Brasil Urgente reconstitui noite em que Gil Rugai matou pai e madrasta a tiros em SP

Com a ajuda da Inteligência Artificial, o Brasil Urgente mostra o que, de acordo com a polícia e a justiça, aconteceu na época

Por Julia Sarmento

Onze anos, nove meses e oito dias. Foi este o período que Gil Rugai ficou atrás das grades. Mesmo condenado pelo júri popular a 33 anos e nove meses de prisão por assassinar o pai, Luiz Rugai, de 40 anos, e a madrasta, Alessandra Troitino, de 33, o homem conseguiu deixar o sistema prisional após recursos, alvarás de soltura e eliminação de dias de pena por estudo e trabalho.

Desde agosto de 2024, um dos mais célebres condenados do Brasil está no regime aberto, depois de a justiça conceder a progressão de pena. Monitorado por tornozeleira eletrônica e cumprindo medidas cautelares, Gil Rugai está cursando arquitetura, em uma faculdade na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo, e inclusive, tem planos de empreender no ramo de confecção de camisas.

Mesmo após quase 21 anos do crime, os detalhes do que aconteceu dentro da casa de alto padrão, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, intrigam muita gente e levantam curiosidades sobre o caso.

Foi no dia 28 de março de 2004, que o pai e a madrasta de Gil Rugai, que à época tinha 20 anos, foram encontrados mortos à tiros, dando início a uma longa investigação, que ouviu cerca de 80 pessoas, e que terminou com a condenação do ex-seminarista, apenas nove anos depois, em um júri popular.

Com a ajuda de uma simulação feita através da Inteligência Artificial, o Brasil Urgente mostra o que, de acordo com a polícia e a justiça, aconteceu na época.

Naquela noite chovia. Luiz e Alessandra estavam na casa onde moravam há cerca de 12 anos e que também funcionava a agência de publicidade do casal. Os dois viam televisão em uma sala, até que a mulher teria se levantado e ido até a cozinha, que fica nos fundos do imóvel.

Foi neste momento, por volta de nove e meia da noite, que Gil Rugai teria entrado em cena. Ao perceber que o enteado estava na casa, Alessandra caminhou até a porta da cozinha que dá acesso ao quintal, e foi então que o primeiro assassinato aconteceu.

Alessandra foi morta com cinco tiros e caiu com os pés para o lado de fora da porta da cozinha. A posição sugeriu, para a perícia, que a vítima conhecia o suspeito e por isso abriu a porta para ele. Ela vestia uma espécie de pijama, um short e uma camiseta.

Após atirar na madrasta, Gil Rugai caminhou pela casa à procura do pai, que estava na sala de tv. Por uma janela de vidro, o homem viu a esposa sendo assassinada e para tentar impedir que o filho chegasse até ele, Luís trancou a porta do cômodo e puxou uma estante para tentar se esconder. 

Mas, de acordo com a investigação, a porta foi derrubada a pontapés por Gil Rugai. Pai e filho teriam discutido. Luís Rugai foi morto com quatro tiros, próximo a um corredor. Cerca de três metros de onde Alessandra foi assassinada. Em seguida, Gil deixou a casa. 

Foram duas sequências de tiros com uma diferença de apenas alguns minutos. Os vizinhos escutaram e começaram a ligar para os vigilantes, que ficavam em guaritas da rua. Eles então telefonaram para os moradores da casa de onde tinha vindo o barulho e ninguém atendeu.

Uma pessoa subiu no muro de trás do imóvel e avistou o corpo de Alessandra caído. A polícia foi imediatamente acionada e começou a investigar o caso. Inicialmente acreditava-se que poderia se tratar de um latrocínio, o roubo seguido de morte. Porém nada tinha sido levado da residência, e também não havia sinais de arrombamento, o que apontava para a possibilidade de que algum conhecido do casal teria cometido o crime.

O comportamento aparentemente frio de Gil Rugai ao saber das mortes do pai e da madrasta chamou a atenção da polícia, que passou a suspeitar do ex-seminarista. Poucos dias após o crime, um dos vigilantes da rua informou aos agentes que teria visto um homem com características parecidas com a de Gil sair da casa pouco após o barulho dos tiros, acompanhado de uma pessoa. 

Além disso, foi encontrado no quarto do homem um certificado de curso de tiro e um cartucho 380 deflagrado, o mesmo calibre da arma usada no assassinato. Um laudo do instituto de criminalística concluiu ainda que a pegada achada na porta do imóvel que foi arrombada no dia do crime era compatível com a do ex-seminarista. Gil Rugai então foi preso e indiciado por duplo homicídio, mas ele negou e nega até hoje ser o responsável pelas mortes.

Um ano e meio após o crime, uma pistola calibre 380 foi achada na tubulação de esgoto do prédio onde Gil mantinha uma sala, nos Jardins, área nobre de São Paulo. A perícia comparou balas encontradas no local do crime com outras disparadas durante o teste com a arma localizada, e concluiu que foi aquele o armamento utilizado para matar o casal.

Ao mesmo tempo em que buscava provas, a polícia tentava entender o que teria motivado o crime. Até que as investigações apontaram que poucas semanas antes de serem mortos, Luís e Alessandra teriam descoberto um desvio de dinheiro da empresa, onde Gil também trabalhava e era responsável pela área administrativa.

O desfalque teria sido de cerca de R$ 280 mil, em valores de hoje, e o ex-seminarista seria o responsável. O casal teria confrontado Gil e o expulsado de casa. Porém, o desvio do valor nunca chegou a ser comprovado.

Em setembro de 2005, a Justiça determinou que o homem iria a júri popular, mas foi apenas em 2013 que o julgamento aconteceu. Após cinco dias, os jurados decidiram que Gil era culpado pelo crime de duplo homicídio, por motivo torpe.

Desde então, o ex-seminarista passou por idas e vindas no sistema penitenciário. Até que em agosto do ano passado, a justiça autorizou que ele fosse para o regime aberto, para cumprir o restante da pena fora do presídio, que é desde então onde Gil Rugai está hoje.

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