá na cara que tem alguma coisa muito errada aí. A gente não trabalha somente a linha que o morto é o assassino do Cara Preta e do Sem Sangue. Seria muita publicidade, aparato e escárnio. Não é geralmente o jeito que eles trabalham”, explicou Fábio.
Vídeo: Delegado explica investigação em crimes que estariam ligados ao PCC
“Cara Preta” estaria envolvido em roubo de aeroporto e tráfico internacional
Investigações sobre o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões.
De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.
Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto.
No momento da execução, ele estava em um carro simples, como preferia, justamente pra não chamar a atenção. Mas o motorista do veículo levava nos bolsos e na jaquetas maços com grande quantidade de dinheiro.