A empresária Anne Cipriano Frigo foi à sede do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Polícia Civil de São Paulo), em São Paulo, para prestar depoimento na tarde desta quarta-feira (30) sobre o assassinato do companheiro, Vitor Lúcio Jacinto. No local, ela negou envolvimento com a morte. As informações são do Brasil Urgente.
Anne chegou ao local por volta das 15h. Os delegados no local conversaram com a defesa da empresária, que adiantaram a versão da inocência. A Polícia Civil, no entanto, se dispôs a confrontar a suspeita com provas. Ela foi presa na terça-feira (29).
Também preso na véspera, o corretor Carlos Alex Ribeiro de Souza confessou o assassinato de Vitor e afirmou que receberia R$ 200 mil de Anne pelo crime. Carlos era funcionário do casal e não tinha passagens policiais.
Os policiais realizam mais diligências na tarde desta quarta-feira em busca de provas. Segundo Fábio Pinheiro Lopes, delegado-diretor do DHPP, “a gente tem certeza do envolvimento dela”.
“Ela está negando, e a gente acha que é tudo tese de defesa. A gente acha que é tese do advogado. Ela está bem assistida, com advogado renomado, e veio com essa tese de defesa. Está falando que tudo partiu do próprio Carlos, que ele que matou”, disse Lopes.
O delegado informou ainda que Anne e Carlos “fizeram várias coisas” para simular que Vitor estava vivo. O crime foi cometido em 16 de junho, mas Anne – que completou 46 anos no dia 19 – recebeu uma caixa de chocolates em nome de Vitor como presente de aniversário. No dia, ela celebrou a data ao lado de amigas em um almoço e em um jantar.
“Ela quem deu a senha do celular do Vitor para o Carlos para eles ficarem mantendo esse tipo de contato”, disse o delegado do DHPP.
O acordo pelo crime incluiria o pagamento de R$ 200 mil a Carlos – que deverá ser novamente ouvido pela Polícia Civil na quinta-feira (1º). Anne confirmou que pagaria o valor ao funcionário, mas por outros motivos.
“Era de um dossiê que ela tinha encomendado de um ex-marido”, diz o delegado do DHPP. “Só que o Carlos diz que não recebeu.”
Registro do crime
Imagens exclusivas obtidas pelo Brasil Urgente mostram Carlos Alex Ribeiro Ribeiro de Souza entrando sozinho em um condomínio de luxo em Santana de Parnaíba, região metropolitana de São Paulo, em 16 de junho. Dentro do carro, ele sorri.
Vídeo: Veja as imagens exclusivas de Carlos e Vitor
Mais tarde, o corretor estaciona diante da casa do amigo e sócio Vitor Lúcio Jacinto. Por fim, a câmera não mostra a entrada de Vitor no carro, mas os dois aparecem juntos na cancela de saída do condomínio.
“O Vitor saiu junto com o Carlos. O Carlos disse que tinha um imóvel para eles verem, que ele (Vitor) poderia comprar ou vender. Ele saiu com o pretexto de trabalho”, disse o delegado Fabio Pinheiro Lopes.
A gravação foi registrada em um condomínio de casas de alto padrão, onde Anne Frigo alugou uma casa a pedido de Vitor por R$ 32 mil mensais. Vitor e Carlos saíram de lá e seguiram pela rodovia Castelo Branco. O assassinato aconteceu com o carro em movimento.
No depoimento à Polícia, Carlos deu todos os detalhes de como convenceu Vitor a entrar no carro e sair com ele, e como cometeu o assassinato. Carlos estava ao volante dirigindo o veículo, em alta velocidade, e se aproveitou do momento em que Vitor ficou distraído.
No banco do passageiro, Vitor pegou o celular e projetou o corpo para baixo para mandar mensagens. Carlos então pegou a arma escondida na cintura e deu um disparo com a arma encontrada nas costas da vítima. O tiro entrou por trás e saiu pelo peito.
“Segundo consta, ele faleceu quase instantaneamente. Ele deitou o banco do carro e trouxe até a região da represa de Guarapiranga (zona sul de São Paulo), que é caminho para a casa dele. Pegou um local da represa, deixou o corpo lá, tentou pôr fogo no corpo, queimou até umas partes do corpo, e abandonou lá”, descreveu o delegado.
Ciúmes
O corpo foi encontrado no dia 18 de junho, quando o desaparecimento nem sequer havia sido registrado, e identificado em seguida. Segundo o depoimento de Carlos ao DHPP, a motivação do crime foi uma crise de ciúmes de Anne.
“Pelo que consta até agora, a motivação é passional”, informou o delegado. “(Carlos) diz que ela tinha um ciúmes exacerbado dele. Ela sempre estava quebrando o celular deles por ciúmes”, acrescentou.
