O 'banco do PCC', esquema suspeito de financiar campanhas políticas de Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo, era monitorado pela facção de dentro da cadeia.
De acordo com a polícia, o planejamento, organização, faturamento e ordens partiam de dentro das penitenciárias. As informações foram obtidas através de interceptações telefônicas e de papeis escritos à mão.
A polícia conseguiu identificar a cúpula do esquema bilionário, composta por Anderson Manzini, integrante do PCC, e braço direito de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. As diretrizes partiam de Manzini, que está preso desde 2002.
Segundo a investigação, os bilhetes circulavam através da esposa dele, que era intermediária nas negociações. Em um áudio obtido pelo Brasil Urgente, a suspeita faz referência a um investimento de R$ 150 mil, que possivelmente seria feito pelo banco digital.
“O Anderson falou, não posso perder a oportunidade de investir dinheiro. Não dá o dinheiro, vou te colocar em contato e investir o dinheiro com o meu primo”, disse a mulher em um áudio obtido pelo Brasil Urgente.
Ainda de acordo com a polícia, o primo citado era o principal operador da instituição que funcionava sem autorização, com sede em Mogi das Cruzes, São Paulo, e Palmas, no Tocantins.
O inquérito, de mais de 200 páginas, trata a mulher de Manzini como o "pombo correio" da organização criminosa. Ela utilizava as visitas para transmitir os chamados ‘salves’ bem como as tratativas sobre a aplicação e a lavagem de dinheiro do tráfico. Esse rastreamento começou após a mulher ser presa com mais de 40 kg de drogas em Itaquaquecetuba.
São diversas comunicações rastreadas. Nessa, de acordo com a polícia civil, a suspeita fala com Décio, outro chefão do PCC, em português. Após deixar a penitenciária, o faccionado buscava retomar os aliados e procurou a interlocutora.
As cartas eram repassadas aos integrantes do grupo por aplicativos de mensagens. Em uma delas, a suspeita diz: “seu amigo mandou uma cartinha para você”. Quem recebe as orientações é o responsável pela venda de drogas.
Em um dos recados, Manzini chega a citar uma movimentação inesperada dentro da cadeia e fala em um decreto de morte, que seria a consequência da disputa entra Andinho e Marcos Camacho, o Marcola.
Somente este inquérito aponta 32 investigados. Entre eles, empresários, advogados e políticos. A denúncia diz que banco do crime esquentava o dinheiro oriundo do tráfico e realizava investimentos. Em cinco anos, foram mais de R$ 600 milhões, mas o esquema movimentou mais de R$ 8 bi. Entre as aplicações, estão financiamentos de campanhas de candidatos ao cargo de vereador nas eleições deste ano.
A estrutura política era coordenada pelo primo de Mazini e operador da instituição financeira. No curso da investigação, foram identificadas as cidades chave para o PCC se infiltrar no poder. Santo André, Mogi das Cruzes e Ubatuba, municípios do interior, também foram colocados em jogo.
Os áudios captados revelam que, além da mulher do chefão, advogados participavam das articulações.