A Facção conhecida como "povo de Israel" pode ter ultrapassado o poder do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. Investigadores começaram a desconfiar do crescimento financeiro da organização criminosa a partir de 2022.
Em um documento obtido com exclusividade pelo jornalismo da Band, mostra que as recentes apreensões demonstram que, além de extorsão, estelionato e lavagem de dinheiro, o grupo se dedicou a distribuir e vender drogas dentro do sistema prisional.
Vídeo de uma apreensão realizada em setembro do ano passado no presídio Nelson Hungria, dentro do complexo de Gericinó, mostra criminosos colocando 20 quilos de drogas entre cocaína e maconha, 71 celulares, 19 chips, 96 carregadores, 96 fones de ouvido e três balanças de precisão dentro de quentinhas. A carga era avaliada em R$ 1,5 milhão.
A base central do "povo de Israel" fica no mesmo presídio, de onde o chefe Avelino Gonçalves Lima, conhecido como Alvim, gerencia o sistema fixo de divisão de tarefas, captação de novos presos e visitantes, além de articular arrecadação e pagamentos de propinas a servidores públicos. Segundo a polícia civil, Avelino já teria apresentado supostos vínculos com o PCC.
A prática do crime de falso sequestro era feita da seguinte forma. O primeiro grupo é formado pelos "empresários". Eles ficam com a responsabilidade de obter um aparelho celular para o segundo grupo chamado de "ladrão". Os detentos desse núcleo realizam as chamadas telefônicas para vítimas indeterminadas, inclusive de outros estados. Em seguida, a simulação de supostos sequestros de familiares ou a prática de estelionato é feita.
As transações bancárias são realizadas para "laranjas", pessoas que se disponibilizavam para receber os valores. Entre janeiro de 2022 e maio de 2024, o grupo movimentou quase de R$ 70 milhões. Ao todo, foram 1.663 pessoas físicas e 201 pessoas jurídicas envolvidas. Entre elas, policiais penais, esposas e até mães de detentos.
A esposa de Avelino, Adilângela de Araújo Mendes, aparece como uma das beneficiárias das transferências bancárias feitas por "laranjas". Segundo as investigações, ela recebeu os valores de quatro pessoas, que são moradoras da cidade de Apiacá, no Espírito Santo. Juntas, elas movimentaram cerca de R$ 5,5 milhões.
Uma casa lotérica que fica no município com cerca de sete mil habitantes aparece outra vez na investigação. Com uma movimentação suspeita de R$ 132 mil em oito transações realizadas por Gabriel Lopes Murro, os agentes também identificaram que ele movimentou quase R$ 3 milhões em sete meses.
A utilização de pessoas jurídicas também faz parte do esquema do "povo de Israel". Uma construtora de fachada em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, é suspeita de movimentar R$ 4 milhões.
O grupo atua em 13 unidades prisionais, chamadas por eles de 13 aldeias. O "povo de Israel" conta hoje com cerca de 18 mil integrantes custodiados, o que representa 42% do sistema penitenciário.
Em uma visita realizada pelo ministério público no presídio penal Nelson Hungria, em março de 2024, foram observados banners com o símbolo da "estrela de Davi", utilizado na bandeira do estado de Israel.
Um estatuto feito pelo grupo tem 19 mandamentos. Dentro dele não é permitido utilizar a palavra "estuprador" e sim "amigo do artigo". Além disso, agressões não são permitidas e a organização criminosa não aceita "x9".