No depoimento, segundo Fábio Pinheiro Lopes, Carlos disse que Vitor havia traído Anne – que, por sua vez, reclamava que ela gastava muito do dinheiro do casal.
“Isso quem falou para nós foi o Carlos. O Carlos disse que o motivo pelo qual ele cometeu esse crime, o motivo pelo qual ela pediu para ele praticar esse crime, foi porque ela estava sendo traída e chantageada por ele, que ele gastava o dinheiro dela”, afirmou o policial civil. “Ela não fala nada (sobre traição). Nesse ponto, ela não fala nada”, acrescentou.
Lopes ainda afirmou que a suspeita adotou uma postura “extremamente fria” desde que foi presa. “Está dando todos os sinais de que ela é culpada e que o Carlos só falou a verdade”, analisou.
Vida de luxo
O apartamento de 700 m² em Moema, zona sul de São Paulo, onde Anne Cipriano Frigo morava antes de ser presa, é avaliado em R$ 20 milhões.
No prédio, cercado por seguranças, a empresária tinha uma vida reservada. Ela foi casada com um empresário dono de construtoras, mas há quatro anos vivia uma união estável com Vitor Lúcio Jacinto. Os dois se tratavam como marido e mulher.
O atual companheiro passava parte da semana na casa alugada em Alphaville, entre Santana de Parnaíba e Barueri. O aluguel era pago por Anne para que o corretor de imóveis tivesse esse conforto, já que atuava na região.
Até outubro de 2019, Anne morava com os dois filhos menores de idade, mas perdeu a guarda das crianças. A polícia ainda não esclareceu quais foram os motivos.
Na época, em uma publicação no Facebook, Anne escreveu sobre o assunto. “Esse é o meu mundo. Mas tiram de mim na força. Por que tem que ser assim?”, questionou.
A empresária bem-sucedida atua em diversos negócios: gestão e administração imobiliária, investimentos, madeireira, comércio de papéis e embalagens, produtos de informática e maquinários industriais.
Além disso, Anne também foi co-fundadora e sócia-proprietária do Museu da Imaginação, em São Paulo, durante três anos. Mas, segundo a assessoria de imprensa, não faz mais parte da instituição desde dezembro de 2020.
Seu último investimento foi a compra de um terreno. “Ela comprou agora um terreno muito caro. Pagou, segundo ele (Carlos), R$ 9 milhões em um terreno. Quem vendeu, quem fez a corretagem, foi o Carlos”, afirmou o delegado.
Anne sempre teve uma vida de luxo. Quando completou 40 anos, fez uma grande festa que contou com a apresentação da banda Jota Quest. Além disso, viajava o mundo acompanhada da família.
O atual companheiro de Anne também se beneficiava dessa vida luxuosa. Os últimos presentes que ela deu ao companheiro custaram muito dinheiro. Entre eles, uma bicicleta avaliada em R$ 120 mil e um Porsche Carrera vermelho cotado em R$ 2 milhões.
Mas a vida luxuosa que Anne tinha ficou para trás. Desde a terça-feira (29), ela tem dormido em uma cela fria e sem nenhum tipo de conforto na carceragem da 89ª DP no Morumbi, zona sul da capital paulista, onde cumpre prisão temporária de 30 dias.
A Polícia Civil deve concluir a investigação desse prazo e pedir que ela e Carlos fiquem na cadeia até o julgamento. Para os investigadores, não há dúvidas de que a empresária é a mandante da morte de Vitor.
Levada na terça-feira ao DHPP, Anne ficou inicialmente em silêncio. Depois de passar a noite da delegacia, conversou com os advogados e resolveu falar. Então, foi levada novamente ao DHPP.
“Ouvimos que tanto Carlos quanto Anne”, disse a delegada Magali Celeghin Vaz, que acredita na participação de ambos no crime. “Eles começaram a utilizar o telefone do Vitor como se fosse o Vitor falando, mas o Vitor já estava morto. Ela está bem abalada diante dessa descoberta, tanto ela quanto o Carlos. Ambos estão bem abalados.”
Carlos negou paixão por Anne
Carlos Alex Ribeiro de Souza é casado e tem filhos. Apesar disso, a Polícia chegou a acredita que Carlos estivesse apaixonado por Anne.
“Tanto é que eu fiz essa pergunta para ele”, disse o delegado Lopes, do DHPP. “Ele falou: ‘Pelo amor de Deus, sou casado, foi só por dinheiro’.”
Carlos morava na zona sul de São Paulo, perto do local onde descartou o corpo de Vitor. Trata-se uma área de mata. Depois de encontrar uma trilha, ele se embrenhou pelo local.
Vitor tinha o corpo queimado do peito para cima e também nos pés. O genital também se queimou parcialmente, mas por acidente – Carlos informou que tentou incendiar o corpo integralmente e jogou combustível sem critério na vítima.
Moradores da região, posteriormente, encontraram o corpo.