Corpos decapitados podem ser "acerto de contas" por morte de líder do PCC em SP

Vítimas foram achadas em estradas de Suzano e Itaquera e estariam ligadas às execuções de "Cara Preta" e "Sem Sangue" em dezembro

Marcelo Moreira, do Brasil Urgente

A polícia achou dois corpos esquartejados em diferentes pontos da região metropolitana de São Paulo entre a noite do último domingo (16) e a manhã desta segunda (17). Em comum, junto aos corpos, foram encontrados bilhetes, que a polícia acredita terem sido deixados por integrantes do PCC apontando um possível “acerto de contas” pela execução recente de dois traficantes internacionais ligados à facção criminosa.

A primeira vítima foi localizada em Suzano, na grande São Paulo, enquanto a outra foi achada em Itaquera, zona leste. As identidades de ambas ainda não foram confirmadas. As execuções são vistas como retaliações pelo assassinato do traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como "Cara Preta”, importante líder ligado à facção criminosa assassinado em uma emboscada na zona leste junto com o comparsa Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, no último dia 26 de dezembro.

Nos dois casos, o local da desova eram estradas de terra, com pouco movimento, sem câmeras de segurança nas proximidades. Chamou a atenção da polícia o fato de os corpos serem deixados em pontos visíveis para serem localizados rapidamente. 

Tanto em Itaquera, quanto em Suzano, as cabeças das vítimas foram levadas pela quadrilha, que deixou bilhetes falando da participação dos dois de “Cara Preta” e “Sem Sangue”.

A primeira cabeça, que seria do corpo desovado em Suzano, apareceu em uma praça do Tatuapé - justamente no bairro onde aconteceu a execução dos importantes figurões do PCC. A segunda cabeça foi localizada na manhã desta segunda no Parque do Carmo, também na zona leste, também com bilhete ligando as decapitações às execuções de dezembro.

O corpo achado em Suzano seria de um criminoso que teria deixado a cadeia em junho de 2021 após cumprir pena por roubo.

A polícia tem a informação de que o crime organizado gravou essas os dois assassinatos, inclusive com uma confissão dos supostos matadores de Santa Fausta e Neto.

Um carro incendiado na cidade da região metropolitana, próximo ao local da desova, não é o mesmo usado pelos pistoleiros para matar os dois traficantes do PCC, em ação que foi gravada por câmeras de segurança.

O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) que não descarta a teoria de uma tentativa do crime organizado de despistar a Polícia Civil ao tentar apontar dois acusados pelas mortes dos chefões do tráfico de drogas.

A investigação entende que os tiros foram feitos por um assassino profissional, que estava em um carro com placa falsa e não deixou rastros na cena do crime apesar de a ação ser sido captada por câmeras de segurança. A polícia já sabe que o traficante morto e seu braço direito viviam na região onde o crime foi cometido, no Tatuapé. Mas eles foram seguidos por um espaço curto por alguém que os conhecia ou que investigava a rotina dos alvos.

“Cara Preta” estaria envolvido em roubo de aeroporto e tráfico internacional

Investigações sobre o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões. 

Vídeo: Chefão do PCC executado teria financiado roubo de ouro em aeroporto

De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.

Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto. 

No momento da execução, ele estava em um carro simples, como preferia, justamente pra não chamar a atenção. Mas o motorista do veículo levava nos bolsos e na jaquetas maços com grande quantidade de dinheiro.

Onda de mortes de chefões do PCC começou em 2018

A execução dos dois homens na zona leste de São Paulo, em dezembro, pode ser mais um capítulo da guerra de poder dentro do PCC, que passa por uma disputa sangrenta entre criminosos do alto escalão do chamado “partido do crime”.

Santa Fausta se tornou um dos chefões do tráfico na facção depois de execuções de outros líderes na mesma região da capital paulista.

A onda de mortes começou em 2018, depois que “Gegê do Mangue” foi assassinado junto com o sócio “Paca”, na região metropolitana em Fortaleza.

Antes, Eduardo Ferreira foi morto em um carro de luxo com quase 30 tiros. Dias depois, foi a vez de Wagner Ferreira, o “Cabelo Duro”, em outro ponto da zona leste após emboscada diante de um hotel.