O Brasil chega a 300.685 mortos pela Covid-19 e 12.220.011 infectados pouco depois de 1 ano do início da pandemia. O país registrou 2.009 óbitos e 89.992 novos casos nas últimas 24 horas. Os dados são do Ministério da Saúde. A triste marca é atingida no dia da posse do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Queiroga foi nomeado para tentar abafar as críticas ao general Eduardo Pazuello, mas no primeiro dia de sua gestão ele já enfrenta problemas com o sistema de notificação de óbitos. Uma mudança que burocratizou a contabilidade provocou uma falha e o número de mortes despencou artificialmente. Com a nova contabilidade, o número de óbitos no estado de São Paulo, por exemplo, foi de 1.021 na terça para 281 nas últimas 24 horas. O ministro mostrou surpresa com a falha em sua primeira coletiva de imprensa e disse que a mudança nos registros não foi pedida por ele.
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os estados com o maior números de vítimas fatais e contaminados. O Brasil está há quase três semanas como o país com mais mortes diárias. Um a cada cinco mortos pelo coronavírus é brasileiro. O país tem o 31º dia consecutivo de média móvel em elevação.
Agora são 24 Estados e o Distrito Federal que tem acima de 80% dos leitos de UTI ocupados.
Em todo o Brasil, cerca de 12,8 milhões de pessoas já tomaram ao menos a primeira dose da vacina, de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa - número que representa apenas 6,04% da população brasileira.
País teve 4 ministros e muito desencontro no combate ao coronavírus
A pandemia começou com uma comunicação eficiente do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). O ex-deputado, que é médico, virou figura notória com as coletivas diárias usando o colete do SUS e com um discurso apaziguador, que pretendia evitar o pânico. O crescimento de sua popularidade irritou o presidente e, depois de um processo de fritura, ele foi demitido.
O oncologista Nelson Teich substituiu Mandetta, mas ficou menos de um mês no cargo. Ele se recusou a assinar um protocolo que recomendava o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina, remédios com ineficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, e resolveu sair. O legado de Teich foi o acordo para a compra da vacina de Oxford/AstraZeneca.
O Ministério da Saúde ficou sem mandatário por um tempo, com Pazuello como interino, até que Bolsonaro decidiu efetivá-lo.
A gestão de Pazuello foi marcada por polêmicas e falhas. Quando ele ainda era interino, os números diários das mortes sumiram do site do Ministério e os critérios de divulgação foram alterados. O general da ativa também atendeu os desejos do presidente de recomendação da cloroquina e foi criado e distribuído aos estados o chamado "kit covid". Ele também criou um aplicativo que recomendava remédios sem eficácia para tratamento da Covid-19, mesmo para sintomas diferentes daqueles da doença. O app foi retirado do ar após críticas e Pazuello disse que se tratava de erro de um servidor.
Ele tentou fechar uma parceria com o Instituto Butantan para comprar vacinas desenvolvidas pela empresa chinesa Sinovac. Bolsonaro cancelou o acordo em 2020 do que ele chamava de "vacina do Doria" e "vacina chinesa". O contrato só seria assinado oficialmente em janeiro de 2021 após pressões por falta de imunizantes.
O ex-ministro ainda teve que se explicar sobre milhões de testes para o coronavírus parados em um estoque do Ministério da Saúde em Guarulhos, perto do vencimento, quando o país necessitava de aumento nas testagens.
Antes de ser demitido, Pazuello ainda passou por mais duas crises. A primeira foi a de oxigênio no Amazonas. Sem cilindros para o gás hospitalar dezenas de pessoas morreram por falta de ar em Manaus. Mais recentemente, o ex-ministro viu diversos estados reclamarem de escassez de sedativos para a intubação de pacientes. Santa Catarina disse que estava diluindo o produto.
Um presidente negacionista
Durante toda a pandemia, Bolsonaro minimizou os efeitos do coronavírus e foi contra as medidas de proteção. O presidente provocou com frequência aglomerações e foi constantemente visto sem máscara, mesmo quando a proteção já era recomendada até pelo seu Ministério da Saúde.
Bolsonaro chamou a doença de gripezinha e resfriadinho, questionou os números de mortes e criticou medidas restritivas como o fechamento de comércio não essencial e o toque de recolher, iniciando um debate sobre salvação da economia em detrimento do que chamava de casualidades do coronavírus.
Ele também promoveu o uso de diversos medicamentos sem eficácia comprovada e até hoje defende o uso "fora da bula". Mesmo após a mudança de postura em relação às vacinas e a criação de um pacto nacional, o presidente segue falando em tratamento precoce.
Na última terça-feira, o Brasil viveu seu pior dia desde o início da pandemia e registrou 3.251 mortos em 24 horas.